A inclusão da iniciação científica no currículo é importante para um curso desenvolver as habilidades de seus estudantes

Por Cleide Nébias

 

Os grandes transformações no mundo contemporâneo, associadas à velocidade com que novos conhecimentos são produzidos e transformados em inovações, provocam questionamentos e discussões sobre o papel da educação. Os alunos de hoje têm acesso a tantas informações e bens culturais que conhecimentos adquiridos na escola representam uma pequena parte do que vão obter durante a vida.

Em decorrência disso, o ensino superior enfrenta desafios para conseguir atender melhor a formação acadêmica de seus estudantes. Um dos principais é tornar os currículos dos cursos mais flexíveis, com aulas mais instigantes, que estimulem a prática de estudo independente, a responsabilidade e a autonomia intelectual e profissional dos alunos. Por isso, a iniciação científica precisa ser incluída nas grades curriculares, e também por se tratar de uma forma de aprendizado que estimula a inserção dos estudantes da graduação na investigação.

Pesquisar um tema de forma sistemática, sob a orientação de um professor pesquisador, é de extremo valor. Valor que pode ser atribuído a duas situações: a do desejo de se tornar um futuro pesquisador ou a necessidade de pesquisar para manter-se atualizado. No primeiro caso, trata-se da pesquisa no sentido stricto. No segundo, lato. No sentido stricto, a investigação durante a graduação pode estimular os estudantes que pretendem desenvolver uma carreira acadêmica a produzir novos conhecimentos, publicações significativas e, dessa maneira, contribuírem no campo de pesquisa a que se dedicarão.

Já no sentido lato, que se aplica à maioria dos nossos alunos, a iniciação científica deve oferecer ferramentas para torná-los melhores profissionais. Deve contribuir para que eles se atualizem, fiquem mais curiosos e questionadores de suas práticas e coloquem em dúvida as respostas habituais. A iniciação científica deve instrumentá-los a selecionar o que é confiável e adequado para aperfeiçoar ou redirecionar o seu trabalho.

As atividades de iniciação científica, por mais variadas que sejam, constituem-se em estudos exploratórios para o estudante. As instituições de ensino superior que oferecerem a participação em um projeto de pesquisa estarão cumprindo um importante papel na formação acadêmica e na futura atividade profissional deles.

Entretanto, as possibilidades apontadas exigem habilidades básicas imprescindíveis, como ler e interpretar, selecionar ideias principais de obras literárias, fazer anotações para posteriormente elaborar o texto, dar autoria às paráfrases etc. E, uma vez que a internet é hoje uma fonte variada e imediata de informações científicas, devem também dominar as formas de buscas on-line. Contudo, em boa parte dos estudantes do ensino superior de hoje se observa a ausência dessas habilidades leitoras e o tempo que dedicam à internet é para as redes sociais ou buscas lúdicas.

Foi noticiado que 38% dos estudantes do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), elaborado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. As instituições defrontam-se, assim, com outro grande desafio. Se de um lado elas valorizam a implantação de políticas para a iniciação científica na graduação, de outro, precisam superar o descompasso de alunos que não dominam as habilidades para tal.

Dessa maneira, o papel das instituições de ensino deve ser o de eliminar ou, pelo menos, reduzir esse descompasso e permitir que todos os seus alunos tenham a oportunidade de participar dessa política. Para tanto, é fundamental que o corpo gestor realize um bom diagnóstico das condições de seus ingressantes e trace um programa que os instrumente nas habilidades necessárias.

Algumas sugestões para esse programa são: a) professores das primeiras séries organizarem ações coletivas de leitura, valorizando mais a qualidade da leitura do que a quantidade de textos; b) o envolvimento da biblioteca, elaborando sessões de leitura e orientação de consultas on-line; c) oficinas de leitura que orientem a fazer anotações e resumos; d) realizar a apresentação e comentários de um texto lido pelos estudantes; e) promover a apresentação de bons trabalhos de iniciação científica, com foco em procedimentos de leitura e suas contribuições; f) valorizar a investigação científica incluindo-a nos planos de ensino das disciplinas e em projetos interdisciplinares como componente dos projetos pedagógicos dos cursos, além de se constituir em uma política institucional.

Enfim, as instituições de ensino superior podem atender um pequeno número de alunos interessados na iniciação científica ou elaborar uma política que inclua o maior número de estudantes possível, estimulando a autonomia na pesquisa de sua atualização profissional.