Estudo foi apresentado e debatido em evento que teve participação de representante do Semesp e de profissionais envolvidos com a atividade educacional 

A pesquisa “O novo profissional da comunicação na era da convergência digital” foi apresentada nesta quarta-feira (27 de agosto) no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura, em São Paulo, seguida de um debate que teve a participação de profissionais envolvidos com a atividade educacional. O estudo teve como objetivo contribuir para a identificação dos principais pontos não cobertos pela formação acadêmica e abrir um canal de diálogo entre as instituições de ensino superior e o próprio mercado.

O debate foi intermediado pela diretora da Fundamento Análises, Renata Lacerda, e teve a participação do diretor-executivo do #Semesp, Rodrigo Capelato, juntamente com outros profissionais envolvidos na atividade educacional, como Paulo Nassar (Aberje e USP), Eugênio Bucci (USP/ESPM), Manuel Carlos Chaparro (ex-ECA/USP) e Pollyana Ferrari (PUC), que fizeram comentários e acrescentaram novas informações sobre a qualificação dos jovens diante do panorama atual e sugestões de como melhorar o cenário.

Pesquisa

Apresentada pela gerente de Mensuração, Erika Rangel, a pesquisa ouviu de 7 a 21 de agosto 220 profissionais de comunicação com o perfil de mais de 60% de graduados há pelo menos 5 anos, sendo que 58,5% cursou jornalismo, 20,2% RP, 19% publicidade e 2% rádio e TV. Desse total, quase 60% já atua com comunicação empresarial, 22% na área de publicidade, 15% em redações e 4,6% exercem cargos de gestão e administração. “Para a maioria (66,98%), a graduação não oferece conhecimento suficiente para a atuação no mercado de trabalho, 30,66% acham que oferece a maior parte e somente 2,36% acreditam receber integralmente os conhecimentos necessários”, revelou.

Os resultados mostram ainda que 52,2% das respostas indicam que a graduação não acompanha o ritmo do desenvolvimento dos novos meios de comunicação, sobretudo as mídias digitais, 40,4% dizem que acompanha “razoavelmente” e apenas 7,2% acredita que acompanha totalmente. Entre as habilidades apresentadas pelos profissionais, a mais bem desenvolvida na graduação é a redação de textos (71,6%), seguida pelo trabalho em equipe (52,5%) e as reportagens (42,3%) e somente 10,7% foi para a afirmação de que a faculdade não desenvolve qualquer habilidade mencionada.

De acordo com os entrevistados, atualmente o relacionamento com a equipe e hierarquia é o tema que mais deveria receber atenção da graduação, seguido por relacionamento com clientes, conceitos teóricos, planejamento estratégico e atividades práticas. Para suprir as deficiências apontadas no estudo, a maior parte (36,8%) sugere a criação de agências experimentais nas universidades como medida mais eficiente para integrar a formação com a realidade do mercado, 27,2% acreditam que deve haver maior integração entre a direção das faculdades e as instituições empresariais, 21,8% recomendam professores que atuem no mercado e 14,1% indicam programas de estágio mais estruturados.

Sobre a pós-graduação, 62,7% dizem que pode corrigir “razoavelmente” as falhas do currículo da graduação e 18,6% acreditam que o curso resolve “muito pouco”, 12,2% consideram a correção integral e apenas 6,3% dizem que não há correção.

Debate

Sobre os dados apresentados durante o evento, Rodrigo Capelato acrescentou informações coletadas na pesquisa encomendada em 2012, pelo #Semesp à Toledo & Associados, onde foram ouvidas 1.422 profissionais de grandes, médias e pequenas empresas de todo o Estado de São Paulo em várias áreas do conhecimento. “Cerca de 95% dos profissionais entrevistados formaram-se em instituições de ensino superior privadas e estão sendo absorvidos pelo mercado de trabalho em cargos de presidência, direção, gerência, como estagiários e trainees, mas para 82% dessas pessoas, o curso superior proporcionou mais oportunidades ou tantas quanto eles imaginavam”, revelou.

O dado mais interessante na área de Comunicação, mostrado por Capelato, é  que para 89% dos graduados em Comunicação a escolha foi feita por vocação pessoal, 14% pela profissão trazer oportunidades, 5,6% por influência familiar e apenas 2,8% por ser um curso mais barato.

O jornalista Eugênio Bucci, coordenador de cursos de graduação e pós-graduação em Comunicação pela USP e ESPM, disse que os cursos de comunicação hoje não englobam algumas áreas de conhecimento e propôs a criação de sete eixos de formação: Estudos da Comunicação; Técnicas de Redação, Língua Portuguesa e linguagens visuais; Gestão de Pessoas; Matemática e Indicadores de Qualidade; Novas Mídias e o Jornalismo, Administração, Ética, Democracia e liberdade de imprensa. “Os profissionais precisam assimilar teoria, usar conceitos aprendidos para fazer análises e críticas da atualidade e experenciar as inovações aprendidas na prática”, pontuou.

Manoel Carlos Chaparro, ex-ECA-USP e com experiência em ensino de comunicação em universidades de Portugal, lembrou que os profissionais da comunicação precisam entender que “da invenção do telégrafo à queda das torres gêmeas nos EUA, o conteúdo e a fonte não são mais privilégios dos jornalistas e sim devem ser socializados em um mundo com novas tecnologias e globalização. “Precisamos ter competência cognitiva e saber o que é mais importante informar, lembrando que há um caminho da humildade pela sabedoria e um caminho da sabedoria pela humildade”.

Para Paulo Nassar (Aberje e USP) a comunicação vive hoje um paradigma. “Os conceitos ensinados nos cursos de comunicação, com suas divisões em comunicação corporativa, visual e empresarial, estão envelhecidos e cabe a nós saber a melhor forma de organizar a informação e passar esse conhecimento aos que estão começando”.

Pollyana Ferrari, coordenadora de cursos de pós-graduação em comunicação na PUC, revelou que a imprensa hoje não é mais o quarto poder e fez um alerta aos profissionais da área. “Estudantes de comunicação hoje vivem no subemprego, ganham mal, querem fazer uma pós-graduaçãomas muitas vezes mal conseguem pagar o aluguel onde vivem. As lideranças das redações e donos de assessorias de imprensa precisam começar a atravessar a ponte de onde habitam para conhecer essa periferia, essa dura realidade”. Segundo ela, as pessoas estão cada vez mais se identificando com suas tribos e usando as mídias sociais para trocarem informações. “Hoje as entidades de classe não dão mais conta de representar suas classes, sindicatos estão falidos, a Une não representa mais os estudantes e todos querem ser mídia”, finalizou.

Para mais informações sobre o estudo, acesse: http://portaldacomunicacao.uol.com.br/