Docentes contrários à invasão da reitoria farão passeata; alunos pró-ocupação marcam ato na mesma hora e local

 

Os estudantes que invadiram a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) há 34 dias prometem atrapalhar hoje o protesto organizado por professores da instituição, contrários à ocupação. Os docentes pedem a participação de toda a sociedade no ato, que começa às 9 horas. A idéia é fazer uma passeata até a reitoria, onde entregarão um documento de repúdio à invasão. Ao saberem do protesto, os estudantes organizaram também uma manifestação na mesma hora e mesmo local.

O ato pró-invasão tem apoio dos funcionários da USP, em greve. “Esperamos que seja pacífico (o ato dos professores pela desocupação da reitoria). Mas se eles estiverem pensando em cumprir o papel do choque (da tropa de choque da PM) e entrarem para desocupar, nem sei o que pode acontecer”, ameaçou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho.

O ato de hoje pelo fim da ocupação começará na Praça Ramos de Azevedo, perto da Escola Politécnica, na Cidade Universitária. Não há estimativa de quantas pessoas devem aderir ao movimento, mas, segundo os organizadores, professores foram chamados por meio das diretorias das unidades. Às 10 horas, os manifestantes contra a invasão sairão em passeata até a reitoria. Segundo o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Sylvio Sawaya, todos os “amigos da USP” estão convidados.

O texto que será entregue aos invasores fala em “união” da universidade e afirma que a invasão prejudica a imagem da USP. Os professores não manifestaram intenção de retomar o prédio.

Cerca de 500 alunos se reuniram ontem a partir das 19h40 para mais uma assembléia. Pouco antes das 23h30, estava decidido que a ocupação da reitoria continuaria.

MOBILIZAÇÃO

Ontem, em assembléia, os funcionários decidiram manter a greve por tempo indeterminado. Eles insistem em suas reivindicações, como reajuste de 3,15% e R$ 200 incorporados ao salário, além de aumento do auxílio-alimentação e mais vagas em creches para seus filhos.

Os professores também continuam paralisados, mas em assembléia anteontem foi aprovado um indicativo de suspensão do movimento. Para os dirigentes da Associação dos Docentes da USP (Adusp), a greve já conseguiu vitórias, como o reajuste salarial de 3,37% oferecido pelos reitores. Uma nova assembléia vai definir o rumo do movimento na segunda-feira.

Alunos e funcionários do Instituto de Biociências, um dos principais departamentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, aderiram ontem à greve pela autonomia das universidades. O comando deixou claro o apoio dos estudantes à ocupação da reitoria da USP, embora as reivindicações, em Botucatu, sejam também pela melhoria do ensino e melhores salários para professores e funcionários.

Os docentes faziam uma reunião no final da tarde para decidir se engrossariam o movimento. A adesão de funcionários, segundo assessoria da Unesp, era pequena. Um grupo de alunos saiu em passeata à tarde pelas ruas da cidade, distribuindo panfletos.

De acordo com a assessoria, a Faculdade de Medicina, primeiro setor a entrar em greve, na semana passada, funcionava normalmente. Acordo entre o comando de greve, a direção da escola e a administração hospitalar garante o funcionamento pleno do Hospital das Clínicas pelo menos até segunda-feira. O atendimento no hospital, que recebe pacientes de 50 municípios da região, é feito principalmente por alunos e residentes da Faculdade de Medicina.

PERTO DO FIM

Hoje os três reitores das universidades estaduais paulistas se reúnem em Campinas. Para o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Paulistas (Cruesp), José Tadeu Jorge, a invasão da reitoria da USP pode estar perto do fim. “É necessário um certo tempo para que as pessoas entendam o decreto do governador que garantiu a autonomia das universidades, mas acredito que até o fim desta semana isso aconteça”, disse. Segundo ele, as outras reivindicações dos estudantes devem ser resolvidas de forma negociada.

Ontem pela manhã, no entanto, os estudantes da USP fizeram protesto na Avenida Corifeu de Azevedo Marques, próximo ao portão 3 da universidade. Com faixas e carro de som, bloquearam a pista sentido centro-bairro por cerca de uma hora, provocando lentidão do trânsito no local.

CRONOLOGIA

3 de maio
Invasão da reitoria
Após uma assembléia, cerca de 200 alunos invadem o prédio da reitoria em protesto contra decretos assinados pelo
governador José Serra

8 de maio
Reunião com a reitora
Na primeira reunião com os alunos, a reitora Suely Vilela aceita negociar e não punir os invasores

15 de maio
USP vai à Justiça
Esgotado o prazo para a desocupação, Suely decide recorrer à Justiça para a reintegração de posse

16 de maio
Greve
Estudantes se recusam a receber a ordem de reintegração de
posse. Os funcionários decidem entrar em greve

21 de maio
Nova reunião
Em mais uma reunião com a reitora, pauta de reivindicações
é ampliada de 13 para 17 itens. Uma barricada é montada para conter possível avanço da polícia

23 de maio
USP, Unesp e Unicamp
Professores das três estaduais também param

31 de maio
Decreto e passeata
Estudantes e polícia entram em choque em uma manifestação no cruzamento da Rua Francisco Morato com a Avenida Morumbi

4 de junho
Mais uma reunião
Suely Vilela afirma aos alunos que não tem mais nada a oferecer em troca da desocupação da reitoria