Artigo: Paulo Antonio Gomes Cardim, membro nato do Conselho da Presidência do Semesp e reitor da Belas Artes

O Semesp realizou, nos dias 25 e 26, o 16º FNESP, sob o tema geral “Organizações sustentáveis e os desafios de (re)pensar a educação superior”. Um dos temas foi a “Sustentabilidade e gestão da IES: estamos na 3ª onda do ensino superior?”, que teve a coordenação do prof. Sidney Ferreira Leite, pró-reitor acadêmico do nosso Centro Universitário, e a participação dos professores Maurício Garcia, da DeVry Brasil, e Leonardo B. Gonçalves, diretor de planejamento estratégico do Grupo Kaplan (EUA).

O evento contou com a participação de especialistas em políticas, diretrizes e ações criativas e inovadoras no campo da educação superior, em diversos países, com destaque para Paulo Blikstein, um professor brasileiro que atua na Escola de Educação e dirige o Transfomative Learning Technologies Lab da Universidade de Stanford (EUA).

O prof. Sidney Ferreira Leite iniciou a sua fala citando Pedro Augusto Gomes Cardim, fundador da Belas Artes, em 1925: “Belas Artes deve ser um lugar onde as pessoas irão desenvolver suas habilidades naturais para se tornarem criadores”.  E afirmou: “Passaram-se 89 anos e agora Belas Artes é considerada uma referência para as instituições brasileiras focadas nas Indústrias Criativas e traduz esse posicionamento em preocupação constante com os temas relativos a sustentabilidade e gestão”, desenvolvendo, a seguir,  o tema de forma objetiva e competente, a partir de sua experiência em nosso Centro Universitário Belas Artes de São Paulo:

Nessa senda, gostaríamos de inicialmente dizer algumas palavras sobre a nossa percepção sobre temas e aspectos tão fulcrais para o ensino privado em nosso país.

A ideia do Brasil como o país do futuro, marca de forma atávica e indelével, os nossos compromissos com a modernidade e as complexidades do mundo contemporâneo. Ouso arriscar e afirmar que não cumprimos boa parte de tais compromissos. Essa é a realidade com a qual nos deparamos no presente. Em outras palavras, o planejamento e as táticas são articulados, concomitantemente, isto é, na condição de gestores educacionais do Ensino Superior, precisamos muitas vezes consertar o defeito do avião durante o voo.

De fato, pode-se detectar com certa segurança: o futuro chegou. Essa constatação indica cenários complexos para as Instituições de Ensino Superior, brasileiras. Sim, como a plateia pode observar, acabamos de responder à questão que está contida no título da 3ª sessão dos 16ª FNESP.

Estamos na 3ª onda do ensino superior. A trajetória de tal onda é de difícil previsão; lembremos que as ondas surgem gigantescas no horizonte, mas a medida que se aproximam da praia, perdem força, quando se chocam com a areia se transforam em espuma.

Mas, sob os mais diferentes e variados aspectos, vivemos a era da diversificação. Nessa, todos estão apreendendo e ensinando: professores, alunos e sociedade. Bem-vindos ao Admirável Mundo Novo. Vivemos a transição da Era dos Extremos para o Mundo pró-americano. Os cenários prospectivos não são convidativos. Demanda massiva grande competição; demanda por responsabilidade e transparência. Demanda por mudanças, oportunidades de trabalho e produção.

Vamos aprofundar a nossa reflexão sobre um aspecto da realidade das nossas instituições de ensino, as matrizes dos cursos de graduação, por exemplo, estão abandonando a Bastilha da razão humana estritamente acadêmica e incorporando diferentes variáveis do mundo real: estudantes, mercado, governos, consumidores, cenário internacional, etc.

Fato que provoca certa apreensão, pois, tudo isso parece nos pegar de surpresa. Perguntas básicas são colocadas em série: Por que mudar? O que mudar? Como mudar? Quais as habilidades e competências a serem privilegiadas? Os desafios estão em todos os lados: relevância do conhecimento a ser não apenas ensinado, mas assimilado, estudantes de fato interessados e comprometidos; qualidade e capacidade para inovar; gestão da própria liderança e construção e/ou manutenção da competitividade.

Urge sublinhar que estamos falando apenas de um aspecto do nosso cotidiano, como gestores do ensino superior, mas de uma tarefa que não podemos delegar, cabe-nos construí-la e reconstruí-la com os atores da nossa IES.

