A qualidade não é um fim nela mesma. “Qualidade não é mensurada pelo acadêmico, mas quando o nosso cliente entra no mercado”. Este foi o tom da discussão da mesa que debateu qualidade do ensino superior privado brasileiro, no 8º Fórum nacional: ensino superior particular brasileiro (Fnesp), realizado na cidade de São Paulo e organizado pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimento de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP).

A primeira declaração é do diretor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Van Dick Silveira. Segundo ele, a qualidade no ensino superior privado deve ser avaliada como um diferencial de produtos e serviços. “A qualidade que pode ser calculada é a relativa. O Ibmec, por exemplo, foi aberto para atender a um público específico que pode pagar e exigir qualidade”, disse.

A pró-reitora da Universidade Anhembi Morumbi, Elizabeth Guedes, que declarou que o mais importante para a sua instituição é que o estudante, ou como ela disse, cliente, encontre um emprego, concorda. “A qualidade é uma necessidade de mercado, porque se não melhorarmos o nosso serviço a concorrência tira todos os nossos alunos”, explicou.

Ainda segundo a pró-reitora, que dirige a primeira universidade brasileira a receber investimento externo, a missão das instituições privadas é entregar, ao final do curso, o mesmo engenheiro que a universidade pública destina ao mercado. “Nossos alunos são aqueles que não entraram na pública. Assim, as escolas privadas estão fazendo mais, pois o desenvolvimento do ingressante e do concluinte nosso é maior do que o das públicas”, constatou.

Diante dessa realidade, ambos são totalmente contrários ao controle que o governo faz do ensino superior brasileiro. “Os índices do governo têm um foco esotérico e acadêmico. Eles são frutos das necessidades de um grupo de doutores, um sindicato de doutores que querem medir a qualidade pelos paradigmas deles”, disse Silveira.  

A diretora de gestão e negócios internacionais da Universidade de Connecticut (EUA), Maria Teresa Lepeley, segue a mesma linha. “O controle feito pelos governos é um uso de recurso ineficiente. Vocês não devem só melhorar a qualidade, têm que melhorar o crescimento”, disse. Guedes concordou e suplicou. “Se o país não crescer, quem vai pagar a nossa mensalidade”.

Questionados sobre o papel do marketing na construção da imagem das instituições privadas, Guedes disse que essa não é a parte essencial. “Não adianta eu dizer que sou boa, se eu não sou. Uma hora alguém descobre que aquilo é apenas um outdoor. Além disso, a pessoa pode olhar o anúncio e gostar da mulher que aparece, mas se a instituição não agradar ele não vai estudar lá”. A pró-reitora da Universidade Anhembi Morumbi continuou: “Aqui, nos encontramos fraternalmente, mas na selva somos tigres e nos divertimos com os anúncios cruzados com os quais nos deparamos diariamente”.

Questionados se a qualidade do ensino não é o valor que deve guiar as ações de uma instituição superior, a resposta foi quase que unânime. “Claro, mas a mensuração mais importante é do produto. É preciso comer o pudim para ver se ele é bom. Nossos alunos serão avaliados pelo mercado”, conclui Silveira.