Em Campinas, queda do poder aquisitivo provoca redução de alunos na educação básica e nas faculdades particulares

A queda do poder aquisitivo da classe média provocou a redução do número de alunos na educação básica da rede privada e a desaceleração do crescimento do número de universitários nas faculdades particulares na região de Campinas. A quantidade de estudantes na Educação Básica na rede privada caiu 3% em 2006 em relação a 2005, passando de 252.728 para 244.725 crianças e adolescentes. Isso é uma tendência de queda, já que, em 2004, havia 257.862 matriculados em escolas particulares da região.

Em compensação, o número de escolas vem saltando: 1.088, em 2004; 1.124, em 2005; e 1.144, em 2006. No Ensino Superior houve aumento de 4% no número de universitários em 2005 (132.005) em comparação à 2004 (127.079). Entretanto, este crescimento ficou abaixo do Estado (7,3%) e do Brasil (9,2%) e, é o segundo menor desde 2001 na região de Campinas.

Os dados são parte de estudo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) e das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), divulgados na semana passada, cruzados com um levantamento da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), de fevereiro deste ano.

De acordo com a Acic, entre 2000 e 2005, a queda no poder aquisitivo do trabalhador da Região Metropolitana de Campinas (RMC) foi de 22,9%. Em 2006, os salários nominais ficaram mais 1,04% menores na RMC, conseqüência direta da política de redução de custos pelas empresas. Apesar de mais abertura de postos de trabalho, o salário médio do trabalhador, que em 2005 ficou em R$ 946,54, passou para R$ 936,73 em 2006.

Segundo o presidente do Sieeesp, José Augusto de Mattos Lourenço, a classe média, o principal cliente do mercado da educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), perdeu de 30% a 40% da renda nos últimos seis anos.

A consequência é a alta inadimplência na região de Campinas, que atingiu os 8,71% em fevereiro deste ano. A oferta de vagas na rede particular está maior do que a procura, causando a saturação do sistema. “A tendência, futuramente, é o fechamento de escolas porque não haverá crianças suficientes para todo mundo”, analisou Mattos, referindo-se à queda da natalidade na classe média. “Entre 600 e 700 novas escolas são abertas no Estado por ano e são fechadas, todo o ano, de 300 a 400 unidades, sendo 90% delas de Educação Infantil”, explicou.

Com a queda do poder aquisitivo, segundo Mattos, pode ser que alunos da região de Campinas estejam migrando de escolas particulares para públicas. Isso é o que fez Ana Cristina Vieira com a filha Mariana, que hoje cursa a 2 série do Ensino Médio em uma escola estadual. Mesmo com bolsa, pagando R$ 400,00 de mensalidade, Ana não conseguiu manter a adolescente numa escola particular: “Ficou muito difícil para a gente pagar. A sorte que ela fez a prova e passou numa escola técnica estadual porque, se não tivesse sido aprovada, teria de ir para uma escola estadual normal.”

A dona de casa Maria Célia Mendonça enfrentou a mesma dificuldade financeira no final do ano passado. “Eu tinha 35% de bolsa, mas os cerca de R$ 750,00 que pagava pesavam muito.” O filho de Maria Célia, que sempre estudou em escola particular desde o maternal, foi matriculado em uma escola estadual, onde cursa o Ensino Médio. “Fiz com dor no coração porque, daqui a três anos, ele irá prestar o vestibular”, disse Maria Célia. “A nossa renda familiar está caindo, mas ainda pretendo transferi-lo novamente para a rede particular.”