Ficaríamos até amanhã falando de outro aspecto central: os processos de ensino e aprendizagem que parecem em rota de colisão cognitiva com as novas tecnologias. Detectamos a valorização do ensino de graduação e a ênfase nas competências, sempre sob o fogo concêntrico de avaliações, algumas vezes inquisitoriais.

De fato, está no ar como um éter estruturante a convicção que chegou a hora de empreender mudanças e identificar novos rumos, possibilidades e levar a cabo ações que requerem criatividade e inovação.

Além das avaliações institucionais que estão semanalmente a nos intoxicar com o seu universo próprio e kafikaniano de portarias, portarias e mais portarias teimam em confrontar a temível realidade, inimiga número 1 dos seus autores.

Para esses, a realidade parece ser apenas um detalhe e, como tal não precisa ser enfrentada.

A rigor, como gestores, o nosso sentimento muitas vezes parecem com personagens do filme de Glauber Rocha, Terra em Transe. O tempo passou a ser a variável mais importante desse futuro que se tornou presente. O lema é tudo ao mesmo tempo e agora. Como planejar e navegar nas águas tranquilas do oceano azul?

Nesse contexto, informo que o Centro Universitário Belas Artes está desenvolvendo, há cinco anos, um sólido e amplo projeto de redesenho dos seus processos de ensino e aprendizagem. A fonte de estímulo é a hipótese de Oceano Azul, cujos principais pressupostos são a inovação e o fortalecimento da identidade institucional. Posicionando a Belas Artes, como dito acima, referência na área das indústrias criativas.

As mudanças em tais projetos foram elaboradas a partir do eixo assimétrico da inovação e do eixo simétrico da identidade institucional e das vicissitudes da sociedade contemporânea. É a Belas Artes navegando no Oceano Azul. Quais as lições apreendidas e que podem contribuir para as reflexões desencadeadas nessa sessão?  Vamos identificar, na companhia e inspiração do professor Geraldo Moisés Martins, concepções de gestão que parecem mais apropriadas para esse momento de 3a Onda.

A principal premissa é: as organizações de ensino superior precisam movimentar as ideias de inovação e traduzi-las em práticas de gestão – :

  1. 1.      Dimensão institucional – fixar metas e avaliar resultados.
  2. 2.      Planejamento – deve ser elaborado com base em avalições prospectivas do comportamento de variáveis e no conhecimento das demandas reais da sociedade.
  3. 3.      Gestão – estratégica favorável às inovações e aberta às mudanças. Orientação para o futuro/presente e disposta a correr riscos, centrada nos resultados, transparência e comportamento ético, descentralização da gestão. Todavia, vale a máxima: delegue, mas verifique.
  4. 4.      Internacionalização – disposição para enfrentar e ajustar-se aos desafios da abertura externa explorando criativamente suas forças e potencialidade institucionais
  5. 5.      A estrutura gerencial – deve ser horizontal, em rede, flexível e sistêmica. Nesse campo a palavra de ordem deve ser estrutura gerencial conectada.
  6. 6.      Cultura organizacional – inovadora, empreendedora, dinâmica: eficaz e eficiente.
  7. 7.      Missão – definidora da identidade e da marca da organização, forte reconhecimento externo e amada internamente pelos docentes e estudantes.
  8. 8.      Financiamento – diversificado, com ênfase na geração de receitas próprias para a cobertura e obtenção de superávits adicionais.
  9. 9.      Retenção de alunos – esclareça quem você é; preço e auxílio financeiro; tenha um rigoroso sistema de informações e pesquisa; faça o planejamento estético; organização colaborativa (organicidade).
  10. 10.   Recrutamento de pessoal – descobrir e reter talentos, para tal, os critérios de admissão devem ser a competência inovadora e a capacidade de responder aos desafios e de encontrar soluções para os problemas. Como diz o nosso Reitor Paulo Gomes Cardim: “Se você me apresenta um problema e não traz uma solução, você também faz parte do problema”.

As estratégias, portanto devem ser focadas para a inovação e a busca da melhoria contínua. Diante do exposto, relembro e vou adaptar ao nosso contexto duas frases clássicas do falecido presidente norte-americano John F. Kennedy: como gestor, não pergunte o que a sua instituição de ensino pode fazer por você, o que você pode fazer por ela e, em relação ao futuro que se tornou coetâneo: “quanto mais aumenta o nosso conhecimento do presente/futuro, mais evidente fica a nossa ignorância”.¨