Os rankings podem ser vistos no sentido figurado, como um caleidoscópio, pois permitem diferentes olhares. Enxergamos belas imagens, conforme giramos o equipamento. Os rankings estabelecem critérios que são elaborados a partir de conceitos, percepções, critérios científicos, entre outros, mas sempre do ponto de vista de seus formuladores. Há diferentes rankings, com diferentes critérios, o que permite diferentes olhares.

No Brasil, é comum organizarmos nossas IES conforme os critérios do MEC/INEP. Nesse caso, nos tornamos mais iguais do que diferentes, já que adequamos a dinâmica das IES aos padrões quantitativos do avaliador oficial. As classificações oficiais pecam por projetarem uma IES convencional.  Obviamente, não dá para desprezar os indicadores e as avaliações oficiais, mas o resultado final do IGC representa um critério de qualidade real?

Necessitamos ampliar, aqui no Brasil, a visão que temos de qualidade e caminharmos para um cesta de indicadores, no modelo do Multirank (https://www.umultirank.org/about/u-multirank/the-project/), que se propõe a ser um ranking multidimensional que permite que qualquer pessoa elabore sua classificação, conforme o interesse.

Rankings que valorizam a pesquisa possuem indicadores que privilegiam IES com alta capacidade de investimento em pesquisa. Quando lemos os resultados do Times Higher Education, QS World University ou ARWU World University Rankings, temos que saber que esses rankings valorizam a pesquisa, prêmios Nobel e outros critérios que não são viáveis para a grande maioria das IES.

Qual seria a solução? Acredito que já apontei acima: cesta de indicadores, no modelo do Multirank. Da mesma forma, é preciso que a imprensa conheça os critérios, os diferentes rankings e seus indicadores. Ao comparar a dinâmica do ensino superior no mundo, os parâmetros de qualidade de outros países e os seus critérios de competitividade, é possível constatar que no Brasil precisamos rever parâmetros.

Gosto de ler os diferentes rankings do Times Higher Education em função da diversidade. Se queremos saber quais são as melhores universidades do mundo no quesito de pesquisa, olhamos o ranking que tem como critério a pesquisa e a produção científica. Há outros rankings que o THE publica, como o das IES de países com economia emergentes, o das jovens universidades (até 50 anos), o da reputação e de impacto social. Em abril, o THE publicou o Impact Rankings 2021, que classificou 1.117 IES, de 94 países. A adesão ao ranking foi opcional e cada IES deveria enviar as informações solicitadas.

O ranking de impacto é interessante, pois seus critérios estão vinculados aos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável adotados em 2015 pela ONU. Neste ranking, o foco é medir como as IES assumiram os objetivos de erradicação da pobreza, a busca pela agricultura sustentável, a defesa da igualdade de gênero, a oferta de educação com qualidade, a busca pela energia acessível e limpa, entre outros.

É um ranking de impacto social, de compromisso com a inclusão, com o desenvolvimento sustentável, com a inovação, com a democracia, enfim, com objetivos de melhoria das condições de vida e de resolução dos problemas da sociedade. É um ranking que precisa melhorar a confiabilidade das informações, já que são as IES que informam os dados. De toda forma, é bem-vindo.

A primeira colocada no ranking foi a Universidade de Manchester, da Inglaterra. É interessante que IES que não ocupam as melhores posições nos rankings convencionais de melhores universidades de pesquisa estão bem colocadas. A Universidade de Coimbra, por exemplo, ocupa da 21º posição.

Em relação à América Latina, as 10 primeiras colocadas são:

  • Universidade Autônoma Metropolitana do México
  • Universidade de São Paulo (USP)
  • Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM)
  • Universidade Federal do Espírito Santo – Brasil
  • Universidade de Gualadajara – México
  • de Monterrey – México
  • Universidade Federal do ABC – Brasil
  • Universidade Andrés Belo – Chile
  • Universidade Católica de Concepción – Chile
  • Universidade de Costa Rica

Não há dúvidas que desejamos um mundo melhor, que tenha IES capazes de lidar com problemas do mundo real. Toda IES necessariamente precisa ser relevante para a sociedade e promover o bem público. Talvez esteja aí uma nova forma de olhar a excelência acadêmica.

É importante fazer uma observação em relação a Tec. de Monterrey, já que instituição aparece em diferentes rankings entre as melhores. É incrível a capacidade da Tec. ser competitiva em diversos âmbitos. Se girarmos o caleidoscópio para olharmos outros rankings, é muito provável que vamos enxergar a Tec. entre as melhores. Sou assumidamente fã da Tec. de Monterrey. O mesmo afirmo para instituições como a USP e a UNAM.

Sim, a IES precisa ter impacto social. Não podemos pensar no impacto social para cumprir os indicadores mínimos de qualidade do MEC. O desejo do impacto tem que ser real, espontâneo e estratégico. Se uma IES não investe tempo de planejamento e recursos financeiros e humanos em ações de impacto social, ela está descolada da sociedade, em um mundo paralelo. Em um editorial do THE, foi colocada em pauta a proposta de que o impacto social se torne um novo parâmetro de excelência. Parece ser uma boa ideia.

*Fábio Reis, diretor de Inovação e Redes do Semesp