Sessão discute como currículo humanizado impulsiona carreira, promove uma sociedade mais justa e equitativa e valoriza a educação (Foto: Jonathan Nóbrega/Semesp)​

A humanização do currículo foi um dos temas abordados neste primeiro dia do 25º FNESP, cujo enfoque básico envolveu identificar, não apenas a sua flexibilidade para atender às demandas do mercado de trabalho e a empregabilidade dos alunos, mas também oferecer uma formação profissional mais ética e comprometida com uma gama diversificada de abordagens e conteúdos contextualizados em relação à conquista da cidadania e de competências para viver numa sociedade plural.

A presidente do Instituto Singularidades, Claudia Costin, destacou que o Brasil ainda não oferece um ensino com resultados de aprendizagem que permitam “assegurar a educação de qualidade, inclusiva e equitativa em termos de gênero, raça, renda, território, entre outros, garantir acesso e permanência à educação profissional e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”, que são os temas da ODS 4, cuja elaboração a palestrante coordenou quando ocupava o cargo de diretora global de Educação do Banco Mundial. Para a palestrante “isso gera uma cidadania frágil, com consequências negativas para a população”.

Na visão de Claudia Costin, “no Brasil, além de termos dificuldades de acesso, permanência e conclusão no ensino superior, precisamos melhorar com urgência o ensino técnico profissionalizante e promover oportunidades efetivas de aprendizagem ao longo da vida”. Segundo a palestrante, é fundamental “integrar mais o ensino superior à ciência e tecnologia, pensar em transições para uma aprendizagem mais profunda e para toda a vida”, considerando que segundo o Censo da Educação Superior do INEP, “mais de 80% dos alunos do ensino médio nem vão para o ensino técnico e nem para o ensino superior”.

EDUCAÇÃO SUPERIOR PRECISA SE ADEQUAR AO MUNDO ATUAL

A presidente do Instituto Singularidades defendeu a flexibilização de currículos por meio da aprendizagem baseada em problemas, da formação de pensadores autônomos e do desenvolvimento de competências socioemocionais nos alunos.

Segundo a palestrante, “não basta olhar para os que estão na escola, mas para os que já saíram, para oferecer competência técnica, aquisição de conhecimento e habilidades que proporcionem o desenvolvimento sustentável através de uma ética intergeracional que assegure um efetivo avanço civilizatório, com estilos de vida que sejam sustentáveis e garantam dignidade humana e uma convivência pacífica”.

Claudia Costin ressaltou que no Brasil “não estamos acompanhando a revolução digital, o que compromete o futuro do trabalho” e lembrou que, “até 2030, a maioria dos postos de trabalho serão extintos, mas os novos postos de trabalho que os substituirão exigirão competências que não estão sendo transmitidas nos vários campos de atividade, especialmente a resolução de problemas complexos, o pensamento sistêmico, etc”.

A palestrante Cristina Demaria, pesquisadora da Universidade de Bolonha, abordou “o desafio que representa humanizar o currículo para que se torne relevante”. Exercendo o papel de delegada para assuntos de gênero da universidade italiana, a pesquisadora ressaltou que “humanizar o currículo significa mudar o papel percebido das organizações, por meio de uma nova missão e visão, para fazer com que a instituição educacional se questione interna e externamente, e projete políticas que devem ser mensuradas com os indicadores corretos”.

Referindo-se à preocupação da Universidade de Bolonha com “a criação de valores para fazer avançar a sociedade e o bem comum”, a palestrante destacou a importância da adoção de um processo de mudança estrutural na instituição de ensino, envolvendo os processos organizacionais e também o campo da pesquisa e do ensino, permitindo a implantação de planos estratégicos de equidade de gênero e gestão da diversidade,  com abordagens multidisciplinares, com o objetivo de desenvolver nos alunos habilidades adquiridas em cidadania e competências culturais para viver numa sociedade plural”.

Na visão de Cristina Demaria, é importante “descolonizar o currículo e torná-lo inclusivo, a partir da relevância do que será ensinado com esse objetivo, e trazer à tona a construção de significados como algo construído com o aluno como agente do seu próprio aprendizado”.