O setor de ensino superior privado no Estado de São Paulo dá sinais de acomodação, após o crescimento exponencial da última década, quando a taxa média anual chegou a 8%. Trata-se de um mercado com mais de 1 milhão de alunos matriculados, quase um terço do total de estudantes do País. Atualmente reúne 500 instituições. Juntas, elas movimentam R$ 3,2 bilhões por ano. Em números absolutos São Paulo é o estado que detém a maior quantidade de alunos matriculados em Instituições de Ensino Superior (IES), no entanto, se for comparada a proporção entre a população total (2,78%), o Estado fica em oitavo lugar no ranking nacional. Entre os anos de 1999 e 2004 houve

crescimento de 52% na demanda. Entre 2003 e 2004 o percentual ficou em 4%. Mesmo assim, é uma evolução superior à média nacional.

Os dados do Ministério da Educação (MEC) estão reunidos no documento “Análise Setorial do Ensino Superior Privado no Brasil – São Paulo”. Foram tabulados pela Hoper Educional em parceria com a CM Consultoria e a Ideal Invest, sob coordenação do professor Ryon Braga, um dos principais consultores do mercado educacional do País. Regionalmente, a capital concentra 38,5% das matrículas do Estado. As instituições de ensino na cidade de São Paulo disponibilizam anualmente cerca de 302.460 vagas e teve 129.047 alunos efetivamente matriculados. A relação ingresso/vaga na capital é de 0,43. Ou seja, a cada 100 vagas, 43 são de fato preenchidas. A maior densidade na relação matriculados/vaga acontece em Votuporanga, no noroeste do estado de São Paulo. Com 2.260 vagas disponíveis, 1.820 são preenchidas, numa relação ingresso/vaga 0,81.

 

Excesso de vagas levou mercado a saturação

O estudo mostra ainda que há excesso de vagas não preenchidas. A taxa de ingressantes por vaga (quantos alunos de fato se matricularam nos cursos) é de 0,44. Ou seja, das 728.746 vagas oferecidas pelas instituições de ensino (em se considerando apenas o primeiro ano de ingresso) apenas 320.931 foram preenchidas. “O excesso de vagas, de cursos e de IES levou o mercado a um ponto de saturação de tal impacto, que provocou o fechamento de instituições menores”, afirma Braga. Outro fator para o fim de alguns negócios, segundo diz, está ligado à guerra de preços como estratégia central adotada por algumas instituições de ensino superior. Para ele, esse tipo de atitude pode dar certo no curto prazo, mas a médio e longo prazo o risco é grande. Para o presidente Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), Hermes Ferreira Figueiredo, a tendência é de acomodação. Embora acredite no crescimento em ritmo mais lento do que o apresentado até 2004, ele não prevê queda acentuada. “Hoje em dia, muitas pessoas procuram a graduação não somente para formação, mas para incentivar sua cidadania”, diz. “Não é incomum encontrarmos pessoas que exercem a profissão numa determinada área e se graduaram em outra”.Na avaliação do consultor em educação Rafael Villas Bôas, gerente de marketing da CM Consultoria, o mercado ainda tem amplo potencial de crescimento. Em sua análise, não há ainda uma estrutura suficiente para atender a crescente demanda, impulsionada, em grande parte, por projetos do governo como o Programa Universidade para Todos (Prouni). “Hoje são cerca de 3 milhões de aluno na graduação, em 2011 o número deverá chegar a 6 milhões”, afirma.O que todos defendem é que o setor passará por mudanças estruturais. Braga, da Hoper Educacional, é o mais pessimista. Para ele, nos próximos três anos, ao menos 120 instituições de ensino superior privado (24% da estimativa total) no estado de São Paulo deverão fechar suas portas. “A saída pode ser a partir da diferenciação do produto oferecido, como a segmentação”, afirma o professor.Segundo a análise, a desaceleração no crescimento de vagas preenchidas se deve, basicamente a quatro fatores. O primeiro é a estagnação de crescimento das matrículas de ensino médio regular do Estado, o que reflete diretamente no número de alunos que terão acesso à graduação. O outro são os processos seletivos mais brandos, que facilitaram o ingresso em algumas faculdades. A redução da procura por parte de pessoas mais velhas, que concluíram o ensino médio há cinco anos ou mais, além do valor médio das mensalidades do estado, ainda acima do poder aquisitivo de mais da metade dos clientes potenciais, também são fatores que puxaram para baixo a taxa de crescimento.

 

Levantamento mostra impacto econômico

Levantamento realizado pela assessoria econômica do Semesp mostra os impactos econômicos-financeiros do ensino superior privado em São Paulo. O estudo mostra que a geração de renda indireta com gastos com livros, de R$ 85,2 milhões por ano, é o dobro do gasto com moradia, calculado em R$ 43,5 milhões.Ainda segundo a radiografia do setor em São Paulo, os alunos gastam R$ 36,1 milhão com transporte e outros R$ 19,5 milhões com alimentação. Canetas, cadernos e outros insumos classificados no item material escolar perfazem a cifra de R$ 23,2 milhões. Alguns cursos como os de odontologia, medicina, engenharia e arquitetura demandam investimentos por parte do aluno em equipamentos. Esse valor chega a R$ 23,5 milhões pelos cálculos do Semesp. As instituições de ensino superior do estado de São Paulo juntas, ocupam uma equivalente a cinco vezes a extensão territorial da capital. São 8 milhões de metros quadrados de área ocupada, contra 1,5 milhão de metros quadrados ocupados pela capital. O acervo das bibliotecas em número de exemplares chega a 7,8 milhões e o de laboratórios, 3,4 mil.

 

Para consultor, problema é pontual

O consultor em educação Rafael Villas Bôas, gerente de marketing da CM Consultoria, maior empresa do gênero no País, a acomodação do mercado é pontual e ocorre por problemas administrativos em algumas instituições. “A maioria tem menos de 10 anos e essa é uma área da economia que apenas agora entra na sua maturidade”, afirma.Segundo Villas Bôas, mesmo que o setor mantenha as altas taxas de crescimento tanto no número de vagas quanto no número de cursos e instituições, não será suficiente para absorver a atual demanda por ensino superior no País. Ele sustenta a afirmação com base em taxas de acesso à graduação nos países das Américas, onde o Brasil figura entre os piores. Apesar do aumento da oferta de cursos superiores nos últimos anos, o setor privado atende apenas 9% dos jovens de 18 a 24 anos. Comparado a 27% no Chile, 39% na Argentina, 62% no Canadá e 80% nos EUA. “Isso sem contar a demanda latente nos estratos demográficos acima de 24 anos”, analisa o consultor.O Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei 10.172, de 6 de janeiro de 2001, determina que, até o final desta década, ou seja, 2010, a educação superior brasileira seja ocupada por pelo menos 30% da população na faixa etária de 18 a 24 anos. Segundo Villas Bôas, isso obriga que medidas sejam adotadas imediatamente para ampliar o número de vagas no ensino superior brasileiro.Uma aposta do consultor reside na aplicação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) em trâmite no Congresso Nacional. Isso deverá criar uma demanda ainda não conhecida e que deverá garantir a manutenção das instituições. O único diferencial, na análise de Villas Bôas, é o fato de se formatar produtos com qualidade destinados às classes D e E. Esses fatores, aliados aos investimentos que devem ser destinados ao ensino superior público, vão pressionar ainda mais instituições menores. “As pequenas têm maior dificuldade de alcançar escala caso decidam competir por preço, isso é fato. E a competição por preço é imperativa em um cenário onde existe pouca diferenciação entre os cursos e entre as instituições”, avalia o consultor.