O Censo da Educação Superior 2018, divulgado pelo Ministério da Educação e Inep, nesta quinta (19), mostra que o Brasil avançou muito pouco no ensino superior.
Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior no Brasil, apontou alguns dados que reforçam a análise de estagnação da educação superior:
O crescimento do total de matrículas, que chegou a 3% em 2017, foi de apenas 1,9% em 2018. Em relação aos ingressantes (calouros), em 2017, houve crescimento de 8%; esse crescimento em 2018 foi de 6,8 %.
Mesmo com esse crescimento, o ensino presencial registrou queda de 2%. Já o EaD subiu 17%.
Entretanto, não há muito o que comemorar com o aumento do ensino a distância. Ao mesmo tempo em que as matrículas crescem, a oferta subiu muito mais. O número de pólos de EaD aumentou 118% e o de vagas novas 44,6% de 2017 a 2018. Já a quantidade de instituições que ofertam também subiu 32,9%, e o número de cursos na modalidade EaD registrou aumento de 50,7%. O aumento da oferta foi significativamente superior ao da demanda.
Apesar do número de vagas no EAD ter superado o número de vagas no Presencial, a relação ingressante por vaga foi de apenas 0,2 e 0,5, respectivamente. Isso significa que no EAD as vagas superam as da modalidade presencial, entretanto, com uma ociosidade de 80%, enquanto no presencial a ociosidade chega a 50%.
Outro ponto em relação ao EaD, o maior número de jovens está concentrado no ensino presencial. O EAD absorve alunos mais velhos, que já estão no mercado de trabalho. Isso reforça que continuamos absorvendo pouco dos jovens que saem do ensino médio.
A evasão no EaD também é superior ao presencial, 62,2% e 55,6%, respectivamente.
“O que preocupa é a falta de investimento no presencial, já que a modalidade é a que mais absorve os jovens que acabaram de concluir o ensino médio e que compõem o cálculo da taxa de escolarização líquida”, comenta Capelato.
“O país não pode abrir mão do modelo presencial como estratégia para elevar a taxa de escolarização da população. Mas isso não implica em deixar de lado o ensino a distância. O Brasil precisa acabar com essa divisão entre as modalidades. Todas as instituições credenciadas deveriam estar aptas a oferecer as duas modalidades. Isso melhoraria a diversidade dos cursos e a motivação dos jovens”, explica Capelato.
Cresceu a participação da modalidade EaD no total de alunos novos no ensino superior, de 33,7% em 2017, para 39,9% em 2018. No entanto, considerando o total de matrículas, a modalidade presencial ainda é responsável por 75,7% do total. “O cenário da educação superior não mudou tanto na proporção de matrículas do presencial e EaD.”
Também chama a atenção a concentração de instituições que ofertam EaD. Das 2.537 instituições no Brasil, apenas 14% oferecem EaD, sendo que apenas 6% destas são responsáveis por 80% das matriculas do ensino a distancia.
A realidade dos cursos com mais matrículas nas modalidades presencial e a distância é bem diferente. A maior concentração de cursos de EaD está em Pedagogia e tecnólogos. No presencial, os líderes são Direito, Administração e cursos da área da Saúde.
O índice de evasão do presencial não é muito diferente de outros países. Mas o Brasil precisa urgente retomar a questão do financiamento para que esse número não piore nos próximos anos.
No setor público também não houve muitas mudanças no cenário.