Helena Ferraz, 45 anos, é professora de Língua Portuguesa na Rede Estadual de Educação e se desdobra em três empregos para conseguir ganhar um salário considerado por ela razoável.

“Dou aula em três escolas diferentes em três períodos todos os dias. É muito cansativo para eu conseguir ganhar um salário que não considero ser tão bom”, disse Helena, cuja situação exemplifica o resultado de uma pesquisa realizada pela professora Edna Chamon, da Unitau (Universidade de Taubaté). Edna questiona em seu estudo o que é ser professor, uma questão-chave para a educação do século 21.

Com o título “Formação e Construção Identitária de Professores”, o projeto recebeu fomento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico) e procurou responder ao questionamento com base na realidade do professorado do Vale do Paraíba e do Litoral Norte.

O trabalho teve início em 2002, época em que a professora fazia seu pós-doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e foi convidada a participar de um programa promovido pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro.

ANÁLISE – As análises de Edna basearam-se em questionários respondidos por cerca de 250 professores e textos autobiográficos de 40 profissionais da educação.

Segundo Edna, o salário do professor não é suficiente para, por exemplo, custear um curso de pós-graduação. “Fica difícil, com o salário que o professor recebe, conseguir pagar um curso para ele se especializar, o que é necessário para todas as profissões neste mundo onde a informação é bem veloz”.

A pesquisadora defende que o grande responsável pela visão estereotipada e negativa do professor – como aquele profissional que não cumpre sua função da maneira que deveria – é o próprio sistema de ensino, que não proporciona condições para que ele pense, reflita e prepare suas aulas.

“Houve uma proletarização da mãos-de-obra educativas, que faz com que o professor ocupe todo o seu dia dando aulas. Sem tempo para se aperfeiçoar, fica difícil que faça um trabalho de qualidade.”

Edna comparou o salário de um professor com o de qualquer outro profissional. “Um administrador de empresas, por exemplo, tem um salário inicial maior do que o de um professor”.