Especialistas participam do webinar Qual o futuro do EAD?

Os números não mentem e revelam a importância que o EAD está tomando dentro do setor do ensino superior. Na última década, o número de matrículas subiu quase 500%. Atualmente, quase 40% das matrículas do país estão concentradas no ensino a distância. De acordo com o último Censo da Educação Superior, divulgado no final de 2022, a modalidade respondeu por 60% do número de novos ingressantes.

Diante da importância da modalidade e da guerra de preços que coloca em xeque a sua sustentabilidade, o Semesp realizou nesta sexta, 17, o webinar Qual o futuro do EAD?, que reuniu especialistas em educação superior para tentar apontar caminhos para que o ensino a distância siga facilitando o acesso às faculdades sem comprometer a qualidade do aprendizado.

Confira webinar Qual o futuro do EAD? na íntegra

O desafio baixo custo versus qualidade marcou a fala do auditor do TCU, Almir Serra Martins Menezes Neto

Baixo custo x qualidade

O auditor Federal de Controle Externo do TCU, Almir Serra Martins Menezes Neto, foi o primeiro a falar durante o webinar trazendo uma breve perspectiva, do ponto de vista regulatório, sobre a modalidade. Para ele, a modalidade de educação a distância é uma tendência incontornável, especialmente no Brasil, graças às dimensões territoriais e o cenário socioeconômico do país. “Em nosso esforço de democratização do ensino superior, o país precisa atender uma população em municípios pequenos que não contam com equipamentos educacionais presenciais. Dada as dimensões e a interiorização do Brasil, é impossível abrir mão do EAD”, decretou.

“Os dados do Censo da Educação Superior mostram isso, e o EAD vem crescendo de forma irreversível”, prosseguiu o auditor. “A questão que precisamos pensar é como tem se dado esse crescimento, principalmente diante dos avanços tecnológicos que têm possibilitado o enriquecimento dos ambientes de aprendizado”, defendeu lembrando que seu ponto de vista é de alguém que avalia políticas públicas. “É preciso lembrarmos que o modelo de EAD no Brasil se caracteriza pelo baixo custo em relação ao ensino presencial. De um lado, isso é positivo porque permite a democratização do acesso. De outro lado, existe a questão de mercado, com a concorrência levando aos baixos preços. Mas isso gera um desafio de qualidade. Como manter custos baixos com qualidade?”, questionou.

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Helena Sampaio, secretária de Regulação do Ensino Superior do Ministério da Educação, também participou do webinar

Rede pública x rede privada

“O crescimento das matrículas EAD talvez seja um dos principais traços da nova expansão do ensino superior nos últimos anos”, declarou Helena Sampaio, secretária de Regulação do Ensino Superior do Ministério da Educação. “E esse é um fenômeno essencialmente do setor privado, sendo a principal modalidade na oferta de cursos das IES privadas. Então é importante que se faça essa distinção até para pontuarmos melhor os desafios que nos aguardam em termos de avaliação e regulação”, acrescentou.

Helena Sampaio também pontuou sobre a grande concentração de matrículas da modalidade em poucos cursos, com os cinco principais detendo quase 40% do total de alunos EAD. Ela reforçou ainda sobre o perfil desses estudantes, geralmente pessoas mais velhas já inseridas no mercado de trabalho. Para ela, o maior desafio da modalidade é a questão da qualidade do ensino, mas não pode haver uma polarização genérica colocando o presencial contra o EAD. “Nós temos que melhorar nossos indicadores e aproximar as áreas de avaliação e regulação”, avaliou ela lembrando que o MEC está criando quatro grupos de trabalhos para discutir o EAD em três áreas da Saúde (Enfermagem, Psicologia e Odontologia) e nos cursos de Direito.

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O presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Curi, falou no webinar Qual o futuro do EAD?

Demanda x oferta

O presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Curi, finalizou as falas do webinar afirmando estar preocupado com o futuro do EAD. Segundo ele, as instituições de ensino superior precisam reordenar as políticas institucionais curriculares para que a modalidade deixe de lado uma abordagem conteudista para focar em um processo de aprendizado por competências. Outra questão levantada por Curi foi a disparidade entre o estoque de oferta das IES e da real demanda dos estudantes. “São cerca de 16 milhões de vagas EAD ofertadas pelas IES, que, infelizmente, desconsideram a demanda e não possuem políticas institucionais concretas sobre o ensino a distância. Qual o papel das IES no ordenamento da própria oferta?”, perguntou.

Curi destacou também a responsabilidade das IES em relação à formação dos professores, já que os cursos de licenciatura dominam a oferta de vagas EAD. “Na rede privada, por exemplo, cerca de 80% das vagas EAD são destinadas à cursos de licenciatura”, disse. Ele pontuou ainda o problema da evasão, cujas maiores taxas estão na modalidade a distância. “Existe uma defasagem na aprendizagem e na formação graças a uma estrutura curricular conteudista e conservadora, o que impacta no não aproveitamento do diploma no mercado de trabalho”.