Só ontem as instituições de ensino souberam quantos alunos terão o benefício da Capes, o que geralmente ocorre no final de fevereiro.

 

Para a Capes, não houve atraso porque a instituição não havia se comprometido a conceder bolsa a nenhuma universidade ou estudante.

 

Com três meses de atraso, a Capes (fundação vinculada ao Ministério da Educação) anunciou que começou ontem a distribuir suas bolsas de estudo a novos alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado.

O órgão é uma das principais instituições que incentivam a pesquisa no Brasil. Dos quase 50 mil pós-graduandos bolsistas em atividade, 58% são financiados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Essas bolsas, destinadas àqueles que tiverem as melhores notas na seleção, visam permitir que os alunos se concentrem integralmente nos estudos e nas pesquisas. Em contrapartida, eles não podem exercer atividade remunerada.

Com isso, os alunos que estavam na expectativa de obter a bolsa ficaram sem fonte de rendimentos desde o mês passado, quando as bolsas são pagas.

Esse foi o caso de Eduardo Luiz de Oliveira, 29, mestrando em parasitologia na Universidade Federal de Minas Gerais. “O meu programa sempre tem cinco bolsas, e eu fiquei entre os melhores. Não posso procurar emprego sob o risco de perder o auxílio.” Também bolsista, a mulher de Oliveira está grávida de cinco meses. “Estamos vivendo com a bolsa dela, de R$ 940 por mês”, contou.

O problema atingiu o pós-graduando que começou seu curso neste ano. A Capes não informou quantos irão receber o benefício.

As bolsas concedidas pela Capes são de R$ 940 (mestrado), R$ 1.394 (doutorado) e R$ 3.300 (pós-doutorado).

Tradicionalmente, entre final de fevereiro e início de março as universidades já sabem quantas bolsas terão, e os bolsistas começam a receber o dinheiro em abril.

Revisão de critérios

A reportagem solicitou entrevista com a direção da Capes, mas não foi atendida.

A assessoria de imprensa do órgão informou que neste ano a liberação das bolsas demorou porque a entidade estava revendo a distribuição desses benefícios, para dar mais ênfase a áreas consideradas prioritárias pelo governo Lula, como política industrial, tecnologia e comércio industrial.

A Capes informou também que não considerou a situação deste ano como “atraso”, pois não havia se comprometido a conceder bolsa a nenhuma universidade ou estudante.

O vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Celso Melo, ex-diretor do CNPq (também agência de fomento à pesquisa do governo federal), criticou o atraso. “Se houve mudança em critérios, isso deveria ter sido visto antes.”