“O problema do financiamento pode ser administrado”, afirma especialista americano sobre as políticas de crédito estudantil no Brasil

 

Michael Crawford, do Banco Mundial, disse ainda durante o 12º FNESP que o setor pode ser privado, mas atende a uma demanda que é pública

 

 

Especialista em educação sênior para a América Latina do Banco Mundial  e integrante da equipe que formulou, há 12 anos, conceitos sobre o ensino superior e financiamento estudantil, o americano Michael Crawford fez uma análise sobre as mudanças do crédito estudantil na última década, durante a palestra de abertura do segundo dia do 12° FNESP – Fórum Nacional do Ensino Superior Privado, que acontece no Hotel Jaraguá, em São Paulo, até hoje.

 

“Dez anos depois é possível ver os avanços e desafios. Mas é preciso entender que o problema do financiamento pode ser administrado, desde que haja equilíbrio em quatro pilares fundamentais: acesso, qualidade, relevância e igualdade. Se um único objetivo desses falhar, vai desequilibrar o conjunto”, alerta.

 

Segundo Crawford, o Brasil vem se saindo muito bem no ensino superior privado, impulsionando toda a América Latina, mas ainda abaixo dos índices internacionais e com necessidades reais de triplicar a população universitária nos próximos anos.

 

“O Brasil ainda não conseguiu atingir os alunos mais carentes. Apesar de contar com programas como o Fundo de Financiamento ao Estudando de Ensino Superior (FIES), que cresceu rapidamente mas ainda modesto (dos 100 mil novos contratos prometidos para 2010, somente 35 mil foram concretizados) e ProUni (Programa Universidade para Todos) tentarem, ainda estão longe de atender a totalidade dos estudantes. Infelizmente, isso reflete a desigualdade social existente no país”, avalia.

 

Sobre o Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes (Enade), o especialista americano afirma que reforça um modelo de educação que não é o ideal. “O Enade não é o que queremos para um modelo de educação superior, já que as instituições precisam se diferenciar uma das outras, mostrar transparência e um objetivo específico para solicitar o financiamento enquanto a avaliação é genérica”.

 

Crawford enfatizou que o setor pode ser privado (hoje é responsável por 75% dos matriculados no Brasil), mas atende a uma demanda pública e, por isso, a grande importância do financiamento. “Não podemos esquecer que programas de financiamento estudantil precisam ser subsidiados e que devem baixar os juros, mas não eliminar as taxas. Programas privados de financiamento, mesmo em países ricos, têm um sucesso relativo. A Colômbia, por exemplo, tem 300 mil empréstimos por ano”.

 

Para o especialista, programas criativos podem ajudar a fechar a conta dos financiamentos estudantis, como os que identificam alunos promissores e oferecem bolsas, passando por bancos privados, e por exemplos como na Austrália que oferecem empréstimos descontados diretamente na renda do estudante depois de formado.  “Não há uma fórmula ideal, mas é preciso dialogar e envolver-se nas políticas educacionais, ter modelos confiáveis de acreditação e certificação, e principalmente, as instituições conhecerem o seu papel na sociedade”, finaliza.

 

O 12° FNESP – Fórum Nacional do Ensino Superior Privado, está discutindo os desafios do setor na próxima década, com a presença de educadores nacionais e internacionais.

 

 

O americano Michael Crawford (foto), especialista em educação do Banco Mundial, afirmou ao se referir às políticas de crédito estudantil brasileiro, durante o 12º FNESP, que o setor pode ser privado, mas atende a uma demanda que é pública