Em reunião com estudantes da USP, Suely Vilela diz que só voltará a conversar quando eles deixarem o prédio.

Depois de uma reunião de quase cinco horas com alunos invasores do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), a reitora Suely Vilela encerrou as negociações com os manifestantes e afirmou já ter garantido o que poderia. Entre os pedidos que seriam atendidos com o fim da ocupação estão a abertura do bandejão aos fins de semana, mais vagas para moradia estudantil e a retirada de um projeto que endurecia regras para jubilação (perda da vaga). Suely disse que só volta a negociar sobre outras reivindicações quando o local for desocupado. O encontro com a comissão de 20 alunos e 6 funcionários ocorreu na Escola Politécnica. Começou por volta das 15 horas e terminou logo após as 20 horas.

“Ela endureceu”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho, que participou da reunião. “Ela só dizia: desocupa e depois a gente discute”. A reitora não atendeu a imprensa e divulgou nota em que dizia que os alunos devem trazer uma proposta para a desocupação. Os estudantes fazem assembléia hoje às 18 horas. Foi discutida também a criação de uma comissão paritária de “gestão de pós-ocupação” para futuras negociações.

Os ocupantes protestavam contra dois decretos do governador José Serra publicados em janeiro que, na avaliação deles, feriam a autonomia universitária. Na semana passada, o governador cedeu e editou novo decreto. Mesmo assim, os estudantes continuaram na reitoria.

ATO CONTRA INVASÃO

Amanhã, professores da USP farão um ato de repúdio à ocupação do prédio. Eles vão se reunir na Praça Ramos de Azevedo, na Cidade Universitária, às 9 horas e caminharão em passeata até o prédio invadido da reitoria. Os organizadores do ato contrário à ocupação estão convocando professores, estudantes, funcionários, ex-alunos e a sociedade para participar. “Todos os amigos da USP são bem-vindos”, disse o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Sylvio Sawaya. Segundo ele, o movimento é independente, mas tem o apoio da reitora. Ainda não há confirmação de que ela irá participar do ato.

Ao fim da passeata, os professores pretendem entregar um documento aos invasores, cujo texto diz que a USP deve mostrar união e que a invasão da reitoria foi uma “agressão simbólica” e tem causado “repulsa e descrença da opinião pública com relação à universidade”. “É importante que exista o ato, mesmo com poucos integrantes”, disse Sawaya.

MADRUGADA JUNINA

Sem quentão nem roupas típicas de quadrilha, uma festa junina esquentou a fria madrugada de ontem em frente à reitoria da USP, com direito a decoração de bandeirinhas e bexigas coloridas. Cerca de 50 estudantes reuniram-se para celebrar o tradicional “casamento na roça”: os noivos, representados por dois alunos, eram o secretário de Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, e a reitora da universidade, Suely Vilela.

A “bênção” foi dada por um aluno que imitava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os padrinhos da cerimônia eram o governador de São Paulo, José Serra, e um policial da tropa de choque, também encarnados por dois estudantes.

Após a celebração, os alunos formaram duplas para a quadrilha. Durante a dança, gritos de “olha o choque”, “o decreto caiu” e “olha a bomba de efeito moral” vinham acompanhados do “é mentira! ahhhhh!”. A festa continuou madrugada adentro.