Minutos após ser recebido ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, anunciou uma série de invasões na próxima quarta-feira de prédios de reitorias de universidades públicas. A UNE reivindica R$ 200 milhões ao ano para assistência estudantil nas instituições federais. “Muitos alunos estão chegando às universidades, mas não conseguem concluir o curso por falta de alimentação, transporte e política estudantil”, disse o presidente da UNE, chamado de “Pettinha” por Lula.

As invasões programadas para quarta não devem passar de um dia. A princípio, a entidade não quer repetir o que ocorre na Universidade de São Paulo (USP), onde estudantes ocupam há 28 dias o prédio da reitoria. Ao contrário do que ocorre na USP, onde os manifestantes mantêm uma relação difícil com o governador José Serra (PSDB), a direção da UNE é aliada do Palácio do Planalto. A UNE é uma das entidades que sempre apoiaram o governo petista. A entidade chegou a organizar manifestações, durante as crises políticas de 2005, para defender o presidente Lula. Em troca, o governo atendeu a uma série de pedidos de liberação de recursos feitos pela entidade.

A onda de protestos na quarta-feira é uma forma de a UNE marcar posição. “Na semana que vem, haverá dia nacional de mobilização em torno da questão da assistência estudantil. Muitas reitorias vão ser ocupadas, muitas manifestações vão acontecer para exatamente pressionar o governo a adotar uma medida para ajudar os estudantes”, disse Petta.

O presidente da UNE disse ainda que quer uma solução rápida do governo para garantir os estudos dos estudantes pobres. “Hoje o Brasil não tem verba específica para isso”, afirmou. O presidente da UNE relatou que, na audiência, Lula disse que iria conversar com o ministro da Educação, Fernando Haddad. Na avaliação de Lula, segundo relato de Petta, o governo pode resolver a questão sem precisar enviar proposta para o Congresso.

O IMPASSE NA USP

Estudantes, professores e funcionários da USP farão hoje à tarde um protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Eles devem sair da Cidade Universitária por volta do meio-dia. A manifestação é liderada pelos sindicatos e pelos alunos que ocupam a reitoria da instituição. Um dos principais motivos do movimento são cinco decretos assinados pelo governador Serra que, para parte da comunidade acadêmica, ferem a autonomia universitária. Mas também fazem parte das reivindicações contratação de mais professores, aumento do repasse para a educação, construção de moradia estudantil e reajuste.

Ontem, um grupo de estudantes saiu da reitoria e passou o dia fazendo um “arrastão” por várias unidades do campus, convocando mais adesões. Eles pretendem angariar o maior número possível de alunos para que durante a manifestação de hoje a reitoria não fique esvaziada. Há, entre eles, o temor de que a Polícia Militar aproveite o período para cumprir a reintegração de posse, ordenada há mais de duas semanas pela Justiça em ação movida pela reitora Suely Vilela.

A USP tem cerca de 80 mil alunos e 5 mil professores. A greve e a continuação da ocupação foram votadas em assembléia com cerca de 2 mil alunos e 200 professores. Além disso, os funcionários também aderiram e estão, em parte, ocupando também a reitoria. Não existe um balanço de quantos funcionários e professores estão paralisados nas universidades estaduais. Na USP, dos 15 mil funcionários, 75% aderiram à greve, segundo o sindicato. Na Unicamp, são cerca de 20% dos 7, 3 mil trabalhadores.

INTERIOR

Seguindo o modelo do grupo da USP, estudantes da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) fizeram nos últimos dias invasões em cinco dos 23 campi da instituição espalhados pelo interior. De acordo com a assessoria de imprensa da Unesp, há protestos em Rio Claro, Assis, Franca, Presidente Prudente e Ilha Solteira.

Ontem, alunos, professores e servidores da Faculdade de Medicina da Unesp no campus de Botucatu aderiram parcialmente à greve iniciada, também parcialmente, em outras unidades. Logo de manhã, os alunos se concentraram em frente ao prédio que abriga os cursos de Medicina. Muitos professores suspenderam as aulas e liberaram as classes, aderindo à mobilização. Houve suspensão parcial de aulas também no Instituto de Biociências da universidade. A diretoria da Faculdade de Medicina preparou esquema de emergência para manter o atendimento no Hospital das Clínicas durante a greve.