Para titular da pasta de Educação Superior, estudantes que invadiram reitoria devem ‘pôr a mão na consciência’

 

O secretário estadual de Educação Superior, José Aristodemo Pinotti, disse ontem que os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) são “privilegiados” e “deveriam colocar a mão na consciência” para refletir sobre a invasão da reitoria. Para Pinotti, eles não deveriam reclamar tanto de moradia, alimentação ou outros subsídios porque já recebem esses benefícios em quantidade suficiente, diferentemente do que ocorre com os estudantes pobres de universidades particulares, que não têm direito a nada. “Acho que eles têm de abandonar essa causa inexistente, sair de lá e deixar a universidade trabalhar”.

A criação pelo governo José Serra da secretaria chefiada por Pinotti foi um dos motivos para o início do movimento dos alunos. Eles acreditam que a pasta vai interferir na autonomia universitária e pedem a demissão do secretário. Apesar das declarações, Pinotti defende que o governo e a reitora Suely Vilela continuem dialogando com os estudantes.

Pinotti participou ontem do evento “O desafio da educação para transformar o Brasil”, que reuniu 220 presidentes de empresas nacionais e multinacionais para fazer perguntas e homenagear o ministro da Educação, Fernando Haddad. Uma das questões formuladas ao ministro foi justamente sobre a situação na USP. “O governador estendeu a mão para o diálogo”, disse o ministro sobre o decreto declaratório. “Acredito que está havendo um amadurecimento disso na USP, lentamente, mas está ocorrendo. Esse gesto do governador precisa ser considerado em toda a sua plenitude”, completou Haddad, que também é professor da universidade.

Os alunos que invadiram a reitoria há 41 dias faziam ontem à noite mais uma assembléia para decidir o rumo do movimento. Às 20 horas, a reunião ainda não havia terminado.

O Sindicato dos Funcionários da USP (Sintusp) protocolou ontem na reitoria um pedido oficial de negociação com Suely Vilela. Segundo o presidente da entidade, Magno de Carvalho, a intenção é mostrar que o Sintusp não está criando um “impasse”. Eles aguardam agora a resposta.

Ontem à noite, o Fórum das Seis, entidade que congrega as associações de funcionários e professores da USP, Unesp e Unicamp, se reuniu para discutir estratégias de negociação com os reitores, além da proposta de participar de ato conjunto do funcionalismo estadual, marcado para sexta-feira. A próxima rodada de negociações acontecerá na segunda-feira, em Campinas.

A reunião do fórum foi acompanhada por um grupo de alunos da ocupação, que já dura 41 dias.

AULAS

Apesar do fim da greve dos professores na USP, algumas unidades não retomaram suas atividades normais ontem. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), os alunos colocaram barricadas de carteiras e trancaram algumas salas para impedir que as aulas fossem dadas. Na única classe em que se via algum movimento no prédio de Letras, uma professora falava sobre “teatro político”, numa das atividades da greve discente.

“Como acabou a greve dos professores, vim para cá achando que ia ter aula”, disse, frustrada, a estudante Patrícia Factore, de 20 anos. Ela encontrou sua sala trancada e, ontem pela manhã, estudava no corredor da faculdade. Professores da Letras disseram que não forçaram as aulas porque os alunos ainda estão em greve.

Na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), as aulas eram normais. “Se a gente fizer greve aqui leva falta”, disse Thais Burin, de 19 anos. Segundo ela, há alunos na FEA que apóiam a paralisação dos estudantes e a luta pela autonomia, mas desaprovam a ocupação da reitoria. “Está certo lutar pela universidade, mas não é assim que se luta”, completou a estudante Ilana Bobrow, de 19 anos, também da FEA.