Fundos de investimentos e instituições internacionais de educação estão ampliando presença no segmento de ensino superior brasileiro. Grupos como Laureate, Apolo, Patria, Best Bank e JP Morgan vêm fazendo aquisições e parcerias com players locais e passaram a sondar as instituições brasileiras com o objetivo de aumentar investimentos e transformar escolas superiores pequenas ou médias em gigantes com milhares de alunos.

 

Além do Laureate, que comprou 51% da Anhembi Morumbi por mais de R$ 150 milhões, outros grupos já atuam no País. O fundo de investimento Pátria, um dos maiores de private equity, investiu mais de R$ 100 milhões para adquirir o controle da rede de universidades Anhangüera.

 

O Grupo Apolo, da Universidade de Phoenix, no Arizona, Estados Unidos, fez sociedade com o Grupo Pitágoras e abriu universidades em Belo Horizonte e em Curitiba.

 

Além deles, o Best Bank, que controla a Universidade Whitney, em Dallas, também nos Estados Unidos, fez uma parceria com a Universidade Jorge Amado, de Salvador. No Brasil este grupo é representado pelo ex-ministro da Educação do governo Fernanda Henrique Cardoso, o atual deputado Paulo Renato.

 

Segundo Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), a meta desses grupos é construir impérios de até 200 mil alunos e faturamento acima de R$ 500 milhões.

 

Ainda de acordo com ele, a chegada  desses investidores deve extinguir até 30% das instituições que atuam no País nos próximos cinco anos.

 

Os principais alvos desses grupos serão as escolas que tiverem melhores instalações e infra-estrutura, além de uma marca forte.

 

Estrangeiros ampliam foco nas universidades

Fundos de investimentos e instituições internacionais de educação ampliam presença no segmento de ensino superior brasileiro. Grupos como Laureate, Apolo, Patria, Best Bank e JP Morgan vêm fazendo aquisições e parcerias com players locais e passaram a sondar as instituições brasileiras com o objetivo de aumentar investimentos e transformar escolas superiores pequenas ou médias em gigantes com até 200 mil alunos.

Nos cálculos do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), a chegada desses investidores deve extinguir até 30% (cerca de 700) das instituições nos próximos cinco anos.

Com o acirramento da concorrência, além das fusões e aquisições feitas pelos estrangeiros, as universidades, faculdades e centros universitários do País também vão correr atrás de concorrentes menores ou até do mesmo tamanho para realizar parcerias e sociedades, conta Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Semesp e da mantenedora da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), em São Paulo.

Em uma mesa bagunçada por projetos de expansão, na sede de sua universidade, na Zona Leste de São Paulo (SP), Ferreira falou com exclusividade ao DCI e afirmou ter sido sondado durante seis anos pelo Laureate, grupo norte-americano que em 2005 comprou 51% da Universidade Anhembi Morumbi, também em São Paulo.

“O Laureate sondou quase todas as universidades privadas de São Paulo. Logo que o Lula se elegeu, em 2002, eles pararam de visitar as universidades e, mais recentemente, pouco antes de fecharem acordo com a Anhembi Morumbi, voltaram a procurar as instituições”, diz o executivo.

Além do Laureate, Ferreira afirma que o JP Morgan também já o procurou. Apesar da sondagem, os projetos espalhados por sua mesa entregam: a Unicsul não está a venda.

“Ainda não me animei, nós acreditamos no nosso negócio. Já fomos visitados por muitos, mas eu resolvi que vou deixar que meus filhos cuidem da Unicsul. Recentemente passamos por uma reestruturação societária e passamos a ter uma administração acadêmica profissional. O nosso reitor atual veio da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], por exemplo”, diz.

Segundo ele, entre os planos da Unicsul está a aquisição de uma universidade menor ou do mesmo porte.

Administração familiar

Assim como a Unicsul, grande parte das instituições de ensino superior do País é comandada por famílias que há muito tempo atuam no setor. Este é o maior desafio para os estrangeiros, que enxergam dificuldades na forma como essas famílias administram os seus negócios na área.

