Nos últimos anos, têm crescido no Ensino Superior a percepção de que a internacionalização das ações é uma necessidade para o desenvolvimento das instituições. Não apenas pela importância da “troca” de culturas, mas também por nossa realidade “globalizada”. Manter parceria com universidades estrangeiras é fundamental para o crescimento da IES, bem como para ampliar o alcance das estratégias.

Nesta direção, muitas instituições brasileiras têm procurado investir na criação de uma estrutura específica para suas iniciativas de convênios internacionais. Parte desta estratégia passa pela necessidade da criação de condições para que alunos estrangeiros cheguem no Brasil, se adaptem rapidamente, tirem proveito da experiência e – naturalmente – levem informações positivas para o seu país.

“A internacionalização é uma das metas estratégicas da universidade, e isso significa que não passa só pelo intercâmbio, mas, sobretudo, pelas parceria entre as instituições”, afirma a Gerente de Relações Interinstitucionais e Intercâmbio Acadêmico da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Miriam Mylius. “Mas o intercâmbio também é extremamente positivo. As universidades brasileiras não mostram para o aluno estrangeiro as qualidades do ensino que temos aqui. E o intercâmbio é uma oportunidade de fazermos esse trabalho.”

Para fazer este trabalho, as instituições têm procurado trabalhar em todas as etapas do intercâmbio. Em geral, ele começa desde os primeiros contatos do aluno com a instituição. Na UEM (Universidade Estadual de Maringá), por exemplo, a universidade define um professor-tutor, que entra em contato com o aluno antes mesmo da viagem. A instituição paranaense trabalha apenas com intercâmbio para estágio (de pesquisa ou monitoria). Assim, o visitante chega no Brasil já com o plano de trabalho traçado.

Questões legais e de permanência

Antecipar ao máximo o contato com o aluno é de fundamental importância. Principalmente na assessoria em relação as questões legais e de permanência – obtenção e manutenção do visto, estadia, alimentação. Se os contatos nesse sentido forem adiantados, diminuem os riscos de problemas na adaptação ao local.

“Os estudantes vêm para nossa universidade e ficam locados em um departamento, para fazer atividades em um laboratório ou mesmo na fazenda da UEM. Temos toda a preocupação em determinar, de imediato, um professor-tutor, que entra em contato com o aluno, o acompanha e traça um plano de atividades”, explica Alessandra Cenerino, do escritório de Relações Internacionais da UEM. “Oferecemos um apartamento específico para eles e, desde os primeiros momentos, damos suporte em todas as questões legais. Inclusive, acompanhando o aluno ao posto da Polícia Federal para regularização do passaporte.”

Uma questão que têm forte influência no processo é a da moradia. No Brasil, proporcionalmente, poucas instituições possuem estrutura de moradia estudantil. Frente a este problema, algumas instituições buscam saídas alternativas para receber os estudantes sem prejuízo das condições de estadia e, obviamente, com um custo razoável.

“O nosso sistema de hospedagem é formado, principalmente, por casas de família. Abrimos para a comunidade ao entorno da instituição para cadastro e criamos um banco de famílias dispostas e fazemos a intermediação”, explica Miriam. No caso da Unisinos, localizada na grande Porto Alegre, RS, há ainda a vantagem de que as parcerias mais numerosas são realizadas com instituições alemãs, o que coincide com o perfil da região, habitada por muitas famílias descendentes de colonos dos país europeu. “Por isso, também, a integração com os alunos de família alemã é bastante grande”, acrescenta.

Adaptação acadêmica

Resolvidos os problemas burocráticos, vem o mais importante: a adaptação acadêmica. É nesta hora que terão peso as diferenças culturais entre os alunos – em especial no que diz respeito ao idioma e aos costumes. Neste momento, como a instituição pode trabalhar para reduzir os efeitos negativos? Parte relevante do processo é a capacitação dos docentes, que terão contato direto com os alunos. Este tema foi tratado na primeira parte deste especial, que pode ser lido neste link.

“Temos um setor de intercâmbio acadêmico que acompanha a vinda do aluno, desde o momento em que ele está organizando a viagem. Nesta fase, já ajudamos a escolher as disciplinas e colocamos em contato com o coordenador do curso, para que ele se prepare para o curso que vai estudar aqui”, acrescenta Miriam, da Unisinos. “Em alguns casos, inclusive, para facilitar a adaptação, os professores aceitam que alunos de países vizinhos entreguem seus primeiros trabalhos em espanhol.”

No entanto, é preciso que a instituição cuide para que os professores não sejam os únicos responsáveis pela integração dos visitantes. Uma questão que deve ser observada sempre, em qualquer condição, é o respeito à cultura do aluno que está em intercâmbio. Isso porque, para garantir uma estadia benéfica, ele precisa se sentir aceito no meio em que se encontra. Assim, muitas instituições têm procurado alternativas para que estes alunos demonstrem sua cultura aos demais, valorizando a coexistência entre todas elas.

“Uma atividade que trabalhamos aqui com resultados positivos é o “almoço das nações”. Nele, cada estudante traz um prato típico do seu país e reunimos todos eles com os alunos da nossa universidade”, conta Miriam. “Como parte do projeto de intercâmbio de estudos, estamos estudando a criação de alguns dias de integração, até para que o aluno possa se integrar à comunidade, à universidade e mesmo à nossa cidade. Mas é algo em que estamos trabalhando, ainda”, afirma Alessandra, da UEM.

Neste ponto, não é difícil imaginar a importância que os alunos da instituição têm na integração destes estudantes estrangeiros. Assim, uma estratégia de suma importância é motivar os estudantes para que estes recebam bem e ajudem o aluno de intercâmbio a alcançar resultados positivos em sua estada.  “Uma ação que estudamos nesse momento é formalizar esse apoio dos alunos locais, criando a figura do “mentor”. Nesse projeto, um aluno fica responsável por acompanhar o aluno estrangeiro desde o planejamento, dando orientações por MSN, e-mail. Mas é algo que devemos implantar apenas no ano que vem”, finaliza Miriam.

Esta matéria é a segunda parte de um especial que fala sobre a presença de estudantes estrangeiros em instituições brasileiras. Clique no link Uma aula multicultural, no link acima e à direita, para conferir como docentes lidam com alunos vindos de outros países em sala de aula.