A maior fusão do mercado educacional brasileiro, engendrada pela evolução do setor, tem ainda consequências incertas para a educação nacional. O negócio, porém, estabelece uma nova referência de gestão educacional

por Udo Simons

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Desde mudanças na legislação, em 1996, que propiciaram a transformação das instituições de ensino superior em empresas com fins lucrativos e a participação na bolsa de valores para a captação de recursos, o mercado educacional brasileiro experimenta um novo jeito de se organizar para oferecer acesso à formação universitária. De lá para cá, o setor viu pequenas e médias instituições se constituírem em grupos por meio de aquisições e associações para fazer frente à competitividade. Agora, essa ampliação ganha outros contornos.

Em nome do crescimento dois dos grandes grupos educacionais do Brasil, Anhanguera e Kroton, anunciaram sua fusão, constituindo o maior grupo educacional do mundo, duas vezes maior em valor de mercado do que a chinesa New Oriental, de valor estimado em US$ 2,9 bilhões. A união ainda deve passar pela aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o que deve ocorrer em até um ano. Analistas de mercado consideram que o negócio dificilmente não será autorizado.

Como é de praxe nesse mercado, a megafusão foi uma surpresa, mesmo que para quem acompanha de perto a movimentação do setor já fosse visível uma aproximação entre os principais players do segmento. Só não se sabia ao certo quem seriam os pares nesse novo momento do mercado educacional brasileiro.

Uma nova geração
À frente do Grupo Kroton Educacional S.A. e da Anhanguera Educacional Participações S.A., Rodrigo Galindo e Ricardo Scavazza, respectivamente, são a cara desse novo tempo do ensino superior. Foi a gestão arrojada, calcada em eficiência e resultados, impressa pelos executivos no comando das instituições que propiciou a aproximação das empresas, tornando os dois gestores peça fundamental no escopo dessa reviravolta educacional prestes a acontecer. Mas eles não são os únicos no centro desse movimento.

É impossível deixar de fora da idealização da gigante educacional a geração que os antecede, fundamental à concretização do negócio. Especificamente, Gabriel Mário Rodrigues, Antônio Carbonari Netto, Walfrido Silvino dos Mares Guia Neto, Evando José Neiva, Altamiro Belo Galindo, Marco Antonio Laffranchi e Elisabeth Bueno Laffranchi, que fizeram tradição como empreendedores educacionais, com longo histórico em sala de aula, em cargos de gestão ou como fundadores de instituições de ensino.

Em março de 2013, o acordo para fusão, na prática uma troca de ações entre os participantes, é selado pelos professores Walfrido e Gabriel, em uma reunião na capital paulista, duas semanas antes do anúncio. Depois, conta Galindo, o processo de constituição formal do documento indicando a intenção de fusão foi “rápido”.

Em todo o processo de interesse muitas análises de cenário foram feitas, encontros formais e informais realizados. A partir disso, a direção da Kroton avaliou ser esse o momento para uma investida maior no mercado e aquisição de ações da Anhanguera. Por outro lado, na Anhanguera, Scavazza também já recomendava ao conselho a realização do negócio. Faltava a definição da governança e revisão dos valores de mercado das instituições, questões resolvidas no encontro realizado duas semanas antes da divulgação da intenção de união.

Megainstituição
No momento do anúncio da fusão, em 22 de abril, as projeções de valor de mercado para as duas empresas somavam R$ 12 bilhões. Previsões indicavam um crescimento para R$ 13 bilhões. Ao passar um mês do anúncio o valor de mercado da megainstituição cresceu hiperbolicamente R$ 2,1 bilhões, chegando a R$ 14,1 bilhões. Aliás, hipérbole está por todos os lados nesse caso. Serão um milhão de alunos no ensino superior; 287 mil na educação básica. Haverá 123 campi no ensino presencial. Em EAD serão 687 polos. Vão ser 804 escolas associadas à educação básica. Haverá mais de dois mil cursos distribuídos pela graduação, especialização, mestrado e doutorado. Estará presente em mais de 500 cidades país afora. Para dar conta dessa estrutura, serão mais de 32 mil funcionários. Esses são alguns dos números que fazem dessa nova instituição a maior do mundo.

Os números que surgem da união reafirmam a força do setor educacional brasileiro como negócio e inserem as empresas entre as mais rentáveis no mercado produtivo. Mas a transformação do setor não para aí. Há aspectos pedagógicos e administrativos ainda não tão mensuráveis que também acarretarão mudanças, sobretudo pela inserção de mais pessoas na educação superior.

Para avaliar a magnitude dessas questões e seus impactos no setor educacional, a revista Ensino Superior conversou com os presidentes da Kroton, Rodrigo Galindo, e da Anhanguera, Ricardo Scavazza. Na entrevista exclusiva, que você confere a seguir, concedida ao repórter Udo Simons, os executivos mostram a nova cara da educação superior brasileira, comentam o que representa fazer parte da construção do maior grupo educacional do país e a sua relação com esse novo mercado.

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