Especialistas da educação superior participam de bate-papo sobre políticas públicas (Foto: Jonathan Nóbrega/Semesp)​

Onde entra a questão das políticas públicas no processo de ressignificação das IES? Com essa pergunta em mente, o FNESP apresentou um bate-papo sobre o tema com a participação de especialistas do setor e do governo federal: António Manuel de Almeida Dia, presidente da Direção da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP); Ulysses Tavares Teixeira, diretor de Avaliação da Educação Superior – INEP; Amábile Pacio, presidente da Câmara de Educação Básica no CNE; Beatriz Eckert-Hoff, diretora-Executiva Acadêmica, de Inovação e de Relações Institucionais da Cruzeiro do Sul Educacional; e José Roberto Covac, Diretor Jurídico do Semesp.

Beatriz Eckert-Hoff deu início às discussões levantando alguns pontos que precisam estar na pauta quando se pensa em ressignificar o ensino superior diante dos avanços tecnológicos, mudanças no perfil dos estudantes e das novas demandas do mercado. “Três pontos são fundamentais: a flexibilização dos modelos acadêmicos, com as microcertificações; uma maior conexão entre a educação superior e a sociedade e o mercado de trabalho; e a valorização do papel do docente e da centralidade do estudante nessas questões”, listou ela.  Para Beatriz, as políticas públicas possuem a função de induzir e sustentar a ressignificação da educação superior. “Mas quais são as políticas públicas necessários para que isso aconteça?”, questionou aos outros participantes.

Para José Roberto Covac, não adianta só mudar as políticas públicas se a cultura dos gestores das IES continua a mesma. “Às vezes, a legislação existe, entra em vigor, mas a cabeça das pessoas fica na antiguidade”, disparou. “Um exemplo são as certificações parciais, elas já existem há muito tempo”. O diretor Jurídico do Semesp defendeu também que não se trata apenas de criar políticas públicas, mas do estabelecimento de uma política pública de estado, que ultrapasse governos. A duração média de um ministro no MEC é de cinco meses”, lamentou reforçando que a educação do país precisa de qualidade e inclusão.

Relatório do MIT defende ênfase no ensino dos estudantes

O diretor de Avaliação da Educação Superior do INEP, Ulysses Tavares Teixeira, focou na questão da avaliação, em especial do ENADE. Segundo ele, o SINAES é uma política bem definida e desenhada da avaliação, mas foi criado há 20 anos, em um cenário bastante diferente do atual. “Houve um crescimento no número de instituições do ensino superior, aumento dos cursos de bacharelado e tecnológico, um salto no número das matrículas”, explicou apontando que a expansão e a complexificação do sistema de educação superior mudaram o panorama do setor. “A avaliação cresceu para acompanhar esse ritmo, mas será que ainda faz sentido alunos de diferentes cursos fazerem uma prova teórica para avaliar seus conhecimentos?”, perguntou. Para ele, um caminho possível é a a especialização do ENADE por áreas para captar os detalhes dos diferentes cursos. “A avaliação precisa captar o que as IES fazem, não são as IES que precisam se adaptarem aos indicadores”, pontuou.

“Sem politicas públicas não conseguiremos ressignificar a educação superior, mas não se faz políticas públicas sem dados”, decretou a presidente da Câmara de Educação Básica no CNE, Amábile Pacio, que elogiou em particular o esforço que o Semesp tem feito em divulgar dados confiáveis sobre o setor do ensino superior. Para ela, é necessário também que haja vontade política do setor. “Não se desenvolve políticas públicas sem um movimento político que proponha esses avanços e, infelizmente, nosso setor ainda não aprendeu isso”, afirmou. “Para isso, o setor precisa estar junto conversando, dialogando e colaborando para propor as políticas públicas necessárias”, disse.

Já o presidente da Direção da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP), António Manuel de Almeida Dias, lembrou que, antes de qualquer outra coisa, as políticas públicas da educação superior devem focar em um aspecto que, inicialmente, parece não ter nada a ver com a educação superior. “Como nossos estudantes chegam ao ensino superior? Será que o ensino fundamental e o ensino médio preparam realmente os estudantes para que eles ingressem no ensino superior?”, lançou a questão.