Os empresários brasileiros da área de serviços estão pesando os prós e os contras da abertura deste setor, para americanos e europeus, em troca da redução de subsídios aos produtos agrícolas que estes países prometem realizar. Dados do IBGE mostram que, em 2006, o setor de serviços respondeu por 64% do Produto Interno Bruto (PIB), já descontados os impostos. O percentual representa uma recuperação do setor, após os 67,1% registrados em 2001. Em 2004, o peso de serviços na economia nacional havia caído para 63% e, em 2005, tinha iniciado uma trajetória ascendente, com 64% de participação. A indústria, que respondeu por de 26,9% do PIB em 2001, registrou 30,3% em 2005 e avançou para 31%, em 2006. Mas é provável que haja uma retração dessa participação por conta do aumento das importações.ConjunturaA valorização do real tende a impulsionar o peso do setor de serviços na economia brasileira, aproximando-a ainda mais do perfil das economias de países de Primeiro Mundo, segundo o economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cristiano Martins. Por um lado, a apreciação da moeda aumenta a competitividade dos produtos estrangeiros, aumentando a importação de bens industriais.Por outro lado, o setor de serviços se beneficia diretamente da valorização do real, uma vez que os bens necessários para a execução das atividades podem ser adquiridos a preços reduzidos, seja por meio de importação ou porque as mercadorias nacionais estão mais baratas. “Sempre que há uma valorização da moeda, espera-se um aumento de participação dos serviços na geração de riqueza”, disse Martins. Como esse efeito não é imediato, porém, a valorização do real nos últimos dois anos deve ser percebida com mais força este ano.Além do fator conjuntural, Martins enfatiza que o maior peso do setor de serviços no Brasil deve-se a uma mudança estrutural que vem se configurando nas últimas décadas. As atividades categorizadas como serviços agregam mais valor ao produto final por envolverem capital intelectual. “Um tênis fabricado pela americana Nike, por exemplo, tem mais valor que seus concorrentes menos conhecidos, não por conta da produção do calçado em si, e sim por causa da marca e do projeto de desenvolvimento do tênis”, exemplifica o economista.Para efeito de comparação, o peso do setor de serviços na economia americana beira os 80%, na França é de 77% e, na Alemanha, 70%. Os dados são referentes a 2005, disponíveis no site da Organização das Nações Unidas (ONU). “Quanto mais a economia se moderniza, mais o peso de serviços aumenta na geração de riqueza”, diz Martins. A maior participação de serviços no PIB brasileiro, porém, não implica uma automática vulnerabilidade da economia nacional, em caso de abertura desse setor ao capital estrangeiro, como proposto pelo governo americano na Rodada de Doha. Segundo ele, os segmentos mais atrativos ao capital internacional, como telecomunicações e financeiro, já sofreram desregulamentação.Apesar da importância do setor de serviços no PIB, o economista Paulo Sandroni, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), explica que esta não é a melhor maneira de se analisar se o Brasil realmente terá ganhos com a abertura de seu setor serviços em troca da redução de subsídios agrícolas por parte dos estrangeiros. Para o economista, o setor agrícola é importante para a economia brasileira porque é um dos grandes responsáveis pelo superávit comercial.Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a abril de 2007, o Brasil exportou US$ 46,45 bilhões. Do total exportado no período, US$ 17,43 bilhões , ou 37,5%, vieram do Agronegócio.Para o especialista, a abertura do setor de serviços pode ser interessante para o Brasil, mas deve ser feita com cautela. “O Brasil deve proteger, pelo menos com algumas medidas transitórias, alguns setores que estão nascendo ou ainda são novos. Americanos e europeus querem a área de tecnologia de ponta. A entrada deles em setores brasileiros que estão começando a se estabelecer pode acarretar em uma eterna dependência de produtos e serviços estrangeiros”, diz.EmpresáriosPara Hermes Ferreira Figueiredo, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) a abertura é bem vinda. “Já temos presenciado iniciativas de grupos estrangeiros que querem investir em educação e entendemos que isso faz parte da globalização. A abertura impactará na competitividade e na qualidade e servirá de estímulo a universidades que estão letárgicas”, afirma .No setor imobiliário a reação também é positiva. “Eu acho que a abertura gera uma concorrência muito saudável. Com ela, sobreviverão as empresas sólidas e saudáveis, que investem em treinamento e tecnologia. Esta oferta vai gerar negócios e mercado para quem é bom. Quem sai ganhando com isso é público, as empresas e os profissionais”, diz Humberto Martins, coordenador da Rede Secovi de Imóveis, do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).Para o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, o importante é avaliar o modo como se dará a abertura. “As negociações devem ser conduzidas para que se incentive a instalação de empresas no País. Também apoiamos medidas que incentivem a movimentação de pessoas, permitindo que pessoas estrangeiras trabalhem no País. Alternativamente, pode se aplicar a abertura aos serviços prestados localmente, tais como hospedagem, alimentação, comércio. Mas, para estes serviços e para os que são prestados através de transmissão de informações, como os de telefonia, existe dúvida com relação aos investimentos.As empresas podem investir muito pouco e isso é muito difícil de ser negociado. Além da perda de arrecadação, este modelo deixa dúvidas sobre como fazer o controle das empresas com relação aos direitos do consumidor. Mas nós achamos que o Itamaraty tem todas as condições e regras para avaliar o que pode ser aberto ou não”, completa.Os empresários brasileiros da área de serviços estão pesando os prós e os contras da abertura deste setor para americanos e europeus, em troca da redução de subsídios aos produtos agrícolas que estes países prometem realizar. Dados do IBGE mostram que, em 2006, o setor de serviços respondeu por 64% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o setor agrícola foi responsável por 6%. Apesar da importância do setor no PIB, o economista Paulo Sandroni, da PUC-SP, afirma que é preciso relativizar a proposta dos países ricos, já que o setor agrícola é um dos grandes responsáveis pelo superávit comercial. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a abril deste ano o campo foi responsável por 37,5% das exportações brasileiras.Mesmo sendo os principais afetados por um possível acordo, os empresários brasileiros do setor de serviços vêem com bons olhos a entrada de mais capital externo no setor. Para o presidente da Confederação Nacional de Serviços, Luigi Nese, o importante é avaliar o modo como se dará a abertura. “As negociações devem incentivar a instalação de empresas no País”, afirma. Hermes Ferreira Figueiredo, representante dos estabelecimentos de ensino superior paulista, diz que “a abertura impactará na competitividade e na qualidade e servirá de estímulo a universidades que estão letárgicas”. No setor imobiliário a reação também é positiva. “Eu acho que a abertura gera uma concorrência muito saudável. Com ela, sobreviverão as empresas sólidas e saudáveis”, diz Humberto Martins, coordenador do Secovi. O conselheiro da União Européia no País, Fabian Delcros, conta que o fechamento de um acordo depende dos brasileiros. “Ainda não vimos uma oferta significativa”, provoca.