Secretário da Justiça diz que movimento estudantil não está isento de cumprir a lei; ocupação completa 40 dias.

Os professores da Universidade de São Paulo (USP) decidiram ontem encerrar a greve que haviam começado no dia 23 de maio. O fim da paralisação pode enfraquecer o movimento dos alunos, que estão parados desde o dia 16 e tomaram a reitoria da instituição há 40 dias. A assembléia que aprovou a suspensão da paralisação dos docentes foi marcada por tumulto envolvendo estudantes contrários à decisão.

Ontem, em entrevista coletiva, o secretário estadual de Justiça e Defesa da Cidadania, Luiz Antônio Marrey, disse que o governo prepara uma nova ofensiva para resolver o impasse da ocupação da reitoria da USP. De acordo com o secretário, é um engano achar que qualquer pessoa no País tem imunidade para praticar algum crime e a situação ficará por isso mesmo. “Não é porque é movimento estudantil que está isento de cumprir a lei”, advertiu. O secretário também afirmou que o governo estuda o uso da força para desocupar o prédio. “O Estado é quem tem o monopólio do uso da força num regime democrático e deve fazê-lo dentro desses limites. Está ficando claro que, não havendo outra solução, isto acontecerá.”

Segundo ele, o governo tem feito de tudo para resolver a situação pacificamente, mas “está evidente que se trata do seqüestro da reitoria por grupos minoritários”. “Tudo isso tem um limite”, completou.

O governador José Serra também se pronunciou ontem sobre o assunto. Para ele, a sociedade já percebeu que se trata de um “movimento sem nenhum propósito com relação ao ensino”. Serra ainda comentou a participação de partidos de extrema esquerda na ocupação dos estudantes, como mostrou a reportagem de domingo do Estado. “Há um aparelhamento indiscutível junto com a atuação do sindicato dos funcionários, que não é o dos estudantes. E que tem a liderança, de fato, operacional de todo esse processo.”

ASSEMBLÉIAS

Apesar do fim da greve na USP, os professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aprovaram ontem a continuidade da paralisação. Os docentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) só divulgarão hoje o resultado das várias votações realizadas pelas unidades no interior.

Funcionários da USP aprovaram ontem também a continuidade da greve, que começou no dia 16. As categorias das três universidades pedem reajuste salarial de 3,17% mais R$ 200 de parcela fixa. Os reitores ofereceram 3,37% e estudam outro aumento em outubro caso haja excedente na arrecadação do ICMS neste ano.

Segundo o vice-presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Francisco Miraglia, a paralisação foi suspensa porque parte das reivindicações foram atendidas, como o reajuste salarial e garantia da autonomia dada pelo decreto declaratório do governador Serra. Miraglia não acredita que o fim da greve dos professores vá prejudicar o movimento dos alunos.

AGRESSÃO

Ontem, depois da aprovação da suspensão da greve na USP, alguns estudantes presentes vaiaram a decisão. O repórter fotográfico da Folha de S.Paulo Rodrigo Paiva foi agredido ao tentar fotografá-los.

Os alunos terão nova assembléia hoje, às 18 horas, para definir o rumo da ocupação da reitoria. No blog da invasão, na internet, os estudantes publicaram uma Declaração à Sociedade sobre o decreto declaratório de Serra. Eles dizem que o documento foi “fruto direto da força de nossa mobilização”. Mas ainda defendem o fim da Secretaria de Ensino Superior e a saída do chefe da pasta, José Aristodemo Pinotti.