A Polícia Federal identificou 30 suspeitos de comprar vagas em cursos superiores no vestibular de 2007. A investigação faz parte da Operação Vaga Certa, desencadeada anteontem para combater um esquema de venda de vagas em universidades públicas e particulares, em geral para cursos de Medicina, de vários estados. Algumas vagas eram negociadas por até R$ 70 mil.

Segundo o delegado da PF no Rio Lorenzo Martins Pompílio da Hora, as sete pessoas presas – duas no Rio e cinco no Ceará – já foram denunciadas pelo procurador Marcelo Miller, do Ministério Público Federal.

A PF espera o retorno de investigadores que foram ao Ceará para começar a análise do material apreendido. Documentos falsos e movimentações bancárias integram a lista. O trabalho será feito em conjunto com o Ministério Público e o Judiciário. Pompílio informou que ao longo da semana vai ser reunir com o Ministério Público Federal para estudar se indicia também os candidatos ao vestibular e os seus pais pelo crime de estelionato.

“Eles tinham ciência da ação, pagaram para que outras pessoas fizessem o vestibular, enfim, concorreram para a prática do estelionato. Eles também podem ser indiciados.Vamos ver qual será o entendimento do MP”, afirmou o delegado.

“Pilotos”

Pompílio explica que estudantes universitários conhecidos como “pilotos” eram recrutados pela quadrilha e, usando documentos falsos, faziam provas de vestibular em nome de interessados em adquirir vagas.Os “pilotos”, no jargão do bando, são os estudantes com excelente histórico escolar. Eles ganhavam cerca de R$ 6 mil no esquema. “Sem eles, a quadrilha não tem como oferecer o ingresso na universidade”, conta o delegado responsável pelo caso.

Pompílio acrescentou que os investigados pertencem a organizações externas às universidades e que ainda é cedo para afirmar que funcionários das instituições de ensino participavam do esquema.

Olavo Vieira de Macedo, estudante cearense do curso de Medicina suspeito de chefiar a quadrilha está sendo aguardado na Polícia Federal no Rio Grande do Sul. O advogado da família de Olavo vai pedir a revogação da mãe do estudante, presa em Fortaleza, sob a alegaçao de que ela não participava do esquema.

Fraudes já identificadas

Pelo menos duas instituições de São Paulo, a Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), tiveram o vestibular fraudado pela quadrilha desbaratada na Operação Vaga Certa. Não há indícios, ainda, da participação de funcionários das instituições no golpe. Dois alunos da Universidade de São Paulo (USP) são suspeitos de integrarem a quadrilha.

Os nomes da UMC e Unaerp apareceram na contabilidade apreendida pela Polícia Federal em Fortaleza, na casa da família de Olavo Vieira Macedo, acusado de ser o mentor da quadrilha.

No documento divulgado pela PF, uma folha de caderno, havia a relação de instituições, nomes dos candidatos e a quantia paga por eles. A Unaerp aparece em três inscrições, ligadas aos nomes de Marisa, Natália e Carlos Alberto (Sérgio). Juntos, eles pagaram R$ 80 mil. O documento também trazia a seguinte inscrição: Mogi – Isabel – R$ 25 mil. Essa quantia foi depositada à vista na conta de Olavo Macedo.

A contabilidade tem ainda os valores pagos e nomes de 12 alunos, que deveriam prestar o vestibular para a Universidade Gama Filho, no Rio, e o Unificado Cesgranrio (que reúne dez instituições fluminenses).