O educador social Geisson Silva e a educadora Karen Nunes durante roda de conversa no Conic-Semesp

No período da tarde do primeiro dia do 19º Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic-Semesp), nesta sexta (29), os estudantes presentes na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, puderam acompanhar uma roda de conversa entre a educadora Karen Nunes e o educador social Geisson Silva sobre a questão “Direito à cidade: para quem a cidade é pensada? Um olhar a partir de gênero, raça e classe”. “O que significa uma pessoa morar na periferia?”, começou Karen.

Segundo ela, para responder essa pergunta é preciso levar em consideração uma série de aspectos como transporte público, distância geográfica, segurança, acesso à aparelhos e equipamentos de saúde, educação, cultura etc. “A periferia carece desses serviços que estão relacionados à dignidade humana e isso leva essas pessoas a terem outras vivências e um outro repertório cognitivo e intelectual”, lamentou Karen.

Diversidade e sexualidade no 19º Conic-Semesp

“Para pensar o direito à cidade temos que problematizar aspectos como raça, classe social, gênero, orientação sexual”, afirmou ela, defendendo que apenas políticas públicas não são suficientes para superar essas barreiras. “Temos que pensar ainda na questão do acolhimento. As pessoas da periferia se sentem acolhidas nesses espaços mercantilizados, elitizados e destinados a pessoas historicamente favorecidas?”, pontuou.

Abertura do 19º Conic-Semesp destaca Direitos Humanos

Geisson Silva também levantou a questão. “A gente causa estranhamento quando ocupamos esses espaços e achamos que o problema está com a gente”, pontuou ele. “A cidade está cheia de barreiras e pontes invisíveis construídas a partir de bloqueios sociais e recortes de classe e sexuais, por exemplo”, citou. “O direito à cidade não é um benefício para todos e muitos espaços não podem ser acessados ou não foram pensados para receber as pessoas das periferias. Esse é um desafio que precisa ser discutido e superado”, decretou.

Beatriz Mei e Paulo Reis durante roda de conversa neste sábado (30)

No sábado (30), o 19º Congresso Nacional de Iniciação Científica deu continuidade às discussões levantadas pela roda de conversas sobre direito à cidade. O sociólogo Paulo Reis e a nutricionista Beatriz Mei debateram o tema a partir de suas experiências pessoais e profissionais na periferia. “Essa é uma questão muito sensível para todo mundo e que está relacionada ao conceito de cidadania e de liberdade”, explicou Reis.

“O direito à cidade está relacionado ao acesso e utilização de todos os bens e serviços que uma cidade produz e as possibilidades que as pessoas têm ou não têm de serem quem elas são”, definiu o sociólogo, apontando que essas possibilidades são influenciadas por vários aspectos como classe social, empregabilidade, etnia, gênero, faixa etária etc.”É preciso pensar no direito das pessoas existirem no espaço urbano, se elas são espectadoras ou protagonistas da cidade onde habitam. É necessário parar de pensar a periferia apenas como um espaço de vulnerabilidade e de faltas e devemos entender a cidade como um palco de disputas”, pontuou Paulo Reis.

Para Beatriz Reis, as pessoas vivem em várias cidades diferentes em uma só. Ela discutiu a questão do direito à cidade a partir de uma perspectiva de saúde das famílias que habitam a periferia, reforçando que existem uma série de indicadores que revelam sobre a história e o estado de saúde das pessoas. “A infraestrutura de uma cidade está relacionada diretamente ao adoecimento das pessoas, por exemplo”, avaliou a nutricionista.

“As pessoas que vivem na periferia moram em espaços pequenos, com muitos membros da família ocupando esse mesmo espaço e convivendo com problemas de saneamento básico. Elas possuem trabalhos precarizados e gastam grande parte de seu tempo em deslocamentos”, lembrou apontando que 80% dos empregos em São Paulo estão concentrados na região central enquanto 80% da população vive nas periferias. “Um direito não formal pouco lembrado quando se discute o direito à cidade é a ideia do ‘saber que uma outra cidade existe’, o que proporciona outras possibilidades de viver um espaço de forma diferente”, ponderou.