A professora da Fatec, Cristina Ares Elisei, moderou debate sobre o uso da IA na esfera acadêmica

O surgimento do ChatGPT no final de 2022 se transformou em um marco da evolução das IAs conversacionais que possibilitam a geração de todos os tipos de textos, inclusive acadêmicos. Com um bom estilo e conteúdos coerentes, a novidade tem gerado discussões, em especial relacionadas à autoria e originalidade dos textos e como a ferramenta pode afetar o desenvolvimento de processos cognitivos de estudantes, por exemplo.

Para debater o tema, o Semesp e a MetaRed TIC Brasil, realizaram nesta terça, 6, o webinar Integridade e o futuro da escrita acadêmica, com participações do professor do Departamento de Design da UFPE, André Neves, e de Rafael Carpanez, da Turnitin Brasil. O webinar contou com falas na abertura da presidente do Semesp e da MetaRed TIC Brasil, Lúcia Teixeira; do diretor de Inovação e Redes do Semesp e secretário-executivo da MetaRed TIC Brasil, Fábio Reis; e do coordenador do GT de Tecnologias Educacionais da Metared TIC Brasil e Professor na Unicamp, Marco Antonio de Carvalho.

André Neves começou as discussões decretando que o futuro não é uma opção. “Ele vai chegar de qualquer jeito, mesmo se não fizermos nada”, acrescentou. “Ainda assim, temos visto um contexto em que insistimos em viver no passado. Às vezes, por exemplo, tenho a impressão que muitas portas das salas de aulas das IES são portais para o passado”, lamentou. “A escola é um ambiente de descobertas, não de ensinamos do que já se sabe. Ela deveria ser um espaço em que todos aprendem juntos, alunos e professores”.

Em seguida, André Neves destacou 13 pontos para aplicar estrategicamente a união entre a tríade de inteligências individual, social e artificial. “Essa união é um mecanismo para se entender o novo; não é só a inteligência artificial, mas a integração entre tipos diferentes de inteligência”, disse ele citando que:

– precisamos reconhecer que essas inteligências coexistem e se complementam, uma não substitui a outra;
– é necessário o respeito à inteligência individual, ela é base dessa tríade;
– é fundamental a promoção da inteligência social, que é o motor que articula e movimenta a tríade;
– deve-se aproveitar de modo responsável a inteligência artificial, que deve ser utilizada de forma ética e segura;
– as três inteligências devem ser interdependentes;
– é preciso a defesa de um posicionamento inovador, que estimule o pensamento crítico, a resolução de problemas e a inovação;
– a promoção da ética digital é importante, com respeito a valores fundamentais e a leis que regem o contexto; não se pode discutir IA sem refletir também sobre direitos autorais, propriedade individual e coletiva, etc.;
– deve-se promover a utilização sustentável da tríade de inteligências de forma ampla;
– educação continuada é fundamental, com o reconhecimento da relevância de habilitar pessoas a partir desta tríade;
– deve existir um claro foco na humanidade e nos resultados de amplo aspecto coletivo;
– é necessário a promoção da igualdade por meio da criação de um ambiente seguro que permita que todos tenham oportunidades, independente de origem, gênero, raça ou qualquer outra característica;
– estamos diante de um futuro já presente, então é necessário antecipar tendências, identificar desafios e aproveitar oportunidades emergentes;
– e é importante que haja um cuidado no processo de inclusão universal, estimulando o acesso e a participação de todos nessa tríade de inteligências.

O professor da UFPE finalizou afirmando que estamos vivendo uma “zona de desenvolvimento figital” onde o físico é expandido pelo social e digital. Pessoas de diferentes localidades estão construindo conhecimentos juntos integrando os três tipos de inteligência. A inteligência artificial não é uma opção, é um fato e não dá para negá-la, precisamos aprender a lidar com ela de forma integrada”, finalizou.

Confira o webinar na íntegra

Usos da IA nas IES

Rafael Carpanez, da Turnitin Brasil, afirmou que o mercado tem se preocupado muito com a aplicabilidade do ensino que os estudantes estão recebendo, em especial em relação às habilidades que serão demandadas nos futuro, como uso pleno de tecnologia, integração de projetos digitais etc. Em relação à utilização da Inteligência Artificial pelos alunos, Carpanez apresentou o outro lado da moeda, como a tecnologia pode auxiliar docentes a identificar o uso de IA em textos e trabalhos.

“Em abril de 2023, por exemplo, lançamos recursos em nossas plataformas de integridade acadêmica que detectam o uso de IA como o ChatGPT e similares, mostrando o quanto do texto foi escrito por tecnologia e não pelo aluno”, explicou. Outro recurso apresentado por Rafael Carpanez faz uma análise semântica dos textos enviados pelos alunos, com a possibilidade de cruzamento de dados entre diferentes trabalhos.

Segundo ele, com a introdução do ChatGPT e ferramentas similares, existe a necessidade da criação por parte de IES e docentes de uma política de integridade acadêmica com diretrizes que reflitam a questão. “O primeiro passo é examinar a atual política de integridade acadêmica”, aconselhou. “Estabelecer um glossário comum para que todos falem a mesma língua. Estabelecer também o que é um uso ético ou não dessas ferramentas”, acrescentou. “É preciso comunicar as possíveis mudanças na política de integridade acadêmica e determinar a implementação dessa política para colocá-la em prática”, finalizou.

Confira webinar na íntegra