Ao longo da 11ª Missão Técnica Internacional do Semesp, visitamos os países de Singapura e Índia e vamos publicar na seção Lições Aprendidas (#liçõesaprendidas) um resumo com as principais discussões apresentadas nas universidades visitadas.

 Nos dias 6 e 7 de maio, os participantes da 11ª  Missão Técnica do Semesp tiveram a oportunidade de acompanhar uma série de atividades na cidade de Bangalore, na Índia.

Confira mais Lições Aprendidas aqui

Visita a NAAC – National Assessment and Accreditation Council

No período da manhã, a Missão Técnica do Sempesp visitou a National Assessment and Accreditation Council (NAAC), agência responsável pela avaliação e acreditação de instituições de ensino superior da Índia, onde a comitiva foi recebida pelo diretor e a equipe técnica.

O prof. Sharma, diretor da NACC, apresentou como se estrutura o Sistema Indiano do Ensino Superior, um dos maiores e que mais cresce no mundo, bem como seus principais agentes e suas características.

O sistema indiano de ensino superior é composto por instituições públicas federais e estaduais que respondem por, aproximadamente, 35% das vagas e por instituições privadas que são responsáveis por 65% da oferta. A participação federal é pequena no sistema público, predominando as instituições estaduais. No sistema privado, não há instituições com finalidade lucrativa, apenas sem fins lucrativos.

A Índia conta com mais de 900 universidades classificadas em diferentes modalidades em função de sua implantação e manutenção (Central Universities, State Universities, Privete Universities, Deemed to be Universities e Intitutions Of National Importance). Possui também outras quase 50 mil instituições de ensino superior que englobam Colleges (afiliados e autônomos) e outras modalidades de instituições independentes. Nas diferentes modalidades de IES, estão quase 40 milhões alunos e cerca de 1,2 milhão de professores.

Apesar de ser um pais com uma população muito grande (1.3 bilhão de habitantes) e de ter muitos problemas sociais, a taxa de alunos de 18 a 23 anos cursando o ensino superior foi de 25,8%, em 2018, bastante superior à brasileira, que esteve próxima dos 18%, em 2017, último ano com índice divulgado.

Predominam na Índia os cursos na área de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemática). Apesar de haver outras áreas de ensino importantes no país (Medicina, outras formações em Ciências da Saúde, formações em Negócios e mesmo de Humanidades), os cursos de tecnologia e engenharias são os que vêm determinando a dinâmica de expansão para o setor.

O foco da educação superior indiana é o ensino, não havendo nenhuma instituição do país no ranking das cem melhores universidades do mundo que leva em conta basicamente a produção de pesquisas.

Segundo o palestrante, a qualidade do ensino ofertado é bastante variada no país, tanto dentro do setor público como no privado, havendo desde instituições de alto padrão até IES de baixa qualidade. Em função desta grande variedade de perfis e padrões de qualidade das instituições, o próprio governo estabeleceu uma agência para avaliação e acreditação das IES indianas.

A ideia é que as IES em funcionamento no país se submetam, voluntariamente, ao processo de acreditação e que recebam a chancela da agência em relação ao seu padrão de qualidade. Tanto que “apenas” 12 mil das IES em funcionamento já passaram por este processo de acreditação oferecido pela NACC.

A acreditação, além de fornecer um diagnóstico para as IES de quais são suas potencialidades e seus desafios, divulga ao público em geral o estágio de qualidade em que estas se encontram. Desta forma, a acreditação acaba por trazer como benefício para as IES, além de maior reputação, a possibilidade de atrair mais recursos e talentos no país e no exterior.

A Dra Vinittha Sahu, assistant adviser da NACC, apresentou a metodologia utilizada pelo processo de acreditação, na qual predominam indicadores qualitativos. O processo de avaliação é bastante amplo e leva em consideração desde o currículo da IES até atributos como governança, liderança e gestão.

A visita trouxe um aprendizado importante sobre a necessidade das IES buscarem mecanismos que permitam mostrar suas qualidades e, desta forma, se diferenciarem dos demais players que atuam no setor. Neste sentido, o caso indiano é bastante interessante ao mostrar que, quanto maior e mais complexo for o sistema, maior deve ser o interesse dos atores de externarem para o público seus atributos.

Visita a Dr. Ambedkar Institute of Tecnology

No período da tarde, a Missão Técnica do Semesp visitou uma importante universidade estadual de Bangalore que oferta cursos graduação, mestrado e doutorado nas áreas de Engenharias, Ciências da Computação e  Negócios. A IES tem um grande reconhecimento pelo mercado local em função da qualidade de seus egressos e de sua produção técnico científica, que já gerou mais de 30 patentes.

A recepção organizada pela universidade para receber a delegação brasileira envolveu os seus dirigentes principais e todo o corpo docente.  Além da apresentação detalhada da universidade e de suas atividades acadêmicas, a visita possibilitou conhecer a estrutura e as instalações  (laboratórios, biblioteca, dormitórios etc.) de uma universidade indiana.

Por fim, a universidade realizou uma divertida confraternização na qual estavam presentes os dirigentes e os professores. Isto possibilitou que a delegação do Semesp mantivesse  contatos individuais com estes profissionais e, desta forma, melhor compreender não só a universidade, mas a cultura desta sociedade complexa.

