O retorno às aulas presenciais tem desafiado às IES e preocupado o setor. Como essa volta às aulas práticas e laboratoriais vai ser conduzida e impactará no planejamento do segundo semestre tem gerado debates e dúvidas. Para ajudar as IES a enfrentarem essa situação delicada com um pouco mais de confiança e informações, o Semesp realizou nesta quinta e sexta-feiras,  13 e 14 de agosto, o webinar “A Retomada da Sala de Aula: Depoimentos de IES que já se organizaram para voltar às aulas no segundo semestre”.

Ao longo dos dois dias, 10 IES apresentaram cases sobre como está sendo a estruturação, organização e dinâmica da volta às aulas, em especial o uso de laboratórios para atividades presenciais e a adoção de uma metodologia de ensino híbrido. “Nosso objetivo é mostrar exemplos concretos que servirão de base para as instituições que ainda estão construindo os protocolos desse retorno a partir de perspectivas diversas dessa retomada da sala de aula”, disse o diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato durante o webinar. “Diante desse cenário complexo e que envolve custos, é importante que as IES tenham exemplos de que existe sim um desafio grande para todo mundo, mas ele pode ser vencido”.

O diretor de Inovação e Redes do Semesp. Fábio Reis, complementou contando que a ideia do webinar surgiu a partir de discussões em uma das redes do projeto Redes de Cooperação. “As IES estavam vivenciando uma troca de informações sobre o planejamento para o segundo semestre, mostrando as inúmeras possibilidades de redução de custos em um cenário de crise a partir do compartilhamento de dados e experiências”.

Desafios do cenário

A gerente de Educação a Distância do Centro Universitário Faesa, Juliana dos Santos, iniciou as apresentações do primeiro dia de webinar afirmando que um dos desafios da instituição, localizada no Espírito Santo, foi manter um padrão mínimo de qualidade na transição das aulas presenciais para o modelo remoto síncrono. “Mantivemos os três pilares que guiam a instituição [a personalização, tecnologia e experimentação] para acolher nossos alunos oferecendo experiências memoráveis a partir do foco na personalização e nas metodologias ativas, buscando a inovação para manter o engajamento dos estudantes”, avaliou ela.

Para Juliana, o foco principal da Faesa foi fazer um acompanhamento preciso dos estudantes a partir de painéis de gestão e análise preditiva. “Uma das nossas preocupações foi como fazer um acompanhamento dos alunos em mais de 50 mil aulas”, revelou Juliana. “Para isso, desenvolvemos painéis de permanência, com acompanhamentos de aula a aula, verificando a quantidade de acessos às aulas e aos conteúdos postados. Os mais de 800 mil acessos aos conteúdos mostra, por exemplo, o engajamento dos alunos”, pontuou. “Realizamos também uma série de pesquisas entre alunos, coordenadores e professores para mapear os problemas e buscar uma melhoria contínua dos processos a partir de dados reais. Esses procedimentos nos ajudarão a aprimorar nossos planos de captação e de permanência”.

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Rotinas e experiências

O coordenador de Inovação da Toledo Prudente, Leonardo Ribelatto Lepre, contou que a faculdade, localizada em Presidente Prudente, interior de São Paulo, criou uma comissão para construir um projeto para auxiliar professores diante da necessidade de transformar as aulas presenciais em remotas. “Foi desafiador, mas usamos essas novas rotinas e experiências como uma oportunidade para realizar mais ações inovadoras na faculdade”, declarou. “Toda nossa equipe precisou reaprender muita coisa para sermos bem sucedidos nesse desafio de buscar uma presencialidade mesmo com professores e alunos fisicamente distantes”.

Para Leonardo, a transição foi bem sucedida porque a IES buscou oferecer super experiências a partir de dois caminhos, o desenvolvimento do docente por meio de formação contínua, apoio pedagógico e suporte tecnológico, e do acolhimento aos alunos seguindo a adoção de protocolos de aprendizagem significativa, acompanhamento da saúde física e mental do estudante e da elaboração de uma rotina de melhor organização para os alunos em relação às aulas, inclusive, disponibilizando equipamentos.