“A grande maioria [das universidades do País] são de grupos familiares antigos, possuem pouca governança corporativa e muitos problemas societários”, afirma Ferreira. Apesar disso, ele conta que os principais alvos desses grupos de investidores serão aquelas que tiverem melhores instalações e infra-estrutura além de um marca forte.

Nos últimos anos, com a “guerra” por alunos travada entre as instituições, aquelas que apostaram em baixos preços e qualidade inferior não serão atrativas para os investidores.

“As universidades que apostam em preços mais baixos acabam sofrendo mais com a inadimplência. Os alunos normalmente não tem condições de pagar, são atraídos pelos baixos preços, o que a longo prazo é prejudicial. Uma instituição de ensino superior não vive de multas, quer fluxo no caixa”, explica Ferreira.

Estrangeiros

Além do Laureate, que comprou 51% da Univerisade Anhembi Morumbi por um montante superiror a R$ 150 milhões, outros grupos já atuam no País.

O fundo de investimento Patria, um dos maiores de private equity, fez investimentos de mais de R$ 100 milhões para adquirir o controle da rede de universidades Anhanguera.

“O Grupo Apolo, da Universidade de Phoenix [No Arizona, Estados Unidos], fez uma sociedade com o Grupo Pitágoras e abriu universidades em Belo Horizonte (MG) e em Curitiba (PR). Em Curitiba já fechou, mas o plano deles era ter 200 mil alunos em dez anos”, conta Ferreira.

Além disso, o Best Bank, que controla a Universidade Whitney, em Dallas, também nos Estados Unidos, fez uma parceria com a Universidade Jorge Amado, de Salvador (BA). No Brasil este grupo é representado pelo ex-ministro da educação do governo Fernando Henrique Cardoso, o atual deputado Paulo Renato.

Ferreira adianta que a meta desses grupos é construir impérios de até 200 mil alunos e faturamento acima de R$ 500 milhões. Para ele, mais do que os grupos que já investem em educação, quem deve entrar com mais força no setor de ensino superior brasileiro são os fundos de investimentos.

Anhembi

Em entrevista ao DCI, Ângela Freitas, CEO (chief executive officer, principal executivo) da Anhembi Morumbi, avaliou os resultados da chegada dos americanos da Laureate na instituição e classificou 2006 como o ano de consolidação da integração da universidade com o Laureate.

“Em 2006 iniciamos os intercâmbios internacionais de alunos. Atualmente, temos 64 estudantes de graduação em Madri e mais 30 alunos de MBA no Chile. Além disso, consolidamos os instrumentos de internacionalização, como o International Office e o Global Career Center, e formatamos novos cursos”, conta ela.

Em relação às mudanças que ocorreram na instituição, ela classifica a oportunidade de realizar melhores práticas de gestão entre as universidades da rede como a principal.

“Temos dois exemplos, a Graduação Executiva, modelo de curso superior iniciado no Chile, e a dupla titulação em hotelaria, que a partir deste ano permitirá ao aluno um currículo desenvolvido pela escola suíça Glion Institute of Higher Education”, afirma Ângela.

 

Setor não deve crescer mais de 3% em 2007

 

Após o período de forte crescimento, que durou até 2003, as universidades particulares do Brasil amargarão índices compatíveis aos últimos resultados da expansão do Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com cálculos de Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), o setor deve crescer no máximo 3% em 2007.

“Em 2005 o setor cresceu 7%. No ano passado, apesar de não termos os dados contabilizados ainda, não deve chegar a 5%”, adianta Ferreira. Segundo ele, existem mais de um milhão de vagas ociosas nas universidades particulares do Brasil.

Enquanto o número de alunos presenciais está estagnado e as universidades crescem cada vez menos, cursos de educação a distância estão em franca expansão no país.

“Este é um segmento da educação que avança e preocupa. Eu tenho medo que, na ânsia de conseguir boas estatísticas, o governo feche os olhos para a qualidade do ensino a distância”, diz Ferreira.

Para ele, ensino a distância devia ser apenas para quem mora longe dos grandes centros. “O brasileiro não tem a cultura de se dedicar aos estudos em casa”, critica.