Foi um aprendizado grande para todo o grupo. Além de entender melhor como funcionam as universidades indianas, a visita chamou muito a atenção dos brasileiros como, mesmo com restrições na infraestrutura material (quando comparada às IES ocidentais), é possível se fazer com bons professores e gestores uma formação acadêmica de alta qualidade, com amplo reconhecimento do mercado de trabalho. Além disso, o contato possibilitou identificar oportunidades em desenvolver projetos em conjunto com a universidade e seus parceiros.

Visita a Wadhwani Foundation

No dia 7 de maio, a Missão Técnica do Semesp visitou a Wadhwani Foundation, uma instituição cuja missão é acelerar o desenvolvimento econômico na Índia e em outras economias por meio da transformação de vidas e criação de empregos de alto valor.  Segundo a visão da fundação, um emprego de alto valor é aquele que é capaz de sustentar uma família de quatro pessoas.

A proposta da fundação é desenvolver talentos para atuarem como empreendedores e, por meio deles, criar ecossistemas empreendedores em regiões de baixa renda ao redor do mundo. No entendimento da instituição, a fonte principal de geração de novos empregos de alto valor no mundo não são as empresas estruturadas, mas as startups.

Neste sentido, eles se propõe a, por meio de parceria com IES de várias partes do mundo, fornecer conteúdos estruturados para  desenvolver competências empreendedoras em alunos destas instituições parceiras.  As IES, por sua vez, se comprometem a incluir os programas em seus currículos, a treinarem professores para aplicarem a metodologia utilizada pelos programas e a difundirem estes programas em suas escolas.

Na ocasião, os participantes da Missão tiveram a oportunidade não só de ouvir a apresentação do CEO da fundação, como de discutir com ele as condições para firmarem a parceria para o desenvolvimento do programa em sua IES no Brasil.

Além disso, o programa para formação de empreendedores e de professores multiplicadores foi apresentado pelos técnicos da Fundação e discutido com os presentes.

Vários dos dirigentes de IES presentes manifestaram o interesse de aderir ao programa, e o Semesp de ser o parceiro da Fundação para capacitar os docentes das IES brasileiras que aderirem ao programa.

Visita a Infosys   

 No período da tarde, a Missão visitou a Infosys, uma das maiores empresas indianas de tecnologia da informação, líder mundial em consultoria de negócios, tecnologia de informação e terceirização. A visita ocorreu no site da empresa de Bangalore, que abriga 20 mil colaboradores da área de tecnologia da informação.

A primeira parte do programa compreendeu uma apresentação realizada por um executivo de desenvolvimento de Recursos Humanos da companhia, que abordou as competências que a empresa requer para seus colaboradores e qual é a estratégia da companhia para capacitar estes profissionais para atuarem neste mercado tão competitivo.

O executivo destacou que a empresa procura profissionais que possuam, além da formação técnica necessárias para atuar no setor, competências para trabalhar em equipe, mentalidade de resolução de problemas e de entender o que o cliente quer. Segundo ele, apesar do sistema educacional indiano ofertar uma quantidade grande de profissionais para atuação no setor, existe uma lacuna de preparação deste alunos nestas competências.

Após apresentação, a empresa promoveu uma visita ao campus onde trabalham os profissionais de Bangalore, que tem padrões semelhantes aos campi das empresas inovadoras do Vale do Silício e que apresentam um acentuado contraste com a realidade urbana de Bangalore.

Um aprendizado importante da visita a Infosys foi entender melhor o que as organizações da economia 4.0 estão demandando dos graduados para inseri-los no mercado de trabalho.

A visita possibilitou também ao grupo entender o círculo virtuoso de crescimento que vive a economia e a educação na Índia.  A indústria de TI cresce, demanda a mão de obra capacitada, que é formada pelo ensino superior indiano, que por sua vez atrai jovens para as carreiras demandadas pela indústria. Este processo fomenta não só a competitividade da indústria como gera boas oportunidades para as IES como para a sociedade como um todo.

Encontro com Mohandas Pai

Durante a noite, o grupo da Missão teve a oportunidade de dialogar com um dos principais executivos indianos e que, atualmente, é gestor de um fundo de investimentos que atua em negócios de educação e tecnologia.

Numa apresentação informal no hotel onde estava a delegação do Semesp, o executivo apresentou um panorama da economia e da educação superior da Índia e da Ásia.  Baseado em muitos dados econômicos, financeiros e sociais da região, Mohandas apresentou uma série informações sobre o contexto local e os desafios e as oportunidades na Índia para os próximos anos.

Na visão do executivo, o modelo indiano de investimento em educação e foco na área STEM deve sustentar o crescimento econômico do país nos próximos anos e tornar a Índia a terceira economia do mundo até 2030, devendo atingir um PIB de US$ 10 tri ao ano.

Além de um grande aprendizado sobre a história e ambiente de negócios na Índia e no mundo asiático, a apresentação possibilitou aprender um pouco sobre como a educação pode ser parte do processo de geração de competitividade em negócios, criação de riqueza, inclusão social e desenvolvimento econômico de um país ou região.