“Nossa preocupação agora é o que esperar das aulas nesse semestre. A princípio, a prioridade do retorno presencial é das atividades laboratoriais que demandam manuseio de equipamentos físicos, seguindo, claro, os protocolos de segurança”, adiantou Leonardo. “É importante ter em mente que essa realidade ainda irá respingar nos próximos semestres, então estamos olhando para frente a partir das experiências que tivemos para construir, por exemplos, melhores ferramentas de avaliação que apontem um aprendizado real por parte de nossos estudantes”, finalizou.

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Retorno ao ensino presencial

Com cerca de 90% de rematrícula para o segundo semestre de 2020, a UNDB Centro Universitário, localizado em São Luís, no Maranhão, tem acompanhado a trilha de aprendizagem dos alunos e medido a percepção dos mesmos em relação ao aprendizado do ensino remoto. “Nossos professores tiveram 15 dias de recesso e usamos esse tempo para treiná-los guiados pelo planejamento de nossa retomada”, afirmou Fabio Carvalho, gestor de Relacionamento Acadêmico da IES. “Fizemos vários testes de aulas e voltaremos com rodízio de turmas alternadas de dois grupos semana”, detalhou.

Fabio Carvalho contou que a UNDB manterá um sistema híbrido de aulas com aulas online simultâneas. “Os alunos que fizerem parte do grupo de risco continuarão no modelo remoto, já os estudantes que têm problemas de acesso a equipamentos terão prioridade nas aulas presenciais. Nosso retorno será gradual e estamos apostando em um processo contínuo de melhoria com adoção de alguns protocolos como check-in diário em totens e otimização dos atendimentos”, citou. “Queremos, por exemplo, mapear e entender as possíveis ausências dos alunos”.

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Atividades acadêmicas

“Antes mesmo da pandemia, a Unifenas já estava planejando um 2020 de grandes mudanças, com modelos experimentais de ensino híbrido e a implementação da modalidade EaD”, pontou Mário Sérgio, pró-reitor Acadêmico da IES, localizada em Minas Gerais. “Nosso estado ainda não pode voltar com as aulas presenciais, então temos trabalhado um planejamento de retorno a partir de duas variáveis externas: a legislação educacional e o cenário epidemiológico de nosso estado”, pontuou. “São esses dois aspectos que dão suporte ao nosso plano. No momento, temos realizado capacitações e treinamentos com nossos docentes em relação à essa experiência tecnológica e medindo a ansiedade e expectativa deles e dos estudantes diante da nova realidade”.

Segundo Mário Sérgio, uma das preocupação da Unifenas é o fato da IES ter unidades em várias cidades, o que demanda um tratamento diferenciado para cada unidade a partir do cenário local. “Estamos trabalhando na evolução do plano de contingência inicial para um plano de ação de retomada  levando em consideração cenário e legislações diferentes para planejar usando as avaliações e indicadores disponíveis. Nosso plano é ajustável e tem como objetivo criar uma sensação de presença em nossos alunos e docentes. Estamos atentos às necessidades de ambos”, afirmou.

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Flexibilização das práticas pedagógicas

José Sérgio, reitor da UniProjeção, localizada no Distrito Federal, começou sua fala apontando que todas as IES foram pegas de surpresa pela pandemia e tiveram que trabalhar sem planejamento, apelando para a improvisação. “Durante o processo de transição para as aulas remotas não tínhamos a percepção que temos agora”, avaliou.

Segundo ele, além do improviso, a IES enfrentou uma série de problemas como reclamações sobre mensalidades pelo entendimento dos estudantes de que a IES não estava oferecendo o ensino presencial, além da necessidade de realização de treinamentos com os docentes. Outro problema apontado por José Sérgio foi a questão da legislação. “Aqui no Distrito Federal tivemos uma situação muito peculiar graças a uma legislação muito confusa”, lamentou.

“Ainda não temos autorização para funcionarmos de forma presencial, mas já tomamos a decisão de mantermos o ensino remoto, exceto as atividades práticas laboratoriais. “Realizamos uma pesquisa entre nossos alunos e apenas 8% deles querem a volta presencial, então nosso retorno presencial de forma híbrida tem respaldo dos estudantes. Já desenhamos nosso plano de reabertura das unidades com protocolos e responsabilidade de cada setor definidos e desenvolvemos uma cartilha de boas práticas voltada para os colaboradores. Só retornaremos com aulas teóricas presenciais quando tivermos plena certeza de todos estarmos totalmente seguros”, finalizou, encerrando as apresentações do primeiro dia de webinar.

