Nunca me senti tentado a escrever para um colunista. Assim começa o e-mail enviado por Melchisedeck Lemos, de Coroaci, Bahia. “Mas suas últimas reflexões no artigo Não perca tempo com a faculdade realmente me deixaram intrigado. Concordo com seu ponto de vista: falta, sim, espírito empreendedor na raiz de nossa sociedade e de nosso padrão educacional. Tenho 21 anos e acabo de concluir uma graduação. Não que ela me seja útil. Na verdade, até o momento não foi. Mas planejava um novo recomeço e avaliava minha postura de inércia denunciada por você em seu texto.”

Os jovens brasileiros acabam tendo de tomar uma decisão para a qual não estão ainda maduros: a escolha da profissão. Eles são capazes de prestar no mesmo ano, simultaneamente, exame para faculdades de Direito, Economia e Cinema. Que segurança tem uma menina de 16 anos quando opta por fazer vestibular de Engenharia de Produção? Para a maioria do quase 1,3 milhão de brasileiros que entram anualmente nas faculdades públicas e privadas, o vestibular acaba sendo apenas um expediente para tentar garantir a empregabilidade futura, e não exatamente a escolha de uma profissão. O resultado disso é um prejuízo de tempo, recursos humanos e dinheiro, público ou privado.

Roni Matz Ben, estudante de Direito e Relações Internacionais em Porto Alegre, me enviou um e-mail. Tendo morado um ano e meio em Israel, ele afirma que os jovens de lá começam a faculdade com 25 ou 26 anos. Rapazes e moças fazem três anos de Exército e depois costumam ir para os Estados Unidos, a Europa, a Oceania, trabalhar por mais um ano. Depois, normalmente viajam por mais outro ano por países da América do Sul e da Ásia. “Meus amigos israelenses ficavam surpresos quando eu dizia que tinha 20 anos e já havia feito dois anos de Direito.”

Nos EUA, essa escolha é feita com mais maturidade por dois motivos. Primeiro, não existe ensino superior gratuito. Quem não pode pagar tem de conseguir uma bolsa, geralmente reembolsável no futuro. Ter de pagar pela faculdade obriga o jovem a amadurecer suas decisões. Não há a mordomia tipicamente brasileira de fazer uma ou duas faculdades, em geral à custa do contribuinte e em prejuízo de alguém que poderia aproveitar melhor o investimento público da sociedade.

O fato de a formação universitária nos EUA ser marcadamente dividida em duas etapas também contribui para escolhas mais maduras. A primeira fase é o equivalente a nossos ciclos básicos de dois anos, que são genéricos para áreas parecidas. A grande maioria dos jovens dá um tempo após esse período, antes de entrar na etapa seguinte. Então, com 20 e poucos anos, é feita a escolha mais importante, quando os alunos se matriculam especificamente na fase de qualificação para o diploma universitário de sua preferência, o equivalente ao ciclo profissional de nossas universidades.

O estudante Melchisedeck me pergunta ao final de seu e-mail: “Como lidar com esta decisão necessária e radical?”. Seria bom criar passos intermediários entre o fim do ensino médio e o vestibular, mesmo que demore de um a três anos. Primeiro, vá arranjar opções de ganhar dinheiro e experiência de vida. Ainda que seja como balconista de shopping ou office boy. Busque alta fluência em internet e inglês. Faça cursos livres. Viaje para o exterior. Aprenda a se virar, talvez fazendo salada num restaurante em Londres, faxina na Holanda, limpeza de escritório em Tóquio ou cursos gratuitos nas escolas públicas na Alemanha. Ganhe um começo de biografia que fará você orgulhoso de sua juventude. Mas, sobretudo: não tenha medo de ficar velho. O diabo pode mais por ser velho do que por ser diabo.