O calendário acadêmico de 2021 nos traz incertezas e perguntas muitas vezes sem respostas. Devemos iniciar o ano letivo em fevereiro ou em março, e em que data? Os indicadores de captação de novos alunos irão melhorar? Como iniciar o ano com um modelo acadêmico sólido e que atenda as expectativas dos estudantes?

Os gestores de IES que se dedicaram ao planejamento e a elaboração de estratégias tendem a responder com segurança às perguntas acima. Há soluções para os problemas que estamos vivenciando. O Semesp promoveu, entre os dias 2 e 4 de fevereiro, a série de webinares “Estratégias para organizar o início do ano letivo”. O presente artigo tem como base as apresentações e debates da série.

Conversei com cinco gestores de IES de diferentes perfis e tamanhos e com três especialistas internacionais em temas da dinâmica do ensino superior. Há um consenso: o processo de captação de novos estudantes está lento e distante das metas. Para superar esse desafio, a IES precisa criar valor para a marca institucional. Esse valor se cria com planejamento, qualidade e criatividade, que se transforma em inovação.

As instituições que, desde o ano passado, estão em fase de planejamento do modelo acadêmico, capacitação dos professores e reorganização administrativa apresentam melhores condições de competitividade. Não se pode começar a planejar o retorno das aulas duas semanas antes do início do ano letivo. A IES que se dedicou a construir um bom plano e a criar estratégias está passos à frente das que não se planejaram. Há instituições que ousaram, que fizeram testes em 2020 e estão preparadas para o início do ano letivo.

Os gestores Graciana Cordeiro, da UNDB, de São Luís, do Maranhão, e Bruno Teixeira, da UNISUAM, do Rio de Janeiro, apresentaram suas estratégias para organizar o início do ano letivo. Quando receberam a pergunta sobre a importância do planejamento, ambos afirmaram que dificilmente iriam conseguir atingir os objetivos de forma desordenada. O planejamento passou por prototipagem, teste de MVP, correção dos erros, diálogo com os professores, pela assertividade dos gestores e pela convicção de que é preciso oferecer os melhores serviços educacionais para os estudantes.

Nesse caso, valor também se cria com um bom projeto acadêmico. É gratificante ouvir dois gestores, empáticos preparados para a função e conhecedores do projeto acadêmico institucional, afirmarem que passaram de três a seis meses organizando o modelo acadêmico, o que permitiu maior segurança em sua implementação. Para eles, os erros aconteceram, o que gerou avaliações e mudanças de rumo.

Na série, Márcio Sanchez, da Universidade Corporativa do Semesp e professor da FGV-SP, e a professora Lauren Colvara, da Universidade Federal de Itajubá, apresentaram alternativas para os professores lecionarem no ambiente remoto. Sanchez deu três dicas para os docentes iniciarem bem o ano letivo: a) acolha os estudantes; b) busque capacitação sobre plataformas, uso de aplicativos e competências digitais; c) planeje as aulas para gerar engajamento. A Colvara fez sugestões sobre atitude e motivação dos docentes e engajamentos dos alunos. Ela destacou que o professor aberto ao diálogo e disposto ao aprendizado poderá trilhar um caminho de realização profissional. As dicas são simples, importantes e conhecidas por nós professores.

Conhecer a legislação atual e saber como aplicá-la é uma estratégia para as IES começarem bem o ano letivo. O diretor jurídico do Semesp, Roberto Covac, e a gerente da área jurídica, Raquel Carmona, foram assertivos e apresentaram soluções para a organização do calendário acadêmico, a elaboração de contratos com docentes e pessoal administrativo e a aplicação do contrato intermitente, entre outros. O melhor momento do tema legislação foi quando Covac e Camona fizeram a análise de que a legislação permite inovação e flexibilidade. Covac utilizou um ditado popular: “o uso do cachimbo faz a boca torta”. De modo geral, nos acostumados a fazer as mesmas coisas, a desenhar os mesmos modelos de currículos e de aula, a organizar os cursos em semestres, entre outros vícios. Poucos ousam, como a UNDB e a UNISUAM, que pensaram em cursos por módulos, com características diferentes das usuais.

O semestre não está perdido e muito menos o ensino superior vai entrar em uma crise profunda. Para superar as incertezas e responder às perguntas, planeje as mudanças, saiba fazer gestão de uma IES, vença as resistências internas que engessam a instituição, invista em pessoas qualificadas e times engajados de bom desempenho, se dedique ao desenho de um projeto acadêmico sintonizado com as demandas da sociedade, conheça a legislação vigente e saiba utilizá-la para inovar, fuja e acabe com as amarras institucionais burocráticas, trate a educação como educação e seja feliz com o retorno do ano letivo e com a melhoria dos resultados de captação de novos estudantes.

*Fábio Reis, diretor de Inovação e Redes do Semesp.