As propostas que serão apresentadas pelo MEC ao Congresso no projeto de reforma universitária continuam recebendo críticas de uma parcela expressiva do setor privado. Apesar de reconhecer a disposição do MEC para fazer um diálogo transparente, o presidente do Semesp (sindicato das mantenedoras de ensino superior de São Paulo) e membro do Fórum em Defesa da Livre Iniciativa Privada, Hermes Ferreira Figueiredo, continua vendo nas propostas um excesso de interferência do governo no dia-a-dia das instituições particulares.Ex-ministro da Educação do governo FHC, Paulo Renato Souza também fez duras críticas ao projeto. Apesar de considerar que foi um acerto o governo ter voltado atrás e incluindo a necessidade de envio de uma lista tríplice ao presidente no momento de escolha do reitor das universidades federais, o ex-ministro afirma que o estabelecimento de eleições diretas para escolha do cargo será “o começo do fim da universidade pública brasileira de qualidade”.O projeto, porém, é elogiado pela UNE (União Nacional dos Estudantes). “Não é a reforma dos nossos sonhos, mas tem avanços que defendemos e consideramos positiva a iniciativa do ministério de reformar o sistema. Trabalharemos para aprovar o texto com as modificações que julgamos importantes”, diz Gustavo Petta, presidente da UNE.Um discurso menos crítico também partiu do presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Ennio Candotti. Para ele, a garantia de recursos mínimos a serem aplicados nas universidades federais é um grande avanço, desde que isso venha acompanhado de uma regulamentação à parte que garanta mais autonomia à gestão dos reitores de universidades federais.No caso das universidades privadas, as maiores queixas se referem aos artigos que introduzem novos mecanismos de controle na gestão dessas instituições, como a eleição de um ouvidor com mandato fixo por parte da comunidade acadêmica, a criação de um conselho de desenvolvimento social composto por membros da sociedade civil e a exigência da participação de alunos, funcionários, professores e sociedade civil em colegiados superiores.”Haverá interferência indevida das corporações profissionais em várias etapas da gestão das instituições. Também achamos que a transferência da manutenção de instituições de ensino superior deveria ser regida a partir do código civil quando se trata de instituições de ensino superior devidamente credenciadas. O projeto, porém, aumenta a interferência do governo nesse processo”, diz Hermes Figueiredo, do Semesp.A maior crítica do ex-ministro Paulo Renato ao projeto apresentado até agora é que “ele não olha para o futuro e trata, principalmente, apenas da gestão das universidades públicas, aumentando o poder das categorias não-docentes nos processos decisórios.””Já tomei muita vaia por isso, mas sempre defendi que são os professores que devem estar no comando. Manter a lista tríplice me parece uma decisão óbvia, mas permanecem no projeto artigos que aumentam a interferência de alunos e funcionários na gestão das instituições”, diz ele.