Dando prosseguimento aos trabalhos do 8º Fnesp (Fórum Nacional: Ensino Superior Particular Brasileiro), foi a vez da qualidade no Ensino Superior entrar em pauta. O tema não é novo. A prática, no entanto, ainda é um objetivo para a maioria das IES. “Qualidade é aquilo que todo mundo do segmento fala, mas, na verdade, poucos praticam”, afirmou o presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior), Gabriel Mário Rodrigues, o mediador dos debates.

Para quem olha de fora, falar de qualidade na Educação parece algo óbvio – e, teoricamente, deveria ser uma discussão primária do setor. Atualmente, no entanto, se discute um novo contexto para a qualidade. O contexto de uma sociedade em processo intenso (e veloz) de globalização, que estreita as distâncias, espalha o conhecimento em uma velocidade assustadora e, por conseqüência, expõe as IES a uma concorrência para a qual muitas não estão preparadas.

“A globalização é um processo irreversível. Nós, educadores, estamos diretamente expostos à ela”, disse a presidente do Global Institute for Quality Education, Maria Teresa Lepeley. Para ela, cada vez mais as universidades deverão trabalhar com a qualidade voltada para o foco local e visão global se quiserem encarar os concorrentes. “O mercado penaliza as instituições de Ensino Superior que não possuem qualidade. E isso é algo que vai acontecer cada vez com mais freqüência.”

Maria Teresa é autora de um trabalho em que aponta um modelo para estruturação de políticas de qualidade. Segundo ela, isso é algo que precisa estar na mentalidade de toda a instituição, não apenas da direção, ou de um órgão contratado. “Não faço avaliações externas de qualidade. Os educadores têm que ser responsáveis pela qualidade de suas instituições”, disse.

A dirigente apontou sete itens de seu estudo que servem de referências para estabelecer esse processo na instituição:

1 – Liderança voltada para a qualidade;

2 – Conhecimento das necessidades do aluno, como cliente externo, e do mercado de trabalho;

3 – Conhecimento das necessidades dos clientes internos (professores e funcionários);

4 – Planejamento estratégico;

5 – Uso intensivo de Tecnologia da Informação e gestão do conhecimento;

6 – Qualidade dos processos de suporte ao Ensino Superior (administração, gestão predial);

7 – Integração institucional horizontal e vertical em âmbito local, nacional e internacional.

Obrigação da qualidade

De acordo com Maria Tereza, o mundo está entrando em uma nova era, voltada para a sociedade do conhecimento. Neste momento, o Ensino Superior assume papel fundamental, uma vez que as universidades são o meio principal de produção e propagação do conhecimento. Para dar mais subsídios ao debate, o Diretor-Executivo do Ibmec Minas, Vandyck Silveira, apresentou uma pesquisa realizada pelo Ibmec São Paulo que aponta o Ensino Superior como fator de ascensão social. Segundo ele, depois que ingressa na graduação, o jovem tem um aumento anual de 20% em sua renda.

Todos estes elementos, de acordo com Elizabeth Guedes, consultora da Laureate International Universities e pró-reitora de Desenvolvimento da Universidade Anhembi-Morumbi, fazem com que a qualidade não seja apenas uma decisão, ou um caminho a ser seguido pela universidade. Ela é uma obrigação, pois vai atender à relevência do Ensino Superior ao mesmo tempo em que faz com que a universidade enfrente a concorrência.

“Não acredito na qualidade como uma decisão a ser tomada. Ela é uma necessidade. Se não tivermos qualidade, perdemos todos os nossos alunos para os concorrentes”, afirmou. “E não pegamos o aluno da elite. Pelo contrário, pegamos o aluno que precisa trabalhar à noite, dividir o tempo do estudo, e temos que entregar um engenheiro igual ao que as públicas formam. O processo de qualidade não pode ser uma decisão externa ao negócio.”