* Julio César Cardoso

Fala-se em ampliação do número de universidades federais no País. Não acho que o Brasil necessite aumentar o seu parque universitário, e aqui incluo as faculdades públicas e privadas. O País, a bem da verdade, não está precisando de muitos “doutores”. Para quê? Para serem uns frustrados com o canudo debaixo do braço e sem mercado de trabalho? Para que tantos cursos superiores? Temos professores suficientes e realmente capazes e habilitados por todo este País, para proporcionar um ensino de qualidade? Não adianta quantidade de cursos, queremos é qualidade!

O País precisa é investir na educação básica de alta qualidade, dando ênfase para os cursos técnicos profissionalizantes, para que o cidadão já possa sair em condição de trabalhar. Nós precisamos é de especialização técnica de nível médio e não universitária. A universidade é importante, mas não se pode iludir o cidadão brasileiro acenando que o curso superior é a garantia de sua segurança no mercado de trabalho. Por outro lado, o mercado de trabalho brasileiro não é altamente especializado a ponto de exigir formação universitária.

Por que banalizar o curso superior? Por que se criar um contingente de cidadãos, com curso superior, gerando uma expectativa frustrante num País sem emprego, cujo indivíduo com formação universitária se obriga, por exemplo, a se submeter a um concurso público para as funções de gari, ou a exercer trabalho de balconista em casas comerciais? Não que essas atividades não sejam respeitáveis. Mas…

A formação universitária é importante, mas as necessidades e características brasileiras, são diferentes das de países desenvolvidos. Não sou contra o ensino superior. Sou a favor inicialmente de uma educação básica obrigatória de alta qualidade para todos os segmentos sociais (negros, brancos, índios etc), e já voltada para o mercado de trabalho, para que, independentemente de raça ou posição financeira, todos tenham a mesma condição de disputa – igualdade -, em que apenas os fatores capacidade, competência etc. concorrerão para o sucesso de cada um.

País como a Alemanha dá muita importância aos cursos técnicos, em que os seus profissionais são bem remunerados e conceituados. Por que o Brasil mostra uma tendência política para dar preferência ao ensino universitário, que é caro e cujo retorno de investimento aplicado é bastante discutível, quando devia apostar mais na educação técnica e profissionalizante? Será que os dividendos políticos são mais auspiciosos com a abertura de universidade para todos? O único político que vejo, no País, com propostas sérias sobre a educação brasileira é o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o qual, aliás, defende o ensino profissionalizante.

O país anda na contramão da realidade brasileira. Hoje temos uma legião de miseráveis e analfabetos, semi-analfabetos e alfabetizados, sem emprego. Amanhã teremos tudo isso acrescido maciçamente de cidadãos com diplomas universitários, se os nossos políticos e governantes não se preocuparem com o País, oferecendo uma educação básica e profissionalizante de alta qualidade, voltada para a nossa realidade, bem como uma política de abertura de novas fontes de trabalho.

* Julio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado.