Uma revolução no Ensino Superior estará em discussão a partir deste domingo, em Porto Alegre, durante o 20º Encontro do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras.

O evento, que segue até terça-feira na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), terá entre seus temas o projeto Universidade Nova, uma proposta que vem sendo elaborada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com apoio do Ministério da Educação.

Pela proposta, inspirada nos modelos norte-americano e europeu, os universitários se submeteriam a três anos de formação geral. Só depois disso escolheriam as áreas específicas profissionalizantes hoje existentes, como Direito ou Medicina.

A expectativa é de que a universidade baiana implante o sistema em 2009. O projeto será apresentado em Porto Alegre na segunda-feira pelo reitor da UFBA, Naomar de Almeida Filho. Também estará na Capital Luiz Bevilácqua, reitor da Universidade Federal do ABC, que adotou uma variante do modelo.

A coordenadora do projeto na instituição baiana, Márcia Pontes, explica que entre os objetivos da transformação estão evitar a escolha precoce da profissão e oferecer uma formação mais geral aos universitários:

– Os cursos estão focados atualmente em uma única área. A nossa idéia é desenvolver competências gerais, porque o mercado precisa de gente com capacidades mais amplas, como escrever bem, fazer análises e montar projetos.

A formação básica inicial, em três modalidades diferentes, garantiria após os três anos de curso um diploma de nível superior, mas sem qualificação para uma profissão. A idéia é evitar a situação atual, na qual diplomados atuam em áreas sem relação com a formação que tiveram.

– Metade das pessoas que saem das universidades não trabalha na área em que se formou. Queremos evitar o desperdício, oferecendo uma formação geral – afirma Márcia.

O projeto Universidade Nova tem sofrido oposição do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN). O presidente da instituição, Paulo Rizzo, afirma que a simples mudança de modelo sem investimentos maciços não resolverá o problema.

– Essa é uma proposta do governo para atingir a meta de dobrar o número de alunos nas universidades. Para isso, está oferecendo só 10% a 20% a mais de recursos. Acho bom que os pró-reitores discutam isso para não aderirem a essa idéia de qualquer jeito – diz Rizzo.

Segundo Márcia Pontes, a adoção do novo modelo, que seria opcional, teria como principal investimento adicional à contratação de novos professores, em áreas como língua portuguesa e língua estrangeira.

O novo modelo.

Confira como poderiam funcionar as universidades, segundo o projeto patrocinado pelo Ministério da Educação:

O vestibular.

Os candidatos escolheriam entre três opções: Bacharelado em Artes, Bacharelado em Humanidades e Bacharelado em Ciência e Tecnologia.

Formação geral.


Com duração de seis semestres, o curso ofereceria uma formação geral aos estudantes. Teria disciplinas obrigatórias como língua portuguesa, língua estrangeira e estudos da contemporaneidade. O aluno ainda escolheria seis matérias, de três blocos diferentes: Cultura Artística, Cultura Humanística e Cultura Científica. Ele deveria cursar duas disciplinas de cada bloco. Também estão previstas disciplinas de orientação profissional, para ajudar o estudante a decidir seu futuro.

Conclusão do bacharelado.

Os três últimos semestres do bacharelado seriam voltados para subáreas relacionadas ao campo específico escolhido pelo aluno no vestibular. Se ele escolheu o Bacharelado em Ciência e Tecnologia, por exemplo, seria a hora de cursar física e matemática.

Novo diploma.

Ao terminar o bacharelado de três anos, o estudante conquista um diploma de curso superior, mas sem formação específica para uma profissão. Segundo a proposta, ele estaria pronto para atuar em várias áreas do mercado de trabalho.

A profissionalização.

Terminados os três anos de formação, o estudante escolheria o curso profissionalizante de Ensino Superior que pretende seguir. Se ele fez o bacharelado em Ciência e Tecnologia, poderia escolher entre opções como Engenharia ou Informática. O acesso seria automático, exceto em cursos mais concorridos, que exigiriam uma prova de seleção. A parte profissionalizante da formação teria duração de um ano (Biblioteconomia, por exemplo) a quatro anos (Medicina).