Ocimara Balmant – O Estado de S. Paulo

A carta que Marcelo Ernesto Silberstein, de 73 anos, ostenta com orgulho data de junho de 1953. Foi recebida por ele, mas escrita em homenagem a seu pai, Herbert Silberstein, um judeu que chegou ao Brasil no fim dos anos 1930, fugindo da perseguição nazista, e se tornou um empresário do ramo da tecelagem.

O conteúdo, datilografado há quase 60 anos, é o primeiro registro de uma campanha de arrecadação de fundos para educação feita no Brasil. E que terminou vitoriosa.

Com o slogan “Para Um Mackenzie Melhor e Maior”, foram arrecadados o equivalente a R$ 16 milhões – utilizados na construção de três auditórios e de vários outros prédios, além da renovação do mobiliário e de itens de laboratórios.

“Guardo com o maior carinho e tenho muito orgulho de saber que foi o dinheiro do meu pai que ajudou a construir o prédio do Direito”, conta Marcelo.

Na época da doação, ele era um menino de 14 anos que cursava o ginásio no Instituto Mackenzie. Cresceu, fez o curso técnico em eletroeletrônica por lá e emendou com a graduação em química. Mackenzista de carteirinha, fez valer a tradição com sua descendência. A filha se formou em Processamento de Dados e a neta, Carolina, é aluna do curso de Administração.

“Começou com meu pai e não vai acabar nunca nosso amor pela instituição. Em casa, nunca houve nem haverá plano B. Todos já sabem que faculdade farão. E não é imposição, é por gosto, admiração “, diz Marcelo.

São ecos, avalia o especialista Custódio Pereira, da iniciativa ousada de 1952. “Os mantenedores eram americanos, estavam acostumados a pedir. Quando chegaram ao Brasil, não perguntaram para ninguém se havia essa tradição por aqui. Sem esse histórico, fizeram com que uma instituição protestante em um país católico conseguisse tamanha proeza.”