Perda do emprego é a principal causa de atrasos nos pagamentos das mensalidades
A inadimplência nas universidades particulares de Araraquara atinge cerca de 15% dos 11,3 mil estudantes matriculados. O índice local se aproxima da média do Interior constatada por uma pesquisa recente feito pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimento de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp); 16% dos alunos das universidades particulares do Interior estão devendo uma ou mais mensalidades. Em Araraquara, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) registrou neste mês 920 devedores do ensino superior particular da cidade.
Segundo os empresários do setor, o número de inadimplentes, que cresce a cada ano, está relacionado à dificuldade de acesso a bolsas de estudos e financiamentos e, principalmente, à perda da renda dos estudantes ou de familiares. “A maioria das pessoas que deixa de pagar as mensalidades é porque perdeu o emprego ou alguém da família que custeia os estudos ficou desempregado”, afirma Geraldo Magela, diretor da Universidade Paulista (Unip), que tem 3,8 mil alunos no campus de Araraquara e registra índice de inadimplência em torno de 15%.
Rodrigo Capelato, diretor executivo da Semesp, explica que o aumento da participação das classes C e D nas instituições de ensino particulares também influenciou nos índices de inadimplência atuais.
Os alunos cujas famílias ganham menos de R$ 1 mil por mês podem se beneficiar com o Programa Universidade para Todos (ProUni), que tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda em cursos de graduação. Já os que contam com rendimentos superiores a R$ 1 mil não são atendidos por programas de concessão de bolsas. “Nestas famílias, no primeiro aperto a pessoa deixa de pagar a faculdade”, afirma Capelato. “É preciso considerar que estes alunos não têm renda suficiente para se manter no ensino superior”, acrescenta o diretor.
Na Faculdades Integradas Logatti, dos cerca de 700 alunos, entre 15% e 18% estão inadimplentes. Francisco Logatti, diretor financeiro, diz que nos últimos anos a instituição tem encontrado dificuldade em reduzir este índice. “Temos a política de negociar caso a caso, mas, na maioria das vezes, o aluno tem muita dificuldade em arcar com o pagamento”, relata. Ele diz que a faculdade não envia o nome dos alunos devedores ao SCPC.
A renegociação é também a opção da Unip. Segundo Geraldo Magela, a instituição se esforça para evitar que a condição de inadimplente do aluno se estenda por mais de um semestre e procura sempre conversar para encontrar uma forma de pagamento. “A universidade entende que qualquer negociação é valida, por isso, os alunos, mesmo com dificuldades financeiras, conseguem pagar sem necessidade do envio de listas de devedores ao SCPC”, justifica Magela.
Na faculdade Savionitti, que oferece cursos de Direito em Araraquara, a inadimplência atinge cerca de 9% dos 160 alunos. Henrique Savionitti, diretor da faculdade, afirma que o índice está na média tolerável e que todos os alunos que devem para a instituição são procurados para renegociação.
A Centro Universitário de Araraquara (Uniara), que tem cerca de sete mil universitários e quase mil inadimplentes, foi procurada pela reportagem. Por meio da assessoria de imprensa, a instituição alegou que não se manifesta sobre a situação financeira de seus alunos.
De acordo com o Semesp, que não acredita em reajustes nas mensalidades das instituições de ensino superior no próximo ano, a média do valor das mensalidades cobrado no Estado é de R$ 400.

Lei proíbe penas pedagógicas

Rodrigo Capelato, diretor do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimento de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), destaca que os alunos devedores são beneficiados pela lei, que não permite a aplicação de penalidades pedagógicas no caso de atraso no pagamento. “A chamada lei do calote garante ao aluno inadimplente o direito de assistir às aulas, utilizando os laboratórios e demais recursos”, explica Capelato. O Semesp defende, como forma de se evitar ou minimizar o problema da inadimplência, a ampliação da oferta de bolsas de estudos. “Hoje, os programas não são suficientes; somente 5% dos alunos matriculados no ensino superior são inscritos no ProUni e apenas 8% tem acesso ao Fies (Financiamento Estudantil). Se os alunos tivessem mais oportunidades de bolsas e financiamentos, os índices de devedores seriam menores”, ressalta Hermes Figueiredo, presidente do sindicato.
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