No primeiro dia da 5ª Missão Técnica Semesp ao Canadá – que acontece de 17 a 25 de maio – os cerca de 40 gestores de instituições de ensino superior brasileiras participaram de uma palestra via Skype com Jaqueline Aguilar, responsável pela área de educação no Consulado Canadense em São Paulo, que deu as boas-vindas aos visitantes e comentou sobre o relacionamento entre instituições de ensino superior do Brasil e do Canadá, intercâmbio de estudantes entre os dois países e mostrou dados do programa Ciência Sem Fronteiras.

A segunda palestra, “Ensino Superior Canadense no século 21”, proferida pelo professor Glen A. Jones, do Ontario Institute for Studies in Education – University of Toronto (Universidade de Toronto), possibilitou aos participantes uma imersão na história das reformas e tendências do ensino superior canadense, como também forneceu uma visão geral e atual de sua estrutura e organização. 

Para Glen Jones, a chave do sucesso do ensino superior canadense deve-se ao fato do “sistema ser fortemente estruturado, com altas taxas de participação de toda cadeia do ensino superior, grande produtividade em pesquisa, além de universidades altamente classificadas no Top 500 das melhores do mundo.”

Segundo o professor, outros fatores contribuem para a eficiência do ensino superior no Canadá, entre elas, não ter nenhuma política específica nacional de ensino superior, transferindo as responsabilidades para as províncias canadenses, que contam com conselhos federais que controlam os financiamentos estudantis concedidos aos estudantes e auxiliam os mesmos em atividades culturais.

Bem diferente do sistema de ensino brasileiro, no Canadá há um alto grau de controle financeiro desses conselhos federais por meio de constantes prestações de contas de todas as concessões e financiamentos estudantis. “O grau de concessão para cada IES depende da estrutura de cada província e dos níveis de participação e acesso das universidades que estão fortemente sindicalizadas, protegidas por associações de professores e com grande liberdade acadêmica para tratar de todos os assuntos que lhes dizem respeito”, disse Jones.

No entanto, segundo ele, o que as distinguem entre si é que muitas corporações são privadas e sem fins lucrativos e cada uma delas tem uma legislação distinta, sendo a maioria delas bicameral, representadas por um Conselho e um Senado, além de uma estrutura que separa o governo da administração e um presidente que é nomeado por um conselho de administração e funciona como o chefe executivo.

Já as faculdades comunitárias canandenses têm uma forma institucional que varia de acordo com cada província e são regulamentadas pelo governo e menos autônomas que as universidades e grandes corporações de ensino superior. Essas instituições, em sua maioria, tem educação profissional e costumam fazer  arranjos híbridos.

Ainda, segundo Jones, hoje as IES canadenses passam por várias mudanças em seus processos políticos e educacionais. Na análise apresentada por ele da Universidade de Toronto, com sede em Ontário, os fatores que estão em pauta são:

1-    Foco na qualidade, prestação de contas, principais indicadores de desempenho de resultados, auditoria e revisão da graduação;

2-    Equilibrar interesses públicos e privados no ensino superior, evitar  propinas, incentivar as famílias a poupar e parcerias com indústrias, aumentar o apoio público para a expansão, em províncias selecionadas, em pesquisas.

3-   Comercializar conhecimento por meio de instituições de ensino superior atuando como atores centrais do processo;

4-    Apoiar e impulsionar o investimento privado, maximizando o apoio à doação, à expansão do programa e ao aumento da concorrência (fundos,  rankings, prestígio e quota de mercado)

5-    Aumentar o acesso e as taxas de participação (70% de meta);

6-    Aumentar o acesso a grupos específicos, como aborígene, alunos com deficiência, entre outros;

7-    Experimentar parcerias com faculdades e universidades regionais;

8-    Facilitar a transferência de aluno entre instituições e setores, dar maior mobilidade dos estudantes e crescimento de acordos de articulação.

9-    Internacionalização, maior apoio governamental para a mobilidade estudantil e interesse no recrutamento de estudantes internacionais (para geração de receita). O Canadá tem cerca de 4% do mercado internacional (cerca de metade da China), sem qualquer política nacional.