Com uma academia direcionada a estimular a pesquisa e relegar a extensão, o estímulo às práticas docentes ainda dependem substancialmente de eventos pontuais para compartilhar e divulgar experiências de sucesso. Nesse ponto, uma iniciativa recente é o Prêmio Rubens Murillo Marques, organizado pela Fundação Carlos Chagas, que contempla atividades elaboradas por professores de licenciatura.

Para a superintendente de educação e pesquisa da fundação, Claudia Davis, não há dúvidas de que o ensino superior tem um papel fundamental para o desenvolvimento da educação básica, porém a falta de incentivo das instituições governamentais às práticas e de uma aproximação entre as duas etapas dificultam o êxito de ações em grande escala, especialmente no longo prazo.

Em entrevista ao site da revista Ensino Superior, Claudia falou mais sobre os desafios a serem superados e os principais objetivos da premiação. Confira:

Como a instituição de ensino superior pode estimular a criação de novas experiências educativas na licenciatura?

É um problema sério. Valorizamos sobretudo a pesquisa na academia do Brasil e tem feito falta ao professor esse tipo de incentivo. Como a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) avalia a produção relacionada à pesquisa e produção acadêmica, acaba existindo pouca dedicação à extensão. Nas licenciaturas se aprende pouco sobre a docência. A ideia do prêmio veio justamente por isso: começar a estimular uma renovação.

Você acredita que falta uma aproximação da formação com a realidade das escolas?

Sim, mas para isso acontecer a Capes precisa passar a avaliar considerando a extensão como algo importante. Hoje, como docente, eu sou avaliada pela quantidade de produção. E a pesquisa nem sempre pode ser aplicada diretamente. Então enquanto não houver uma valorização das práticas, até mesmo em relação às bolsas científicas, fica difícil quebrar. Mas devo dizer que atualmente parece que a coordenação está tomando mais atenção em relação a essa necessidade.

Qual o papel do ensino superior para melhorar os índices da educação básica brasileira?

Essencialmente melhorar a formação inicial dos professores. Para tanto, os cursos precisam durar pelo menos quatro anos. Além disso, precisa haver um vínculo maior entre as etapas. Nos Estados Unidos e em países da Europa há secretarias que fazem essa ponte, com práticas docentes aplicadas nas escolas e orientadas por supervisores de universidades. Com isso o professor vai aprendendo. Um problema do Brasil é que boa parte da formação de professores acontece hoje no modelo a distância, que ainda carece de um padrão de qualidade e sofisticação.

Que tipo de formação, aprendizado, o prêmio Rubens Murillo procura valorizar?

Ele está aberto a todo tipo de projetos, de qualquer licenciatura. O importante é ter uma experiência com resultados. Por exemplo, em outros anos premiamos professores que desenvolveram uma iniciativa relacionada ao aprendizado de música, assim como um docente que montou um blog. O critério é a excelência e como a competência é promovida.

O choque de gerações na escola parece mais evidente, com as inovações tecnológicas. Como as faculdades de licenciatura podem lidar com isso?

Não vejo uma solução simples, porque não se trata apenas de estimular esse aprendizado durante os anos de formação na faculdade de licenciatura. Há uma série de fatores que potencializam a questão. Os alunos da educação básica geralmente sabem mais que os professores, mas esses geralmente ganham mal, trabalham demais e não conseguem se atualizar. Além disso, a escola na maioria dos casos têm equipamentos defasados e estão sempre correndo atrás das inovações tecnológicas, que mudam cada vez mais rápido. Com isso tudo, o professor deixa de conhecer um universo de possibilidades mesmo depois que já saiu da universidade. Há exceções e bons exemplos, mas diria que ainda não é a regra.

 

O prêmio Rubens Murillo Marques abre inscrições no dia 14 de junho. Mais informações podem ser encontradas aqui.