Entre todas as modalidades da pós-graduação, uma em especial pode ser uma grande aposta para o setor particular: o mestrado profissional
Por Amanda Cieglinski
Com foco mais voltado para as demandas do mercado e menos para a pesquisa, o número de mestrados profissionais ainda está muito aquém do total de programas de pós-graduação. Segundo a última atualização da relação de cursos recomendados e reconhecidos pela Capes, no início de agosto de 2012, havia 426 cursos de mestrado profissional, 2.930 mestrados e 1.442 doutorados. Já em 2011, o número de mestrados profissionais era de 329.
Mas enquanto existe uma carência de cursos na modalidade de mestrado profissional, cresce o número de matrículas na especialização. A evolução do número de estudantes de mestrado profissional entre os anos de 1999 e 2011 foi de mais de 100%, passando de 589 para 12.195 discentes matriculados. O crescimento foi gradativo ano após ano com um impulso maior sendo observado no último período – de 2010 a 2011 o aumento no número de alunos foi de cerca de 20% (veja tabela abaixo).
Até então pouco conhecidos – e valorizados – pelo mercado e pelas próprias instituições de ensino, o movimento nos cursos de mestrado profissional é um indicativo de que o nicho se transformou numa aposta acertada. Só neste ano, a Capes autorizou a criação de 59 novos cursos de mestrado profissional. Enquanto isso, foram criados 46 mestrados acadêmicos, 37 doutorados e 12 mestrados/doutorados por recomendação do órgão.
Transição
“As instituições públicas por muito tempo tiveram certo preconceito contra o mestrado profissional e não entraram nesse mercado, o que é um erro”, analisa o diretor-geral acadêmico da Laureate Brasil, Oscar Hipólito. Segundo ele, o mestrado profissional deveria ser mais forte que o acadêmico para atender justamente às demandas de crescimento do país. “Quem quer ir para a academia deve fazer o doutorado. Acho que as instituições deveriam fortalecer os mestrados profissionais; esse é um mercado para a iniciativa privada mesmo”, sugere Hipólito.
Elizabeth Balbachevsky, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), especialista em políticas para o ensino superior, também acredita que mestrado profissional é um nicho interessante para o setor particular, até pela constituição do corpo docente das públicas que em geral valorizam o regime de trabalho de dedicação exclusiva. Com isso, não conseguem atrair professores que tenham atuação mais direta no mercado, perfil docente mais adequado para os mestrados profissionais. “Essa é uma área de formação que no Brasil ainda é muito deficitária. Existe uma lacuna nessa formação que é um pouco superior à especialização lato sensu e mais voltada para o mercado profissional”, diz.
A pesquisadora da USP acredita que a demanda por mestrados profissionais deve aumentar em função do crescimento dos chamados bacharelados interdisciplinares. Esses cursos de graduação com perfil mais geral de formação vão criar uma necessidade de cursos de pós-graduação com características de especialização. “Quando você introduz o bacharelado interdisciplinar você transfere para a pós-graduação o momento de se especializar”, avalia.
Há décadas investindo na pós-graduação, a PUC-Rio tem três programas de mestrado profissional e segundo o coordenador da área, professor Paulo César Duque Estrada, a procura por essa titulação tem sido cada vez maior. “A própria Capes está decidida a dar mais atenção ao mestrado profissional porque vem crescendo a demanda, mas ainda não existe uma política muito clara e bem definida para esse segmento”, avalia Duque Estrada.