Sabemos que ensino e pesquisa, como pilares do Ensino Superior, têm um campo potente de encontro na extensão.

Historicamente as Instituições de Ensino Superior têm desenvolvido projetos de extensão comunitária, marcando seu lugar de responsabilidade social nas comunidades em que se inserem.

No entanto, a Resolução CNE n. 07 de 18 de dezembro de 2018, que estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira, trouxe para as IES um novo desafio. Em seu artigo 4º temos: “As atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação, as quais deverão fazer parte da matriz curricular dos cursos”. Constitui-se, então, o que chamamos de Curricularização da Extensão.

Olhando para tudo o que as IES já fazem é normal acreditar que as inúmeras atividades extensionistas já em curso possam ser incorporadas como curricularização. Porém é preciso muito cuidado ao fazer isso. Apesar de serem muito importantes, essas ações não necessariamente atendem à curricularização da extensão.

Nesse sentido, estamos aqui para dar algumas dicas, para que a sua IES possa realizar esse processo de maneira eficiente, a fim de não apenas cumprir um requisito legal, mas também promover uma melhor formação para seus alunos.

 Curricularização da Extensão

Ao olharmos para a Resolução do CNE é fundamental que tenhamos a clara compreensão do que significa curricularizar a extensão.

O currículo de um curso é aquele percurso que o aluno deve percorrer para adquirir as competências previstas no perfil do egresso.

Assim a curricularização da extensão deve ser tratada como uma “metodologia de ensino”. É preciso entender que as atividades extensionistas de que falamos aqui devem, como todas as demais unidades/disciplinas/módulos, atender ao currículo, envolvendo de maneira igualitária todos os discentes.

Além disso é desejável que as atividades extensionistas curricularizadas sigam um caminho transversal entre as disciplinas e conteúdos que integram e conectam os semestres, ciclos, módulos ou eixos da formação, permitindo aos alunos que apliquem os conhecimentos e habilidades em desenvolvimento – a extensão propicia aos alunos dar significado social ao conhecimento, e entender seu papel profissional frente aos diversos contextos sociais pertinentes à sua formação.

Assim é preciso muita atenção ao curricularizar a extensão: projetos extensionistas isolados, que não conversem diretamente com o currículo, apesar de serem importantes geradores de conhecimento e experiências para os alunos, dificilmente poderão ser apresentados como curricularização da extensão.

 10 dicas para a curricularização da extensão:

1. Analise o perfil do egresso descrito no PPC e verifique se nele estão claramente descritas as competências a serem desenvolvidas a partir da vivência nos contextos sociais e territórios onde acontecerão as ações extensionistas;

2. Descreva claramente no PPC a forma como será desenvolvida a curricularização da extensão e como os projetos se conectam com o perfil do egresso e com o currículo;

3. Faça um levantamento verificando se nas unidades curriculares já são desenvolvidas atividades que apresentam característica extensionista e que podem ser ampliadas para um olhar mais transversal dentro do semestre e das disciplinas;

4. Identifique, a cada semestre ou módulo, pontos de convergência entre os conhecimentos desenvolvidos, destacando aqueles que apresentam uma temática que permita a aplicação em uma situação do cotidiano, no território em que se desenvolverá a atividade extensionista;

5. Analise o conteúdo das unidades curriculares e identifique aqueles que podem ser trabalhados dentro de projetos extensionistas, de forma que esses conteúdos possam ser alocados nos projetos extensionistas curriculares, com otimização da carga horária;

6. Identifique no corpo docente aqueles profissionais que têm mais afinidade com ações extensionistas para que possam atuar mais diretamente nas ações propostas no currículo;

7. Organize as atividades de extensão curricularizada em projetos de ensino, com clareza de objetivos, definição de base teórica a ser utilizada, definição das etapas e entregas e do produto final, que deve prever um retorno ao território no qual a ação foi desenvolvida;

8. Defina a forma como essa carga horária estará explicitada no histórico escolar do aluno;

9. Proponha ações extensionistas que sejam viáveis para todos os alunos em relação a tempo e espaço, ou seja, quando e onde;

10. Entenda a curricularização da extensão como uma oportunidade, um espaço para a formação de alunos conectados com a prática durante todo o curso, com maior consciência social e compreensão de sua responsabilidade como cidadãos na construção de uma sociedade mais digna para todos.

*Por Celina Camargo Bartalotti, coordenadora Geral de cursos de Graduação e Procuradora Institucional do Centro Universitário São Camilo – SP, e Diego Amaro, coordenador de Redes de Cooperação e Inovação Acadêmica do SEMESP e docente do Centro UNISAL de Lorena.