Eric Mazur, da Universidade de Harvard, falou sobre a reconfiguração do minaste organizacional durante o FNESP

Professor da Universidade de Harvard, Eric Mazur participou do 21º FNESP nesta quinta, 26, criticando os modelos tradicionais de avaliação e afirmando que eles afastam os estudantes da realidade do mercado de trabalho. “Há um grande contraste entre a educação que recebemos e o local de trabalho. Na universidade, os estudantes estão focados no conteúdo, no local de trabalho não, o que importa são as habilidades dos profissionais”, explicou.

“A universidade está preocupada com o indivíduo, mas no local de trabalho, as pessoas trabalham em equipe e precisam de habilidades como cooperação”, continuou. “A educação tradicional é passiva, mas os profissionais precisam ser ativos no ambiente de trabalho. Por fim, a universidade está preocupada com o processo de aprendizagem e não com a real solução de problemas, que é importante para o sucesso profissional em todas as atividades”, concluiu.

Criticando a ideia de memorização tão utilizada pelos processos de aprendizagem atual, Mazur afirmou que esses métodos tradicionais onde os professores se preocupam com a transferência de informação e não de conhecimento. “A abordagem de ensino de aula expositiva está ultrapassada. Nela, as notas dos professores é apenas transferida para os cadernos dos alunos sem passar por seus cérebros”, lamentou. “São informações memorizadas, não conhecimento adquirido. Até os estudantes com as melhores intenções são forçados a terem esses hábitos de ensino cujo foco está na realização de uma avaliação que apenas classifica e ranqueia”.

Leandro Karnal abre 21º FNESP defendendo a aprendizagem contínua 

De acordo com Mazur, é preciso que as instituições de ensino se preocupem com a aprendizagem e não com o conteúdo e que as IES abandonem esses testes inautênticos que valorizam a memorização de respostas e não a solução real de problemas da sociedade. “Como testar então nossos alunos?”, perguntou. “Não com provas em que os alunos apenas memorizam sem compreensão dos procedimentos e sem entender o que realmente estão fazendo”, respondeu.

Mazur citou a estrutura de organização hierárquica de objetivos educacionais chamada de taxonomia de Bloom, apontando que, infelizmente, o sistema de educação tradicional está focado nos níveis mais baixos da pirâmide, aqueles ligados à memorização, compreensão e aplicação e não na análise, avaliação, criatividade e inovação, que deveriam ser as metas das universidades.

“As práticas de avaliação adotadas pelas IES desencorajam a resolução de problemas e estigmatizam o fracasso, criando uma aversão ao risco”, pontuou Mazur. “Essas avaliações isolam os indivíduos e os privam de consultas a fontes e informações. Mas nos locais de trabalho as pessoas atuam em conjunto e precisam conversar e pesquisar para realizarem suas tarefas”, refletiu. “As escolas e universidades criam um tipo de ambiente, mas as pessoas nunca vão trabalhar nesse tipo de ambiente. Isso é irreal e uma falácia completa. Precisamos dar acesso à informação e uns aos outros, focar no feedback e não no ranqueamento”.

Segundo Mazur, os sistemas de avaliação tradicional não são capazes de dizer quem será ou não bem sucedido lá na frente, no mercado de trabalho. “Devemos repensar esses métodos de avaliação e começar a aplicar nas salas de aula problemas da vida real, mimetizando situações do mercado de trabalho, incentivando a avaliação por pares e autoavaliação, por exemplo”, citou. “Precisamos entender que o aprendizado não termina quando o estudante recebe o diploma. Na verdade, esse aprendizado está apenas começando quando esse aluno entra no mercado de trabalho”, enfatizou.

Confira a programação completa do 21º FNESP, que acontece nesta quinta e sexta-feira, 26 e 27, no WTC São Paulo.