Diretor da Ideal Invest aposta no crédito universitário para expandir o acesso ao ensino superior. A conclusão se baseia na pesquisa que traça cinco perfis de estudantes com potencial para a graduação

por Luciene Leszczynski | fotos Gustavo Morita

187_28 Numa pesquisa, recentemente divulgada pela Ideal Invest, 71% dos entrevistados reconheceram que fariam uso de algum tipo de financiamento para pagar a faculdade.

O índice chamou a atenção também porque, mesmo simpáticos à alternativa de crédito, grande parte dos estudantes que participou do levantamento manifestou falta de conhecimento sobre todas as opções de financiamento e bolsas que possibilitam o acesso ao ensino superior.

Além disso, a partir do levantamento foi possível traçar cinco perfis de candidatos ao ensino superior, permitindo desenvolver estratégias mais específicas para a divulgação e ampliação do acesso à faculdade por meio do crédito estudantil.

Para comentar a pesquisa, a revista Ensino Superior conversou com Rafael Baddini, diretor de Marketing e de Produtos da Ideal Invest. De acordo com Rafael, os dados do levantamento confirmam o que também é verificado nas matrículas do Enem, em que cerca de 70% dos estudantes usam a prerrogativa de isenção da taxa de inscrição. O levantamento foi realizado a partir de entrevistas realizadas com 600 pessoas em todo Brasil provenientes das classes A, B e C, com idade entre 16 e 30 anos e autodeclaradas com restrição financeira para pagar a faculdade.

Ensino Superior: Segundo a pesquisa encomendada pela Ideal Invest, mais de 70% dos jovens cogitam ajuda financeira para pagar a faculdade. Que análise você faz desse índice tão significativo?
Rafael Baddini: O dado mostra que há uma demanda enorme por financiamento ou por algum tipo de ajuda para pagar a faculdade. Esse foi justamente um dos resultados da pesquisa. Outro fator que corrobora isso se refere ao número de matriculados no Enem, que no ano passado teve 70% dos cerca de sete milhões de candidatos isentos da taxa de inscrição no exame, com a prerrogativa de serem alunos oriundos de escolas públicas. Em suma, esses são dados que confirmam a visão de que grande parte da população hoje precisa de ajuda financeira para poder fazer a faculdade.

Que impacto isso traz para o setor?
O primeiro impacto é o aumento do número de matrículas no ensino superior. No ano passado, o Fies bateu o número de cerca de 560 mil alunos novos, num total de financiamentos concedidos para mais de um milhão de alunos. E, se considerarmos só os alunos que entraram numa faculdade no setor privado de ensino superior presencial, verificaremos que mais de 30 por cento desse público o fez com algum tipo de financiamento. Além disso, na base do ensino superior privado também temos 30 por cento dos que estão estudando com algum tipo de auxílio financeiro, enquanto que há quatro anos o índice de financiamentos era quase zero. O fato de as pessoas estarem pensando e utilizando mais o recurso do crédito significa uma mudança de mentalidade que está contribuindo para mudar também a dinâmica do setor. Mais de 80 por cento dos alunos que utilizam o PraValer têm algum subsídio nos juros oferecidos pelas instituições de ensino.

A pesquisa também indica que os jovens estão cientes da necessidade de ter uma graduação superior para ascender social e economicamente, deixando em nono lugar a preocupação com o valor da mensalidade. Como vocês interpretam esses dados?
Talvez o fator mais importante aqui seja o próprio financiamento propiciar a decisão de fazer a faculdade pretendida, independentemente de quanto isso vai custar. O aluno vai se preocupar de fato com os benefícios que aquilo vai representar para ele no futuro e a qualidade que determinada faculdade vai lhe agregar. No final das contas, com a presença de opções de crédito no mercado, a gente verifica que o que importa para o aluno não é o preço, mas sim a qualidade, seja qual for a definição que ele faz de qualidade.

Já a escolha do curso baseada na vocação ficou em sexto lugar no levantamento. Podemos dizer que isso explica os cursos mais procurados há décadas serem os mesmos ainda hoje?
Está relacionado ao retorno financeiro e à expectativa de se colocar melhor e mais rápido no mercado de trabalho. Essa é justamente uma característica de um dos cinco perfis identificados pela pesquisa: aquele que coloca a vocação à frente do sucesso financeiro.

E quais são esses perfis?
O primeiro traz o aluno que tem como meta fazer a faculdade. Ele se forma no ensino médio e já tem em mente que, de um jeito ou de outro, vai entrar na faculdade. O outro perfil é dos estudantes que veem a faculdade como um sonho a ser realizado. Normalmente esse aluno é o primeiro da família a cursar o ensino superior. No terceiro perfil os pré-universitários têm outras prioridades, ou seja, eles preferem financiar um carro, uma casa, ou assumem outros compromissos como casamento, família, viagem etc., o que os faz adiar a entrada na universidade. Num outro grupo, reúnem-se os que seguem à risca a orientação e o patrocínio dos pais. O último é aquele cara decidido na sua escolha, que normalmente quer entrar numa universidade pública e se prepara muito bem, faz cursinho, estuda bastante… Esse é o cara que geralmente escolhe a faculdade indicada por sua vocação.

Na sua opinião, como seria possível atender a todo o contingente que ainda está fora de uma graduação? Oferecendo mais financiamento?
Sim. Eu acho que a grande alavanca para o ensino superior crescer ainda mais é o financiamento. E nem é uma opinião só minha, acho que é de todo o setor, pois a gente vê praticamente todas as faculdades hoje crescendo à base de financiamento. Enquanto isso ainda temos uma parcela significativa de pessoas fora do ensino superior, e que provavelmente cursariam uma graduação se tivessem a oportunidade. Outro dado levantado pela pesquisa é que a falta de informação sobre como obter financiamento, ou mesmo sobre a possibilidade de tê-lo, inibe o acesso. Daí que vem o Portal do PraValer, como uma forma de divulgação dos meios de entrada numa faculdade.

Na sua opinião, o que seria preciso para que o financiamento privado fosse mais utilizado pelos estudantes?
Mais instituições subsidiando o crédito, pois, apesar de o crédito universitário privado ter uma taxa muito competitiva frente a qualquer outro crédito no país, e não haver securitização, frente ao Fies, que tem juros de 3,4 por cento ao ano, o crédito privado ainda enfrenta um abismo. Então é competitivo onde as instituições subsidiam parte ou totalmente os juros. Tanto isso é verdade que cada vez temos mais instituições subsidiando os juros para o aluno, somando hoje 80 por cento dos contratos.