Escola própria é opção estratégica

Por Maria Alice Rosa | Para o Valor, de São Paulo

As universidades corporativas de grandes grupos empresariais e financeiros se desenvolveram de tal maneira no Brasil que muitas delas adquiriram status de área estratégica dentro das corporações. Criadas para oferecer uma educação afinada com as necessidades globais de planejamento das organizações, hoje elas também servem para captar as mudanças de mercado na velocidade em que elas ocorrem, principalmente por conta da revolução tecnológica dos nossos tempos. As universidades inserem este conhecimento em todas as instâncias empresariais, do menor ao mais alto escalão, criando uma convergência da qual a empresa não quer mais abrir mão, sob o risco de ficar defasada em relação à concorrência.

Até então, as empresas mantinham divisões de treinamento com foco no aperfeiçoamento de funções já exercidas pelos funcionários. Com a universidade, o conceito é ampliado. “É um sistema concebido a partir do que é estratégico para a organização. A educação é pautada pelo conceito de desenvolvimento de competências empresariais e humanas que são consideradas críticas ou necessárias para a viabilização das estratégias de negócios”, define a coordenadora de projetos e professora de graduação e mestrado da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP), Marisa Eboli, uma das maiores especialistas do país em educação corporativa, com quatro livros publicados sobre o tema.

O mapeamento de competências da UniBrad, a universidade do Bradesco, envolve 12 prioridades: empreendedorismo, liderança, relacionamento interpessoal, equilíbrio emocional, negociação, visão globalizada, planejamento estratégico, criatividade, trabalho em equipe, comunicação, flexibilidade, e percepção e julgamento – como a pessoa percebe o que está fazendo hoje e o que isso pode gerar amanhã. “Todas as abordagens têm esta base. Não se trabalha mais só com conhecimento técnico. O foco é transversal e envolve, em todas as áreas, as competências comportamentais”, afirma a diretora de RH do Bradesco, Glaucimar Peticov. Instituída em 2013, a UniBrad obteve em abril, em Paris, o The GlobalCCU Awards 2017 de melhor universidade corporativa do mundo.

Os modelos adotados nessas universidades envolvem cursos presenciais e a distância, recursos digitais interativos, treinamentos virtuais e games, entre outras tecnologias, podendo ser desenvolvidos em parceria com instituições tradicionais de ensino. Os cursos são direcionados a todos os funcionários e podem ser obrigatórios ou facultativos. Na EY, as aulas presenciais preenchem 75% dos cursos da EYU, mas há um avanço na direção do on-line. “As novas gerações têm ritmos diferentes de aprendizagem e nós precisamos acompanhar isto”, afirma Armando Lourenzo, diretor da EYU, que recebeu prêmios nacionais e estrangeiros de melhor universidade corporativa.

Ele conta que a EYU criou uma área especialmente para trabalhar com a metodologia digital, envolvendo vídeos interativos nos quais as pessoas definem os caminhos que vão percorrer, cursos de realidade virtual para mostrar aos funcionários a disruptura digital que está ocorrendo no mundo, serviços de robótica, analytics etc. A empresa, que destina 4,75% de suas receitas para a universidade, estuda também o uso de inteligência artificial em seus cursos, voltados para o aprendizado transversal focado em liderança, comportamento e gestão, entre outros.

Todo este ecossistema fez com que as universidades entrassem na esfera da tomada de decisões das próprias corporações. No Bradesco, Glaucimar diz que a UniBrad está inserida em muitos comitês executivos e participa das definições estratégicas do banco. “O grande desafio das universidades corporativas hoje é identificar as futuras competências, aquelas que a gente nem sabe que precisa treinar. O mundo muda muito rapidamente e precisamos descobrir antes como preparar o profissional que será necessário para nossos negócios”, diz Lourenzo.

A Isvor, da Fiat Chrysler Automobiles Latam, participa “da tomada de decisão em uma nova economia, junto com as lideranças e executivos do grupo”, diz a diretora da universidade, Márcia Lúcia Naves. Pioneira, com 22 anos de atividades, a Isvor se ajustou às mudanças ocorridas no setor, onde a automação marcou o sistema de produção nos últimos anos. Hoje, entre as competências prioritárias estão a de “networker”, aquele que não tem todo o conhecimento, mas sabe onde encontrá-lo e fazer conexões; o “maker”, capaz de usar a tecnologia disponível, como a impressão 3D, para fazer, criar algo; o “hacker”, que questiona o status quo e busca soluções inovadoras; e o “explorer”, que busca novos horizontes para alcançar a estratégia pretendida. “A gente acredita que estas quatro ‘personas’ fazem parte desta nova economia e queremos trazer estas competências para dentro da organização”.

Em âmbito geral, o número de empresas com universidades cresceu 14% em 2016, segundo pesquisa da Deloitte. Mas o tempo dedicado aos treinamentos caiu de 43 para 25 horas/ano. Para Marcelo Natale, sócio-líder de educação empresarial da empresa, o resultado reflete a economia. “Em momentos de crise, muitas empresas que pareciam ter incorporado a educação em sua cultura, fazem dela a primeira área a ter cortes de investimentos”, diz Marcos Baumgartner, da Associação Brasileira de Educação Corporativa.

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