Alunos discutem impacto de invasão sobre pauta de reivindicações.

Alunos da USP (Universidade de São Paulo), que desde o dia 3 ocupam o prédio da reitoria, vão discutir até onde a continuidade da ocupação pode interferir nas conversas com a direção da universidade e o governo estadual. O anúncio foi feito ontem, em comunicado elaborado pêlos próprios estudantes e enviado à imprensa.

A Justiça determinou a saída dos alunos do prédio no dia 16. Desde o dia 18 a Polícia Militar de São Paulo prepara uma ação para a retirada dos estudantes da reitoria, no entanto, ela não foi concretizada até agora devido às negociações que acontecem entre os alunos, governo estadual e a reitoria da universidade.

No comunicado os alunos negam que a reunião realizada na segunda-feira com o secretário de Justiça, Luiz António Marrey, e a reitora da USP, Suely Vilela, tenha terminado em impasse. Segundo eles, o que houve foi uma proposta feita pêlos alunos ao governo – a de retirada dos decretos do governador José Serra (PSDB), entre eles o que cria a Secretaria de Ensino Superior e estabelece um maior rigor no acompanhamento das contas.

A contraproposta dada por Marrey, ainda segundo os alunos, foi a de que o governo não irá revogar os decretos, no entanto, Marrey teria se mostrado disposto a reescrever parte deles. Além dos estudantes, professores e funcionários defendem que a manutenção dos decretos irá ferir a autonomia das universidades estaduais paulistas.

Além da retirada dos decretos, os alunos pedem o aumento de um ponto percentual no repasse do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de 30% para 31%, destinado à área de educação. Os demais pontos da lista de 17 reivindicações é tratado pêlos estudantes como um assunto interno da comunidade acadêmica, e é nessa esfera que precisam ser discutidos, segundo informam.

EXPLÍCITO

O comunicado cita ainda que em nenhum momento da reunião Marrey e Suely condicionaram a continuidade das negociações à saída dos alunos do prédio. “O secretário foi explícito ao afirmar que a continuidade das negociações não estava condicionada à desocupação da reitoria da USP, embora entendesse que o processo de negociação seria mais tranquilo se a reitoria fosse desocupada. O movimento estudantil da USP vai avaliar, nos seus fóruns apropriados, qual o impacto da manutenção da ocupação da reitoria da USP para as negociações”, informa o comunicado.

Procurados para comentar o assunto nesta tarde, os alunos negam que a proposta seja um recuo em sua decisão de permanecer no prédio. No entanto, um aluno da comissão de imprensa da ocupação disse que o assunto será debatido em uma reunião a ser realizada pêlos estudantes.

A decisão de manter a ocupação aconteceu durante uma assembleia dos alunos realizada após o encontro com Marrey. Na terça-feira, eles informaram que aguardam uma resposta da reitoria da USP e do governo estadual a respeito de uma nova reunião para discutir sua pauta de reivindicações.

Protesto marcado para hoje 

Estudantes, professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) farão hoje à tarde um protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Eles devem sair da Cidade Universitária por volta do meio-dia. A manifestação é liderada pêlos sindicatos e pêlos alunos que ocupam a reitoria da instituição. Um dos principais motivos do movimento são cinco decretos assinados pelo governador Serra que, para parte da comunidade acadêmica, ferem a autonomia universitária. Mas também fazem parte das reivindicações contratação de mais professores, aumento do repasse para a educação, construção de moradia estudantil e reajuste.

Ontem, um grupo de estudantes saiu da reitoria e passou o dia fazendo um “arrastão” por várias unidades do campus, convocando mais adesões. Eles pretendem angariar o maior número possível de alunos para que, durante a manifestação de hoje a reitoria não fique esvaziada. Há, entre eles, o temor de que a Polícia Militar aproveite o período para cumprir a reintegração de posse, ordenada há mais de duas semanas pela Justiça em ação movida pela reitora Suely Vilela.

A USP tem cerca de 80 mil alunos e 5 mil professores. A greve e a continuação da ocupação foi votada em assembléia com cerca de 2 mil alunos e 200 professores. Além disso, os funcionários também aderiram e estão, em parte, ocupando também a reitoria. Não existe um balanço de quantos funcionários e professores estão paralisados nas universidades estaduais. Na USP, dos 15 mil funcionários, 75% aderiram à greve, segundo o sindicato. Na Unicamp, são cerca de 20% dos 7,3 mil trabalhadores.

Seguindo o modelo do grupo da USP, estudantes da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) fizeram nos últimos dias invasões em cinco dos 23 campi da instituição espalhados pelo interior. De acordo com a assessoria de imprensa da Unesp, há protestos em Rio Claro, Assis, Franca, Presidente Prudente e Ilha Solteira.

Ontem, alunos, professores e servidores da Faculdade de Medicina da Unesp no campus de Botucatu aderiram parcialmente à greve iniciada, também parcialmente, em outras unidades. Logo de manhã, os alunos se concentraram em frente ao prédio -que abriga os cursos de Medicina. Muitos professores suspenderam as í aulas e liberaram as classes, aderindo à mobilização. Houve suspensão parcial de aulas também no Instituto de Biociências da universidade. A diretoria da Faculdade de Medicina preparou esquema de emergência para manter o atendimento no Hospital das Clínicas durante a greve.