Há algum tempo a universidade paulista acompanhava a greve das federais como algo distante de seus campi, ao avaliar as condições em que trabalhava a qualidade de laboratórios, de cursos, de salários, de bons pesquisadores, enfim, de uma excelência que se tornou uma referência acadêmica no mundo. Os tempos passaram e as universidades paulistas também são sacudidas por movimentos universitários a exemplo das suas congêneres. As causas giram em torno de acomodações e alojamentos, bibliotecas, alimentação e da autonomia política e acadêmica que se tornou o eixo das reivindicações sob novos cenários e renovadas perspectivas que marcam os rumos das universidades no Brasil.

Os novos cenários estimulados por princípios neoliberais e as novas perspectivas provocadas pelo mercado nacional e internacional articulados nos anos 90 identificam novos componentes na questão da educação superior cuja abrangência se estabelece por meio da despolitização da universidade pública, da comercialização do ensino com o progresso da universidade privada, de suas parcerias com empresas nacionais e internacionais no vácuo da redução do Estado brasileiro como mediador, agora sem os ranços ideológicos que insuflava a disputa entre o ensino público, à esquerda, e o privado, à direita, dos anos 60 e 70. Ao se apoiar no texto OMC: Um Novo Espaço Institucional na Formulação de Políticas Públicas, (2005) do economista Luís Antônio Paulino, da FGVSP, reconhece-se que a educação movimenta hoje no Brasil 90 bilhões de reais por ano. O conhecimento, o ensinar e o aprender tornou-se uma fronteira de negócios de dimensões inimagináveis.

Os dados mais recentes na área de educação permitem visualizar como avança a questão da educação enquanto negócio. Em 1998, tínhamos 6.950 cursos nas universidades brasileiras, 2.970 nas universidades públicas e 3.980 nas privadas. Em 2002, passamos para uma situação de 14.389 cursos, sendo 5.242 nas públicas e 9.147 nas privadas. E a conclui: A questão da educação enquanto serviço e negócio tornam-se cada vez mais importantes. Tão importante que no governo do ex-presidente FHC o País se abriu para o mercado global ao considerar a educação como mercadoria, a partir do tratamento dado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) assim descrito pela professora Maria Aparecida Baccega (USPSP) no texto Comunicação e Educação (2005) : A educação como parte de serviços é uma das discussões no bojo da OMC. Para a OMC, seria importante que o Brasil não mantivesse nenhuma restrição nesse setor; que facultasse que empresas de educação pudessem ter 100% de capital estrangeiro, o que hoje não é possível […].

Interessa muito, portanto, que fornecedores de serviços educacionais dos vários países possam atuar no Brasil em igualdade de condições com os fornecedores brasileiros. E conclui: Essa liberação de ‘fronteiras’ no campo da educação não se restringe à fundação de cursos presenciais de universidades estrangeiras em nosso país. Também estão presentes os cursos a distância, que a tecnologia possibilita. Uma universidade americana, por exemplo, pode oferecer um curso de pós-graduação por Internet e ele ser reconhecido aqui. Assim, essa liberação de fronteiras acontece em São Paulo, onde universidades nacionais e internacioinais compram as que estão com dificuldades financeiras, com baixo nível de competitividade na lógica do comércio educacional em plena era das fusões e incorporações de empresas.

Diante dessa situação, volta-se para o economista Paulino: Na medida em que esses processos vão se globalizando, na medida em que uma instituição como a Organização Mundial do Comércio passa a regulamentar esses temas, eles passam a ter um viés totalmente comercial. Educação é muito mais que habilidades e competências. Trata-se, acima de tudo, de formar o cidadão, inculcar-lhe os padrões morais e éticos constituintes de uma sociedade. E no capitalismo haveria lugar para uma universidade ética, intelectualmente honesta e comprometida com o povo?