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Sala de aula 4.0

Ricardo Morais Pereira, pró-reitor Acadêmico do Centro Universitário UNIS, com sede em Osasco, São Paulo, iniciou as apresentações do segundo dia do webinar “A Retomada da Sala de Aula: Depoimentos de IES que já se organizaram para voltar às aulas no segundo semestre”. Ele disse que uma das preocupações do centro universitário durante o período de transição das aulas presenciais para as remotas foi entender as dores de seus alunos.

“Nosso estudante ainda mora com os pais e se esforça para pagar a faculdade”, detalhou. “Ele está passando por dificuldades financeiras e se mostra inseguro em relação ao futuro, além de ter tido problemas em relação a esse novo ambiente de aulas online, mas ele continua acreditando que o ensino superior abrirá as portas do mercado de trabalho, aumentando sua empregabilidade”.

Ricardo afirmou que o objetivo da IES é trabalhar para que o segundo semestre seja diferente, mantendo a relevância do ensino superior e buscando inovar nas formas de aprendizado. “Para isso, estamos implementando a Sala de Aula 4.0, que deverá quebrar os paradigmas em relação à transmissão das aulas, tornando-as uma verdadeira experiência para a construção do conhecimento”, explicou. “Queremos trazer nosso aluno para o centro dessa transformação digital e oferecemos ao nosso docente uma capacitação em diferentes módulos divididos em técnicas de transmissão, metodologias de ensino online, ferramentas de colaboração, entre outros, com o objetivo de aprimorar a sinergia entre projetos acadêmicos e de inovação”, citou.

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Cursos de Saúde

Especializado em cursos de Saúde, o Centro Universitário São Camilo, com campi espalhados por São Paulo, detalhou o projeto de retomada a partir das experiências da IES nessa área. O pró-reitor Acadêmico, Carlos Ferrara, explicou que a IES criou dois comitês referentes à pandemia, sendo um deles focado na questão da retomada. “Esse comitê foi o responsável pela criação de protocolos para o retorno gradual das aulas balizados pela legislações determinadas pelos órgãos governamentais, além da elaboração de dois manuais, um para colaboradores e docentes e outro para alunos, com o objetivo de minimizar os riscos de contaminação nas unidades da IES”, afirmou.

“As atividades laboratoriais já retornaram, mas tivemos que adaptá-las para adequá-las aos critérios do Plano de Retomada de São Paulo, com capacidade máxima dos laboratórios reduzida e diminuição de seus horários de funcionamento para seis horas”, detalhou. “Fornecemos EPIs, estabelecemos controle de acesso aos laboratórios e horários para sanitização dos mesmos. Essas atividades são transmitidas ao vivo e também gravadas para posterior acesso”.

Outra característica do retorno foi uma flexibilização por parte da IES, dando ao aluno a possibilidade de volta em um momento posterior com adiamento da conclusão do curso. “Nossa prioridade tem sido as atividades que envolvem alunos em conclusão de curso e aqueles liberados para estágios”, destacou, apontando ainda a implementação de um programa de benefícios emergenciais para os alunos incluindo flexibilização nos acordos, isenção de encargos, manutenção de descontos, rematrículas com débitos financeiros, crédito educativo próprio e bolsa assistencial emergencial.

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Educação mediada pela tecnologia

Localizado na Grande São Paulo, o Instituto Mauá de Tecnologia tem predominância de alunos em cursos de Engenharia. O pró-reitor Acadêmico da IES, Marcelo Nitz, relatou como foi a experiência de transição das aulas presenciais para remotas em cursos que demandam bastante atividades em laboratórios. “Nós já tínhamos uma educação mediada por tecnologia para auxiliar o ensino presencial e um processo de capacitação contínuo dos professores, mas tivemos um grande desafio de migrar de forma tão imediata todos os nossos conteúdos para o modelo remoto”, disse.

De acordo com Nitz, a instituição manteve reuniões constantes com os professores durante o processo de transição, ajudando os que tiveram dificuldades e acolhendo-os emocionalmente a partir de trocas de experiências. Também foi elaborado nessas reuniões um plano de retorno dividido em quatro fases: das atividades práticas com alunos em conclusão de curso e de iniciação científica; atividades práticas laboratoriais, de aprendizagem ativa e, por último, o retorno das aulas teóricas-expositivas.

