A disputa acirrada pela retenção de bons profissionais tem levado as universidades privadas de São Paulo a investir cada vez mais em capacitação de seu corpo docente. Isso envolve o estímulo à formação de mestres, doutores e pós-doutores e parcerias para encaminhar esses profissionais a cursos de instituições no exterior. O Estado de São Paulo possui, hoje, 456 instituições de ensino superior privado, que oferecem uma média de quatro mil cursos para 935 mil estudantes em todo o estado — em 12 anos, o mercado nacional cresceu 182%. Além da melhora na qualidade do ensino, parte dessas universidades entende que essa otimização na gestão possa reduzir os índices de inadimplência do segmento, que em 2005 chegaram a 23%. Essa é a aposta da universidade Anhembi Morumbi. Com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino, o centro de ensino superior destinará, para 2007, R$ 1 milhão apenas para capacitação. “Nós investimos pesadamente em qualidade e temos consultores externos que trabalham com padrões de referência mundiais”, explica a diretora executiva da instituição, Angela Freitas. A rede de ensino utiliza, com freqüência, treinamentos estratégicos em grupo, com os coordenadores e os professores de várias áreas, em que são discutidas as tendências mundiais e o cenário futuro. A instituição destinará 1% do orçamento anual à pesquisa acadêmica. Desde o final do ano passado, a universidade passou a fazer parte da Rede Internacional de Universidades Laureate e integra um sistema globalizado de ensino, com 20 universidades, presentes em 15 países.A Universidade Presbiteriana Mackenzie também entende que a qualidade do ensino deve ser fortalecida pela qualificação dos profissionais. O reitor da instituição, Manassés Claudino Fonteles, conta que a universidade incentiva seu corpo docente a cursar mestrado, doutorado e pós-doutorado, permitindo a flexibilização de horários e apoiando a ida dos professores a congressos de suas disciplinas. A última iniciativa, que acontece desde o início deste ano, tem sido estimular o pós-doutorado. “Hoje, 12 professores do nosso quadro o estão cursando, em São Paulo e nas Américas”, afirma o reitor.Concorrência predatória“O desafio é conciliar o preço acessível à principal função do ensino superior: o ensino de qualidade”, sintetiza o pró-reitor de administração do Centro Universitário Sant’Anna (UniSant’Anna), Leonardo Placucci.A frase do reitor é sintomática e aponta para outro grande desafio de gestão desse segmento: reduzir os índices de inadimplência. Os maus pagadores totalizaram 23% dos estudantes matriculados em universidades particulares no Estado de São Paulo, em 2005. O índice se mantém na média histórica da década: 20% em 2004, 22% em 2003, 21% em 2002, 21% em 2001 e 22% em 2000.De acordo com o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, a Lei nº 9.870/99, que trata da inadimplência, determina que os alunos não podem sofrer nenhuma sanção acadêmica, o que prejudica o segmento.“É uma lei antiga, que prejudica as escolas. Estas, por sua vez, têm de criar mecanismos para conviver com o não-pagamento das mensalidades”, afirma o presidente. Muitas instituições de ensino superior criaram departamentos de negociação ou contrataram firmas terceirizadas para evitar situações de constrangimento com os alunos. “É uma situação melindrosa. A escola faz uma previsão e tenta operar dentro desta margem, mas, se este número extrapola, a instituição se prejudica em muito”, diz.A UniSant’Anna, por exemplo, possui um núcleo de apoio psicopedagógico, que aborda o estudante, além de uma empresa terceirizada e um call center interno, que trata das negociações com os inadimplentes. “Um corpo docente bem preparado também é responsável pela retenção dos alunos”, diz o pró-reitor Leonardo Placucci. Para isso, a UniSant’Anna realiza semanas pedagógicas no início e no final de cada semestre com seu corpo docente, formado por 300 profissionais.Desta maneira, a instituição pretende reduzir seus índices de inadimplência, que hoje variam de 5% a 30%, dependendo do curso. O valor médio da mensalidade é de R$ 460. A instituição possui mais de 10 mil alunos divididos por 60 cursos de graduação e pós.Inadimplência no ensino

A Anhembi Morumbi diz que não entrou na guerra de preços e que busca sempre ter um diferencial para garantir perenidade ao ensino de qualidade. A diretora executiva Angela Freitas diz que os índices anuais estão em torno de 6%. Para reduzir este número, há um convênio com o Centro Brasileiro de Desenvolvimento do Ensino Superior (Cebrade), criado pelo Semesp. Durante o curso, o estudante recebe parte ou o valor integral da mensalidade e tem como prazo para pagamento o mesmo número de meses pelo qual que foi beneficiado, depois de formado. Os estudantes que representam a faculdade no coral ou em atividades esportivas também têm descontos. “Para 2007, pretendemos ampliar as bolsas aos atletas”, diz a diretora. Na Universidade São Marcos, os índices de inadimplência anuais chegam a 15%. Com o intuito de evitar prejuízos maiores, a escola adota uma série de benefícios. O estudante que paga a mensalidade até o quinto dia útil do mês tem 7% de desconto no total da parcela. Além disso, o aluno que indicar candidatos ao vestibular que passem no exame, estejam regularmente matriculados e freqüentem as aulas, pode ganhar descontos de 100% na parcela, se indicar até 10 pessoas. “A média de inadimplência é de 25%”, revela o diretor de comunicação institucional, Júlio Moreno. “A São Marcos também possui convênio com 100 empresas, associações e sindicatos da capital paulista e de Paulínia — onde possui um campus — cujos funcionários matriculados podem ter até 20% de desconto.”Lá a mensalidade custa, em média, R$ 600. Para driblar as dificuldades, a instituição preferiu tomar medidas de contenção de despesas nas áreas financeira, de compras, manutenção e serviços, sem prejudicar a infra-estrutura. A São Marcos possui 9 mil alunos distribuídos por seus 61 cursos de graduação e pós-graduação.Apesar de fazer parte da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (Abruc), hoje formada por mais de 60 instituições e centros universitários que não possuem fins lucrativos, a Universidade Presbiteriana Mackenzie também tenta driblar a inadimplência, que hoje chega a 5%. Os investimentos são feitos na própria instituição, em laboratórios, equipamentos para aulas práticas, e estímulo a esporte e lazer, em que tem forte tradição. Atualmente, o Mackenzie tem 35 mil alunos, e cerca de 50% deles possuem bolsa integral ou parcial. Os estudantes estão divididos por 36 cursos de graduação e 40 de pós, mestrado e doutorado.