O ensino superior brasileiro continua basicamente branco. Isto é o que revelam os resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) – que substituiu o Provão – divulgado na semana passada pelo governo federal.

Os dados revelam que quase 70% dos estudantes avaliados no Enade neste ano declararam-se brancos, enquanto apenas 22,7% consideraram-se pardos e 5,4%, negros. Comparações com anos anteriores também mostram uma evolução desde 2002, mas ainda pequena. Na sociedade brasileira, os pardos representam 40% da população – quase o dobro do encontrado nas faculdades avaliadas pelo Enade em 2007.

Esses números só trazem à tona aquilo que muitos já sabem, mas não admitem ou então têm vergonha de dizer: vivemos num país extremamente preconceituoso, onde a população negra ainda é discriminada e precisa lutar com unhas e dentes para mostrar que tem direitos como os de qualquer cidadão brasileiro, seja ele, branco, índio ou pardo. Nem mesmo o sistema de cotas, com seus prós e contras, conseguiu diminuir essa triste realidade. Muitos que depois de lutar e “provar” que realmente são negros sofrem preconceito dos próprios colegas em sala de aula, o que é lamentável.

O Enade deste ano mostrou ainda que mais da metade dos alunos que fizeram o exame cursaram todo o ensino médio em escola pública. É uma boa evolução, mas não o suficiente, se levarmos em consideração que 87% dos estudantes de ensino médio no país estão em escolas públicas. Quem fica, porém, com as vagas dos cursos mais cobiçados são aqueles alunos que puderam fazer pelo menos o segundo grau numa escola particular. O restante vai trabalhar o dia inteiro para poder pagar uma faculdade à noite. Se o Enade for avaliar esse nicho com certeza irá encontrar aí também uma grande maioria de negros e pardos, que se quiserem ter um diploma de nível superior nas mãos têm suar muito para conseguir.

Que esses dados sirvam para o governo repensar a educação neste país e avaliar que o Brasil só será uma grande nação quando todas as pessoas, independente da cor, tiverem direitos iguais, mas que isso ocorra na prática, já que na teoria essa premissa faz parte da nossa Constituição.