“Esse é um plano dinâmico que será atualizado de acordo com as novas realidades da pandemia”, adiantou Nitz. “A primeira fase teve início em julho, mediante agendamento de encontros. Agora em agosto, demos início a segunda fase, respeitando, por exemplo, o limite de 35% dos alunos nas atividades laboratoriais. Durante todo esse processo de retorno, estamos intensificando a comunicação, divulgando os protocolos de segurança e preparando nossa infraestrutura para as restrições. Queremos que os alunos saibam que estamos preparados para recebê-los, mas também estamos estudando formas de substituir ou repor as atividades laboratoriais caso os alunos ainda não se sintam seguros para voltar agora”, declarou.

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A transformação do ensino superior

Samira Fortunato, vice-diretora Geral da Faculdade Fecaf, localizada na Grande São Paulo, em Taboão da Serra, relatou um pouco da trajetória da instituição, criada em 2015. “Começamos com poucos cursos e basicamente com salas tradicionais com aulas expositivas”, iniciou. “Já em 2016, lançamos uma parceria com a Google, disponibilizando salas que servem como ambientes para trabalhar metodologias ativas de forma mais adequada”.

Desde então, a IES tem vivenciado um processo de evolução com novos espaços de aprendizagem que têm facilitado a adaptação e a inovação. “Em 2020, fomos surpreendidos com a pandemia e tivemos que nos reinventar, capacitando de forma rápida todos os alunos e professores para a transição do ensino presencial para o remoto. Entre os nossos dilemas, estava como manter a proximidade com os alunos nesse novo modelo, mas descobrimos que as salas virtuais têm funcionado, mesmo com as dificuldades iniciais como problemas de conexão de internet e a necessidade do desenvolvimento de avaliações mais adequadas”, revelou ela.

“Sabemos da necessidade de inovações, estamos trabalhando então na implantação do Projeto de Inovação Acadêmica 3.0, que irá alinhar todos os cursos com as competências necessárias pelo mercado de trabalho atual, possibilitando uma flexibilização dos currículos”, adiantou Samira. “As aulas presenciais nunca mais serão as mesmas, teremos que dar um sentido a elas para que os alunos estejam presentes na instituição. Uma pesquisa entre nossos alunos mostrou que apenas 18% deles querem ter apenas aulas presenciais”.

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Novas oportunidades

Finalizando o segundo dia do webinar, o diretor Acadêmica da FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado, Rogério Massaro Suriani, também contou um pouco sobre a experiência da IES, localizada em São Paulo, diante das dúvidas, incertezas e desinformação geradas pela pandemia nesse primeiro momento. “Fomos forçados a fechar no início de março e nossa primeira preocupação foi fazer uma revisão de nossos modelos acadêmicos para a realidade remota, ampliando a capacitação dos professores e sensibilizando os alunos em relação ao momento delicado”, disse.

Segundo Suriani, a FAAP criou comitês para gestão de crise, principalmente em decorrência de uma série de pedidos de desconto das mensalidades pelos alunos, além das diferentes legislações impostas pelo Ministério da Educação, Procon, governos estadual e municipal. “Nosso segundo desafio foi em relação ao novo processo seletivo. Tivemos uma redução de 40% de efetivação de matrículas de ingressantes para o segundo semestre”, lamentou. “Esses ingressantes não sabem como é o ensino remoto, por exemplo”, avaliou.

Em relação ao retorno das aulas, Rogério Massaro afirmou que a FAAP estudou protocolos de distanciamento existentes em outros países adequando-os à realidade de seus espaços acadêmicos. “Também analisamos nosso quadro de docentes em relação a restrições de idade e de saúde, além de buscar entender as necessidades individuais de cada aluno”, contou. “Retornamos no início de agosto com as atividade práticas e laboratoriais priorizando os últimos semestres. Todas as atividades são agendadas previamente e estamos mantendo rígidos controles de circulação, transferindo atividades de sala de aulas menores para espaços mais livres como saguões, por exemplo”.

A FAAP também decidiu gravar essas aulas práticas, além de transmiti-las via plataformas, intercalando os alunos de turmas. Outra decisão foi fazer medição da temperatura dos alunos. “É importante demonstrar que estamos conscientes de todo o processo se segurança”, decretou. “Já estamos pensando também nas próximas etapas, avaliando as oportunidades criadas pela pandemia, como manter parte da equipe em trabalho remoto, abraçar o ensino híbrido e ampliar o uso de recursos e inovações digitais”, encerrou.