Depois de comemorar a aprovação em uma faculdade, uma dúvida: como fazer para arcar com as mensalidades? A saída a que muitos recorrem é o Fies (Programa Financiamento Estudantil), do Ministério da Educação, com inscrições abertas até o dia 19, para alunos do Prouni (Programa Universidade para Todos), ou até o dia 26, para os demais, e que tem reservado R$ 900 milhões em benefícios para o próximo ano.

Mas é bom ficar de olho, porque o programa -que já tem cerca de 400 mil estudantes beneficiados desde 1999- é um tipo de empréstimo, não uma doação do governo.

Ciente disso, Roberta Oguro, 24, que faz engenharia elétrica na FEI, decidiu em 2003 tentar uma vaga. “Estava com o orçamento apertado e ficaria difícil cursar a faculdade sem o auxílio”, conta. Após formada, ela terá de pagar o financiamento (veja as regras ao lado).

Para o próximo ano, os estudantes do Prouni são prioridade do Fies. Os alunos com bolsa parcial pelo programa têm direito a financiar metade do valor que pagam às instituições. Todos os beneficiados com o financiamento terão um alívio: houve queda nas taxas de juros de 9% para 6,5% no ano. Já os alunos dos cursos de licenciatura, pedagogia, normal superior e dos cursos tecnológicos terão taxas de 3,5% ao ano.

Porém, a medida não se aplica a quem se formou e está quitando o financiamento. De acordo com o MEC, será enviado ao Congresso projeto de lei para expandir o benefício.

Antes de realizar o empréstimo, é preciso ficar atento: “Não é uma bolsa. Por isso o aluno deve levar em conta na hora a carreira e a instituição que lhe dê boas condições para pagar”, alerta o diretor do Departamento de Modernização e Programas da Educação Superior, Celso Carneiro Ribeiro.

As críticas da UNE (União Nacional dos Estudantes) estão justamente na vinculação do programa às regras bancárias. “É preciso ter um fiador e nem todo estudante tem como conseguir um”, afirma o presidente da entidade, Gustavo Petta.

Outra ressalva é o tempo para quitar a dívida, já que apenas no primeiro ano de formado é que as parcelas são menores. “É difícil se estabilizar no mercado. O certo seria ampliar esse prazo para dois anos”, diz.

 

Acabar com a dívida é dilema pós-faculdade

 

Um financiamento de R$ 25 mil se transformou em R$ 39 mil. Não, isso não é o resultado da compra de um carro, mas sim os custos da graduação de Jefferson Retuci, 25.

Ele cursou fisioterapia na Unifran em Franca, no interior de São Paulo, e se formou em 2004, mas tem dívidas com a Caixa Econômica Federal até 2011. “Às vezes, me arrependo de ter feito a faculdade.”

Como as parcelas do financiamento ficaram pesadas demais para o orçamento, ele ingressou na Justiça e hoje quita valores menores.

Enfrentar a dívida é a mesma dificuldade de Thadeu Melo, 28. Formado em jornalismo em 2000, continua devendo R$ 19 mil, divididos entre o Fies e uma bolsa restituível da faculdade.

“É ruim ter que pagar até hoje, mas valeu a pena. Precisa haver bom senso do credor para negociar com a situação real”, diz.

 

COMO É O FIES

QUEM PODE FAZER?

Maior de 18 anos ou o responsável legal.

A Caixa Econômica Federal, banco que realiza o financiamento, exige fiador.

 

QUANTO PODE SER FINANCIADO?

50% da mensalidade.

 

QUANDO SE PAGA?

Durante os estudos há parcelas de até R$ 50 por trimestre, referentes aos juros. No primeiro ano de formado, as prestações mensais equivalem às do último ano da faculdade.

O restante é dividido em parcelas no período de até uma vez e meia o tempo da faculdade. QUANDO SE INSCREVER?

Alunos do Prouni, até 9/11; demais alunos, até 27/11.

 

Fundações e empresas oferecem financiamentos restituíveis

 

DA REPORTAGEM LOCAL

 

Além das opções estatais de bolsas e financiamentos, há também as alternativas privadas de apoio financeiro ao ensino. O aluno tem sua mensalidade parcial ou integralmente paga pela instituição que concede a bolsa e, após formado, ele restitui o que foi gasto em prestações que pode administrar.

Há basicamente dois tipos de crédito: um é um financiamento propriamente dito, em que o aluno assina um contrato com uma financiadora e depois paga o valor financiado corrigido por índices preestabelecidos. O outro, conhecido como “bolsa rotativa”, é obtido junto a entidades sem fins lucrativos. O valor restituído é igual à mensalidade vigente e vai para um fundo que custeia bolsas.

