A estudante de psicologia Mayallu Becker Kieling apresentou o trabalho “Estudo sobre Transexualidade: Foco em Identidades não Binárias e Travestis e sua Inserção no Mercado de Trabalho”

Com o tema “A Pesquisa de mãos dadas com os Direitos Humanos”, o primeiro dia do 19º Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic-Semesp), que aconteceu nesta sexta-feira, 29, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, teve apresentação de trabalhos sobre assuntos que têm gerado polêmica atualmente.

Motivada pelos altos índices de violência e assassinatos de pessoas trans, a estudante de psicologia Mayallu Becker Kieling apresentou o trabalho “Estudo sobre Transexualidade: Foco em Identidades não Binárias e Travestis e sua Inserção no Mercado de Trabalho”.

No mercado de trabalho, principalmente, esse público enfrenta enorme dificuldade de inserção, aceitação e permanência nas atividades diante de barreiras ideológicas e preconceituosas de grande parte dos executivos, explicou Mayallu. De acordo com levantamento da estudante, 85,7% dos homens trans já pensaram em cometer suicídio e 90% das mulheres trans e travestis acabam na prostituição por conta da discriminação no mercado de trabalho.

Abertura do 19º Conic-Semesp destaca Direitos Humanos

“O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT+. Dados mostram que grande parte da população trans não tem suas identidades reconhecidas ou chances de entrar no mercado de trabalho, tendo que recorrer ao mercado da prostituição para sobreviver”, lamentou a estudante. “Meu trabalho aponta algumas das dificuldades que essas pessoas encontram no ambiente de trabalho, como questões que envolvem formas de tratamento, uniformes e até o uso de banheiros, e explica que identidade de gênero, orientação afetivo-sexual, sexo biológico e expressão de gênero são coisas diferentes”.

Outro estudante que abordou tema semelhante, mas dentro de uma perspectiva de gestão de pessoas, foi Everton de Oliveira Maciel, que participa do Conic pela terceira vez. No oitavo semestre do curso de Administração de Empresas, o estudante trouxe o trabalho “O Mercado de Trabalho: Uma análise das narrativas de inserção de pessoas da comunidade LGBT”.

Everton entrevistou pessoas LGBT+ de diferentes faixas de idade para entender suas preocupações em relação à empregabilidade. “Quais são as áreas mais abertas a pessoas LGBT+, como enfermagem ou telecomunicações, por exemplo? Quais são as maiores dificuldades que essas pessoas enfrentam?”, perguntou o estudante. Everton contou que a ideia do trabalho surgiu após ouvir uma conversa de uma pessoa afirmando que preferia não ser atendida por um LGBT+.

Ainda dentro da questão da sexualidade, a estudante do oitavo semestre de Psicologia, Kellen Caroline de Souza, apresentou o trabalho “Oficinas socioeducativas a partir das concepções de professores sobre sexualidade nas escolas”. “Muitos professores não se sentem prontos para falar sobre sexualidade com os estudantes. A partir de entrevistas com professores de Educação Básica e Educação Fundamental II de escolas públicas da zona sul de São Paulo, eu procurei entender quais os mitos, preconceitos e tabus existentes para então sensibilizar esses profissionais a desconstruir um pensamento enraizado de que a sexualidade só existe no âmbito biológico”, explicou Kellen. Como resultado da pesquisa, a estudante começará a oferecer uma oficina sobre a questão para professores de uma dessas escolas a partir de fevereiro de 2020. Entre os temas abordados estão sexualidade feminina e masculina, masturbação, reprodução, concepção e meios anticoncepcionais e diversidade sexual.

Primeiro dia do 19º Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic-Semesp)

O papel do Estado na adoção de crianças refugiadas
Rodolfo Moreira Suyama, estudante de Direito, analisou em seu trabalho, sob a ótica da legalidade, a questão da “Adoção de Crianças Refugiadas Desacompanhadas no Brasil.”.

Embora a adoção de crianças refugiadas seja desaconselhável por princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabelece a “reunião da família”, Suyama chama a atenção sobre o papel do direito brasileiro na atuação em defesa das crianças refugiadas.“A ausência de legislação e mecanismos que viabilizem a adoção de crianças refugiadas desacompanhadas que chegam ao Brasil devem ser alvo de debate no Brasil”, explicou o estudante de Direito. “As crianças refugiadas sofrem perseguições e são vulneráveis ao tráfico de crianças e trabalho infantil, além de violação de seus direitos econômicos, sociais e culturais”, afirmou Suyama. Estima-se que no mundo 65 milhões de pessoas sejam refugiadas.

O 19º Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic-Semesp) continua neste sábado, 30, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, com mais apresentações de trabalhos, rodas de conversas e a divulgação dos trabalhos premiados.