Capitalização e seguro auxiliam no pagamento das mensalidades do terceiro grau. O estudante de jornalismo Eduardo Barreto, de 21 anos, poderia estar formado, não fosse um problema financeiro que atrasou sua vida profissional em pelo menos dois anos. Aluno de uma faculdade particular na zona sul de São Paulo, Barreto perdeu o estágio em 2005 e ficou três meses sem pagar as mensalidades. Quando conseguiu uma nova ocupação, o valor da dívida corrigida mais a mensalidade nova era superior ao seu salário.

“Virou uma bola de neve, nem a renegociação proposta pela faculdade cabia no meu orçamento. Tive que parar de estudar por um ano. Prestei vestibular e entrei em outra faculdade, mais barata, porém terei que fazer um ano mais para adaptação dos currículos”, conta o estudante. “Aqueles três meses atrasaram o meu diploma em dois anos e sei que isso vai me tirar muitas oportunidades.”

Barreto faz parte da estatística do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo) que apurou um crescimento da inadimplência de 2005 para cá, chegando a 23,2% no ano passado. Segundo dados da entidade, em 2003 e 2004 houve recuo do indicador, mas em 2005 o índice voltou a crescer, para 15%, e, em 2006, permaneceu em patamares elevados.

“A estagnação econômica do país, a perda da renda do estudante ou do responsável, a falta de financiamento aos alunos e às escolas, para que possam conceder mais bolsas de estudo, e principalmente, a flexibilidade da Lei nº 9.870 – a chamada Lei do Calote-, na qual os alunos encontram brechas para estudar sem se preocupar com o pagamento das mensalidades, agravaram o problema”, contata o presidente do Semesp, Hermes Ferreira Figueiredo, lembrando que a realidade é semelhante em todo o País.

No melhor dos cenários, o aluno atrasa a mensalidade por alguns meses e acerta a dívida na época da rematrícula para poder continuar estudando no período seguinte. No pior, o estudante desiste do curso e do pagamento da conta.

Para conter a inadimplência, as mantenedoras das universidades optam por saídas de mercado tanto para facilitar o pagamento quanto para punir o calote. Os métodos variam de titulo de capitalização, a financiamento, seguro-educação até a profissionalização da cobrança e a negativação do estudante nos órgãos de proteção ao crédito.

Sorteios pela Loteria

A mais recente opção nesta área é um título de capitalização que pode ser utilizado como caução na garantia do pagamento das mensalidades, substituindo o fiador. Criado pela Sul América Capitalização, o produto está em testes na Universidade de Santa Cruz do Sul, do Rio Grande do Sul. Os alunos que optarem pelo título de capitalização Garantia Universitária, ainda concorrerão todo mês a dois sorteios pela Loteria Federal. Se sorteado, receberá de volta o valor do título. O produto é válido por um ano e pode ser renovado automaticamente. O valor do título varia conforme a mensalidade e é devolvido ao estudante no final do plano corrigido monetariamente.

“Desenvolvemos este produto para as universidades porque elas estão preocupadas com a inadimplência, ficaram mais seletivas na escolha de crédito ao aluno, algumas já instituíram a figura do fiador, mas percebem que esta exigência tornou-se um obstáculo para o estudante”, afirma o diretor comercial da Sul América Capitalização, Luiz Francisco Monteiro de Barros Neto.

Convênio necessário

Assim como o título de capitalização, o seguro educação não é vendido individualmente. É preciso que a faculdade faça um convênio com a seguradora para que esta ofereça o produto aos alunos. Com o seguro, o aluno terá a continuidade do pagamento das mensalidades escolares, caso ele ou seu responsável financeiro fique impossibilitado de cumprir com o pagamento. No Santander Banespa, a cobertura básica, de morte por qualquer causa, paga as mensalidades até o final do curso. O mesmo vale para a cobertura adicional para invalidez permanente. Já a cobertura de desemprego, paga apenas três mensalidades. A Liberty Seguros, além de custear as mensalidades em caso de desemprego, ainda oferece ao aluno ou seu responsável financeiro o serviço opcional de auxílio recolocação, em parceria com a Catho durante o período de até três meses.

O preço do seguro é relativamente barato. Custa cerca de 2% a 4% do valor da mensalidade. Já o produto da Real Tokio Marine não oferece a cobertura de desemprego. “Uma das principais razões que leva a inadimplência é a morte do responsável financeiro”, argumenta Edson Franco, diretor-presidente da Real Tokio Marine Vida e Previdência.