A Fundação Aplub (Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil) de Crédito Educativo é pioneira nesta última modalidade, coordenando programas de bolsas desde 1972. A entidade realiza convênios com as faculdades, que selecionam por seus próprios critérios os alunos que recebem as bolsas. “Não financiamos a bolsa, só administramos o processo: cobrança, contratos, arrecadação bancária”, conta Carlos Becker, gerente da Fundaplub. Entre as universidades conveniadas estão a FEI e a PUC-Campinas.

 

Em 2003, um projeto semelhante foi lançado, o Cebrade (Centro Brasileiro de Desenvolvimento do Ensino Superior).

Há também programas com financiadoras, em que se arca com taxas e juros. Um exemplo é o Pravaler, em que o aluno paga metade da mensalidade e tem até o dobro do tempo para pagar o curso. Se um curso de graduação dura, por exemplo, quatro anos, o estudante terá até oito anos para pagá-lo.


NA INTERNET:www.fundaplub.com.br; www.cebrade.org.br; www.creditopravaler.com.br

 

Instituições oferecem bolsas e descontos

As maiores faculdades privadas do país costumam ter programas de bolsas de estudo e crédito educativo. Algumas atrelam o benefício ao desempenho acadêmico ou esportivo. Outras financiam sem cobrar juros, com o pagamento para depois da graduação.

 

 PUC-SP mantém inúmeros programas desse tipo. A cri­se financeira por que passa a instituição fez com que as bolsas diminuíssem, mas não as extinguiu. “Muitos entram sem condições de bancar o curso, na esperança de obter alguma bolsa, porque a PUC sempre as concedeu”, afirma a professora Célia Forghieri, da vice-reitoria comunitária da universidade, acrescentando que, atualmente, bolsa integral só existe pelo Prouni.

 

Rodolfo de Oliveira Vaz, 18, no primeiro ano de pedagogia, é um dos que têm bolsa na PUC. Ele obteve 60% de desconto no segundo semestre, mas ainda restam as dívidas do início do curso. “Não pude fazer a matrícula e estou negociando. Devo mais de R$ 5.000 para a PUC e não sei como vai ser”.

A finalidade das bolsas e fundos em geral é a mesma, segundo as instituições. “Queremos atrair os melhores alunos. Restrição financeira não pode existir para que eles estudem na FGV”, afirma o diretor administrativo da Direito GV, Paulo Goldschimidt. Desde 1965, a entidade mantém um fundo de financiamento, cuja inadimplência é baixa.

 

No Mackenzie, mais da metade dos alunos pertencem a algum programa. Em 2005, eram 20.596 beneficiados do total de 40 mil alunos.

 

“A instituição tem um papel social a cumprir. Sem os descontos, o mérito do acesso é financeiro, e não acadêmico”, avalia a vice-reitora de extensão e atividades comunitárias da FEI, Rivana Marino Basso.

 

CUIDADOS NA HORA DA ESCOLHA1) Verifique com cautela os termos do contrato. Não assine nada que você não conseguirá pagar. Há bolsas em estilo doação ou restituível à instituição de ensino. Perceba a diferença entre elas.

 

2) Se houver necessidade de fiador, tome cuidado para não ter problemas e ficar com o nome sujo em instituições de proteção ao crédito, como Serasa ou SPC.

 

3) Muitas entidades exigem bom aproveitamento nos estudos como condição para a bolsa. Preste atenção às notas.

 

4) No caso de financiamento ou crédito estudantil, cheque as condições do empréstimo, os índices de reajuste dos valores e o prazo de pagamento. Lembre-se que fazer um financiamento estudantil é quase o mesmo que fazer um empréstimo em um banco.

 

5) Se estiver com dificuldades para pagar o financiamento, tente negociar os melhores termos, em vez de fugir de telefonemas do departamento de cobrança. Faculdades e empresas de crédito educativo costumam ser menos truculentas e mais flexíveis na cobrança do que instituições financeiras.

 

6) Antes de ingressar em uma faculdade, verifique se ela possui programas de bolsas e veja também o que acontece com os que têm dificuldade para pagar a mensalidade.

 

7) Na hora de batalhar uma bolsa restituível, prefira as instituições sem fins lucrativos às empresas financeiras especializadas em crédito educativo. As primeiras não cobram juros além da correção inflacionária; elas não esperam obter lucro com o crédito.